imbu

pode parecer pedante ou só “tecnicamente verdade”, mas é mais que isso. não só a ordem cronológica é um algoritmo tanto quanto os ranqueamentos por cálculo de relevância das gigantes sociais, como também ela foi criada pelas mesmas redes sociais

algoritmo, a palavra, ficou popular pra descrever o que eu vou chamar a partir de agora de linha do tempo ranqueada: algoritmos de ranqueamento obscuros que as redes sociais passaram a usar para mostrar primeiro as postagens mais “relevantes” — sendo o problema justamente que o critério de relevância é obscuro e só conhecido internamente por quem administra a rede. nesse sentido, a ordem cronológica é melhor, pois o critério de ordenação é claro e óbvio: as postagens mais recentes aparecem primeiro

mas algoritmo se refere a qualquer conjunto de instruções para realizar uma tarefa. nesse sentido, tanto a linha do tempo cronológica quanto a linha do tempo ranqueada são dois algoritmos com a mesma finalidade: ordenar todas as postagens da rede numa lista de maneira linear. e, se parece que a linha do tempo ranqueada foi feita para manipular as pessoas e aumentar engajamento (leia-se, prendê-las o máximo de tempo possível na rede), a linha do tempo cronológica foi criada exatamente pelas mesmas redes sociais com exatamente o mesmo objetivo

a ordem cronológica não é o “estado natural” das postagens de uma rede social. não é um “não-algoritmo” nem o “padrão” de organização das postagens. as pessoas postam na rede, as postagens são armazenadas pelo servidor e é escolha do serviço o que fazer com essas postagens. exibir em uma lista todas as postagens vindas de todas as pessoas que você segue nem sempre foi o que as redes sociais escolhiam fazer

lembra do orkut? para quem não lembra, não existia um local chamado “linha do tempo” onde todo mundo postava tudo e onde todas as interações ocorriam. existiam os scraps, mensagens públicas de outras pessoas para você, que eram exibidas em ordem cronológica (do mais recente para o mais antigo) e existiam as comunidades, que funcionavam como fóruns, com uma lista de tópicos (exibidos do mais recente para o mais antigo) e, dentro dos tópicos, as mensagens apareciam também em ordem cronológica, mas primeiro as mais recentes e depois as mais antigas

não existia nenhum lugar que reunisse todas as postagens dos seus amigos numa linha do tempo

quem decidiu listar toda a atividade da rede em um só lugar em ordem cronológica, tornando isso o normal e esperado de qualquer rede social foram o facebook, com o “news feed”, e o twitter, que desde o começo é assim. e o motivo, como foi dito ali em cima, é sempre o mesmo: aumentar o engajamento

uma coisa é você escrever uma mensagem e ela ficar ali, em um lugar que é visível apenas para quem vai procurar. para interagir com outras pessoas você precisa mandar uma mensagem diretamente para elas ou então ir para um fórum específico sobre o que você quer falar e interagir com as pessoas ali. a descoberta de mensagens fica bem mais difusa, nem todo mundo fica sabendo na hora de todas as conversas que estão acontecendo. a atividade na rede se restringe a quem está no local e está envolvido

outra coisa é você mandar uma mensagem que vai ser anunciada para todas as pessoas em tempo real. ter um único local onde você vê, o tempo inteiro, toda a atividade das pessoas na rede. o tempo inteiro a rede te notifica de qualquer coisa que alguém falou ou fez. a massa de interações fica toda em um lugar só, fazendo que que os acontecimentos na rede fiquem para trás com uma velocidade muito maior, enterrados por novas postagens que chegam o tempo inteiro

(isso sem falar em todos os mecanismos de interação instantânea que dispensam o esforço de escrever uma resposta)

esse aumento na velocidade dos acontecimentos tem várias consequências. a mais óbvia é que isso aumenta a interação (o engajamento) entre as pessoas na rede, já que todo mundo vê tudo o que está acontecendo o tempo inteiro. mas, além disso, isso causa a sensação de medo de perder algum acontecimento ou de ficar para trás, já que tudo se torna muito mais efêmero; um assunto do dia anterior pode já ser assunto velho no dia seguinte. isso cria um estímulo de postar muito e com frequência, já que uma linha do tempo cronológica faz com que tenha mais visibilidade (e receba mais atenção) quem posta mais e também cria um estímulo de se manter na rede aguardando interações, já que você tem que responder o mais cedo possível para evitar que o assunto se perca

