Sempre imaginei que nossas inspirações fossem divinais

Peço que leia com o coração, porque será ele quem tentarei convencer.

Amigo leitor, creio que a origem das ideias há de ser divina. Uma vez ouvi uma história sobre um jovem pregador que contou sobre como Deus teria ensinado os seres humanos a falar. Dessa língua divinal e primordial, derivaram todos os idiomas atuais, sendo repassados à cada nova geração desde o início dos tempos. O jovem pregador afirmou ainda que, na falta de quem retransmitisse o dom da fala a um bebê, por experiência, a criança jamais poderia falar, mesmo quando na fase adulta.

A humanidade não se contenta em guardar somente para si os seus sonhos, desejos, amores e paixões, conhecimentos e sabedorias, pois sempre consegue um jeito para expressá-los, externalizando-os. Alguém pode nunca ter ouvido um som, uma nota musical se quer na vida, mas exprime-se e não é muda, os seus pensamentos mais íntimos são ouvidos e sentidas, as suas emoções assim que retratadas.

As Mil e Uma Noites

Uma personagem de um livro antigo, tornou-se heroína sem nunca ter levantado nada senão o timbre de sua voz.

Conta a história que em um reino havia um Sudão, o qual casara-se muitas vezes, e que no dia seguinte ao seu casamento, livrava-se com uma ordem de quem governa de sua recém-esposa. E é então que a nossa jovem heroína surge, chamada Sherazade. Uma linda mulher que caíra nas graças daquele rei e sabia que, após o casamento, só lhe restaria mais uma noite de vida ali diante daquela situação sufocante em que se encontrava.

Na noite de suas núpcias, ela tomou a liberdade e começou a conversar com o Sudão, iniciando uma história após outra de ação, mistério, drama, aventura, comédia, amor…

Numa época sem serviços de streaming, ela criou séries de histórias fascinantes contadas todas as noites até os primeiros raios de sol surgirem no oriente para o governante daquele reino.

O Sudão vinha até aquela mulher ansiosamente sempre ao findar do dia, somente para poder ouvi-la terminar a história da noite anterior e começar uma nova. Assim, 1001 noites passaram-se. Com efeito, o rei nunca mais quis se separar daquela inteligentíssima e encantadora mulher.

A humanidade foi agraciada ainda com o dom de gravar as palavras nos mais diversos meios, tanto físicos quanto virtuais. Fez símbolos, representou sílabas, fonemas, frases inteiras, criou linguagens e códigos. Com isso, os conhecimentos e as experiências continuaram a ser retransmitidos.

Dom Casmurro

Outra personagem, sem muitas qualidades heroicas dessa vez, narrou em um certo livro a sua própria história de vida.

História essa com dúvidas e reflexões sobre amor e traição que perduram mesmo décadas após sua publicação. De tão ardilosa e sábia que foi, conseguiu persuadir os leitores e fê-los brigarem entre si, por gerações, a respeito de uma suposta traição ao qual o nosso narrador teria sofrido por parte de sua esposa amada com o seu melhor amigo.

Deu pistas e mais pistas, onde umas levavam à certeza do ato consumado, enquanto outras levavam a inocência mútua dos acusados, resultando em um impasse. Enquanto o narrador nos conduz, leitores vorazes e ferozes, a tal discussão, ao mesmo tempo, sutilmente nos distrai quanto a si próprio.

Ora, no início da história recebe a alcunha de dom Casmurro dada a ele por um poeta irritado com a sua falta de empatia. Em outra parte da narração, questiona-se sobre quando a sua amada teria se transformado numa mulher em quem não pudesse confiar. Mas… e quanto a sua verdadeira natureza descrita nas entrelinhas, quando foi que o nosso personagem-protagonista-narrador e advogado [e doente de ciúmes] havia se tornado em casmurro e recebido o título de dom? Será que no início de sua narração ou será que bem antes disso, no início de seu romance juvenil, quando demostrou possuir inseguranças de um adolescente?

Perdera uma inteligentíssima e única mulher.

A verdade é que nem sempre alcançamos as respostas de nossas mais inquietas dúvidas e questionamentos. Graças a Deus podemos ter todo tempo do mundo ao viver eternamente debruçados sobre os textos mais diversos de infinitos autores, na tentativa de poder alcançá-las.

A Vida de Pi

E foi assim que outra sobrevivente personagem embarcou em um bote salva-vidas na companhia de alguns animais de zoológico.

Viveu à deriva no imenso mar por dias e mais dias. Sobrevivendo na companhia dos animais, suportando-os tanto quanto a. História tão absurda! Pois uma mamãe orangotango de modo algum apareceria flutuando por sobre uma penca de bananas até o bote.

Os investigadores da companhia de seguros jamais poderiam relatar isso de forma oficial em seu relatório final a respeito do único sobrevivente de um naufrágio em alto mar.

No entanto, o que se deveria fazer quando a verdade está escrita nas entrelinhas da experiência de quem relata? A forma de se contar uma história e de se montar um texto varia de autor para autor, alguns chegam a se assemelhar em estilos, usam técnicas e estruturas semelhantes; mas a experiência retransmitida possui uma assinatura, uma digital própria e única que revela o caráter do autor, do personagem, do narrador, do protagonista… tal qual do leitor (ao que tange a sua interpretação).

Os olhos são as janelas da alma. Se pudéssemos olhar, sem timidez e fixamente para dentro dessas janelas, então nossa comunicação seria mais clara e precisa, bem como empática.

O Pequeno Príncipe

Entender os sentimentos de alguém é outro verdadeiro dom, não só recebido como também repassado. Assim como na história de um principezinho que teve um encontro marcado com uma raposa.

Essa raposa lhe ensinou sobre o que é cativar. Aquele pequeno príncipe possuía dúvidas quanto ao verdadeiro amor. Foi-lhe ensinado que o tempo que se perde com alguém é que gera momentos dignos de cativar o outro.

Todas às vezes que ocorre mágoas e ressentimentos, os quais deixam o corpo carregado e com sobrepeso, somente a renúncia ao próprio eu (deixado para trás) por ambas as partes, aliada a um certo sacrifício, é que poderia consertar os erros do passado, as despedidas abruptas. Essa interpretação é mais minha. Isso tudo o principezinho aprendeu por conta de suas próprias experiências e encontros marcados com diversos personagens… Fez o que fez para que se reencontrasse com a sua orgulhosa e frágil rosa.

E assim…

Parece-me que há muita leitura ainda, muitas frases e ideias a serem anotadas. Enquanto houver luz e inspiração divinas, haverá vários textos a serem criados. Por isso, convido você, amigo leitor, a continuar neste bote cheio de figuras, e questionamentos, e inseguranças, e amores, e sonhos, rumo a um mar cheio de textos em busca de seus contextos. Se você já foi cativado pela leitura e pela escrita, então sinta-se à vontade para se fazer presente nesta aventura.

Acredito que escrever qualquer coisa que seja implica em se utilizar de poderes que contribuem com a arte: a observação, a capacidade de compreensão e a interpretação das coisas. Aqui, utilizei a arte da a literatura, com base em alguns livros de ficção que conheço, para me expressar. Sonho em me aventurar na arte de escrever e desejo poder retratar o mundo usando as palavras. Por isso, criei este blog simples e espero que goste. Ah, deem uma passadinha por aqui sempre que o próximo trem passar…

Até mais, amigo leitor!