ou seja: não só a linha do tempo cronológica estimula o aumento de atividade da rede (por expor mais quem posta mais), como também estimula a permanência na rede (por punir quem se atrasa nas interações). a linha do tempo cronológica te estimula a estar sempre disponível para a rede

e isso tudo sem ranqueamento obscuro


é claro que o ranqueamento é mais eficiente em controlar as pessoas na rede, já que ele calcula as postagens que vão induzi-las mais à interação (engajar mais). mas a linha do tempo cronológica é fruto do mesmo projeto de manipulação psicológica para sugar o máximo de tempo dos usuários. a linha do tempo ranqueada, chamada de “o algoritmo”, é apenas um refino nesse projeto, não o início dele.

muita gente que chega no mastodon e fica feliz de “não ter algoritmo” por não ter uma linha do tempo ranqueada, mas tem algoritmo, sim. feito com o mesmo objetivo de prender o usuário, inclusive. a única diferença é que é um algoritmo mais antigo e menos danoso que os algoritmos que as gigantes sociais usam

é importante entender que o mastodon é fruto de um padrão de redes sociais definido pela mesma indústria de tecnologia contra a qual ele se coloca. não acredito que eugen tenha feito o mastodon do jeito que é deliberadamente para manipular os usuários. é só que as gigantes da tecnologia determinam o que se espera como básico de uma rede social e ele apenas seguiu isso. as pessoas também se atraem por uma rede social que se parece rede social, então a linha do tempo cronológica não só é normal e esperado, como na verdade até destoa das gigantes sociais, que já trabalham todas com “o algoritmo”

e isso acaba ofuscando o fato de que grande parte do que é, em si, o que reconhecemos como “rede social” é parte de um projeto de manipulação psicológica para roubar o tempo das pessoas para lucro próprio. e que coisas como o conceito de “linha do tempo” e até “curtidas” são parte desse projeto. mesmo que não sejam implementadas com esse objetivo por alguém em específico, esses conceitos foram desenvolvidos para isso

entender isso é fundamental para podermos avançar no desenvolvimento de interações mais saudáveis entre pessoas na internet e para saber como interagir com o que temos. uma rede descentralizada longe das mãos da indústria de tecnologia é um grande passo, mas precisamos dar os próximos passos

(traduzido e adaptado de @skye@mastodon.lol)

DORMIR É BOM

DORMIR É IMPORTANTE

DORMIR É MAIS IMPORTANTE QUE QUALQUER ESTUDO OU TRABALHO

e o fato de que somos forçados a abrir mão de nosso sono para cumprir nosso dever para o capital é uma imensa injustiça e um risco à saúde

falta de sono obviamente aumenta níveis de estresse e, por isso, o risco de todo tipo de doença, mas também causa danos a seu cérebro num nível celular porque DORMIR MANTÉM A INTEGRIDADE DE SEU CÉREBRO

esteja ciente também de que todo mundo tem seu próprio “relógio biológico” e seu próprio ritmo circadiano – o que significa que o corpo de cada pessoa tem momentos específicos em que quer estar dormindo

ajustar esses horários por meios externos, o que normalmente é conhecido como “higiene do sono” (níveis de luz, níveis de atividade, interações sociais, estímulos cognitivos, comer/beber, ...), é normal e até necessário para dormir no horário. a maioria das pessoas faz isso sem nem pensar, outras precisam se esforçar

mas “treinar” seu relógio biológico tem limites

nem todo mundo tem a capacidade física de treinar o corpo para dormir na hora desejada

e algumas pessoas conseguem, mas dormem muito mal nessa hora

basicamente... dormir numa hora não convencional não é “preguiça” ou “esquisito”, é apenas uma variação humana perfeitamente normal e SURPREENDENTEMENTE COMUM. e é fácil imaginar os benefícios evolucionários dessa variabilidade

vários estudos foram feitos e concluíram que pessoas que dormem tarde dormem pior, têm desempenho pior, se estressam mais etc, mas nenhum dos que eu já vi mencionou, que dirá examinou, o efeito das normas e expectativas sociais relacionadas ao sono, então eu acho todos eles questionáveis

principalmente porque muitos deles não só não corrigem, como, em sua metodologia e sua análise, reproduzem e reforçam a estigmatização de horários de sono “indesejáveis”

isso é, mais uma vez, um caso da comunidade médica* reforçando estigmas contra variações fisiológicas normais

quantos médicos te falam que basta dormir mais cedo e que dormir tarde faz mal? é a mesma merda de sempre

eu estou aqui pra te falar que seu corpo sabe do que precisa, e se você ouvir os sinais dele e dar o tanto de sono que ele precisa na hora que ele precisa, você está fazendo a coisa certa

fora distúrbios médicos muito específicos, não existe “sono demais”

sabe quando falam que “dormir demais é tão ruim quanto dormir de menos”?

men. ti. ra.

dormir pouco = seu cérebro não tem o tempo que precisa para reparar os neurônios, degradando sua função cognitiva, sua memória, seu controle de impulsos, sua regulação emocional

dormir muito = sei lá??? acho que dá dor nas costas???

inclusive, “dormir demais” muitas vez é na verdade só seu corpo tirando o atraso do sono perdido. de virote por causa da universidade? saiu depois do fim do expediente e dormiu 4 horas antes de ir pro trabalho? ficou sem dormir por causa de uma indigestão? SEU CORPO VAI PRECISAR DESSE SONO DE VOLTA

é perfeitamente normal dormir muito mais que o de costume por SEMANAS depois que você teve que restringir seu sono por um tempo

então, resumindo

  • durma a hora que quiser, o quanto quiser
  • dormir em horas diferentes são uma variação humana normal
  • dormir demais não faz mal
  • cochilar é bom
  • domir é O fator mais importante para manter seu cérebro funcionando
  • variações na hora de dormir são patologizadas artificialmente
  • elas se transforma em deficiências porque desviam da norma aceita. ver: modelo social da deficiência

se você tem filhos: deixe eles faltarem a escola para tirar o atraso do sono

se você é adulto: permita-se faltar o trabalho para tirar o atraso do sono (eu sei que nem sempre é possível, mas DEVERIA porque é NECESSÁRIO)

se você não consegue dormir o suficiente à noite: permita-se cochilar copiosamente

se você ver que foi marginalizado por padrões e necessidades de sono fora do comum: não é culpa sua. eu vou falar de acessibilidade temporal em outro momento

nossa sociedade é construída de uma forma que favorece pessoas cujo ciclo circadiano natural inclui dormir cedo

essas pessoas conseguem chegar a posições de poder e influência. todo o resto tem muita carência de sono pra alcançar e/ou tem que se enfiar em trabalhos incomuns que se encaixem em seu sono

e aí os médicos que definem o que é “saudável” acabam sendo os que dormem cedo

os chefes definem os horários de trabalho também

os políticos criando as leis de gerenciamento de horário também

o sistema se reforça


PS a QUANTIDADE de sono que uma pessoa precisa individualmente também varia. normalmente eu vi dizerem que entre 6-10 horas é normal, mas quando doenças, estresse, remédios etc estão presente, pode ser mais que isso

claro que chega uma hora em que narcolepsia/hipersonia/apnéia etc devem ser levados em consideração... mas se você se sente bem depois de 12 horas e os exames tão ok, talvez esse seja simplesmente o tempo de sono que você precisa

não somos iguais e temos que parar de esperar que todos sejam


este texto é uma tradução e adaptação dessa thread: https://mastodon.lol/@skye/109366820345176786

(último post: https://mastodon.lol/@skye/109367383781196869)

*nota do tradutor: porra, como traduz medical establishment sem pegar establishment emprestado?

  • comes to mastodon after some twitter bullshit
  • starts interacting, loves the less toxic environment
  • realizes mastodon won't generate the views/engagement/numbers that they need
  • abandons mastodon

each migration cycle confirms this pattern

this isn't even a criticism to content creators. i don't think there's any fault in their part

twitter (and any other social network, actually) is based on the illusion that the influencer uses the network in the same way a normal user does. however, for them, the network is actually a work tool and they need to generate engagement — which, at the end of the day, involves being the center of common user interactions

in practice, there are two classes of user: the normal ones and the influencers; and the interactions in the network are almost always vertical (and unilateral) between the two. the job of the content creator, whatever his size, is being the center of the interactions and making numbers. they work as part of the influencer class and needs this to sustain themselves

in mastodon, there's no such class distinction. interactions over here are decentralized and horizontal. this is why, even with an absurdly smaller number of users, people report they have much richer interactions over here than over twitter

the consequence is that the content creator comes to mastodon, tries to use it as a work tool and simply cannot. when they realize there's no way to do so, they bounce because they need to work

it's not their fault. they need to work. it's a simple reality in the structure of the social giants that can be hard to see until you step out of them and into a social network that's organized in a radically different way. content creators come hoping to find a healthier work environment and find out, using it, that there's no work to be found here

this is always what happens when someone famous arrives to mastodon and it will keep happening


p.s. this text is somewhat of an answer to someone on mastodon who was worried about monetization, but i didn't reply directly in his thread because i wanted to talk about this for a long time

my response to him is that there's no need to worry about monetization in the fediverse because the very structure of the network puts the idea of “content creator” as a profession into question


(this text is a translation from portuguese of this: https://write.as/imbu/o-ciclo-do-criador-de-conteudo-no-mastodon)

elas estão acostumadas a ter ciúmes de qualquer mulher que tenha contato com o parceiro, pois toda mulher é uma traição em potencial porque “homem é assim”. isso dá uma certa segurança, pois basta desconfiar de outras mulheres pra garantir seu homem. amizade, só de homem

já o homem bissexual mete muito medo, porque essa segurança se dissolve completamente. agora os homens também são traições em potencial. ela entra em parafuso. e agora? não tem como garantir um homem que é impossível de restringir com quem ele tem amizades. ele vai me trair com certeza

o que está implícito: homem de verdade trai. ele não consegue se controlar. mas o homem hétero pelo menos não consegue se controlar com metade das pessoas. com outros homens ele vai ter um relacionamento de no máximo se abraçar meio de lado com cuidado pras rolas não se tocarem e se abrir emocionalmente só em dia de jogo. fica como tarefa da mulher controlar o homem dela, trabalhar pra sempre despertar o interesse dela e ele não ficar procurando prazer na rua. se acontecer, é natural de homem e na verdade foi culpa da mulher por não ter conseguido prestar atenção no homem e segurar ele

o relacionamento hétero é baseado na desconfiança e no medo constante da mulher e na irresponsabilidade emocional do homem. o único aspecto de segurança e controle é a heterossexualidade tóxica do parceiro

o homem bissexual bagunça essa dinâmica e tira a mulher hétero da zona de conforto dela. e ela rejeita o homem bi porque não encontra nele a mesma ilusão de segurança tóxica que vê no homem hétero

isso diz mais sobre o tipo de sofrimento ao qual nossas mulheres estão habituadas e acham normal do que diz sobre os homens bissexuais

  • vem pro mastodon depois de alguma merda no twitter
  • começa a interagir e adora o ambiente menos tóxico
  • percebe que o mastodon não gera engajamento/view/os números que ele precisa
  • abandona o mastodon

cada novo fluxo de migrações confirma esse padrão

isso não é nem uma crítica aos criadores de conteúdo. não acho erro da parte deles

o twitter (e qualquer outra rede social, na verdade) funciona com base na ilusão de que o influenciador usa a rede do mesmo jeito que um usuário normal, mas a rede pra ele na verdade é um instrumento de trabalho e ele precisa gerar engajamento — o que, no fim das contas, envolve centralizar as interações com usuários comuns

na prática, existem duas classes de usuário: os comuns e os influenciadores; e as interações na rede são quase sempre verticais (e unilaterais) entre esses dois. o trabalho do criador de conteúdo, qualquer que seja o tamanho dele, é centralizar interações nele e fazer números. ele trabalha como parte da classe de influenciadores e precisa disso pra se sustentar

no mastodon, não existe ainda essa separação de classes. as interações aqui são descentralizadas e horizontais. é por isso que, mesmo com um número absurdamente menor de usuários, as pessoas relatam que elas interagem muito mais por aqui do que no twitter

a consequência disso é que o criador de conteúdo vem aqui, tenta usar o mastodon como ferramenta de trabalho e simplesmente não consegue. quando ele percebe que não tem como, ele vaza porque precisa trabalhar

não é culpa do criador de conteúdo. ele precisa trabalhar. é simplesmente uma realidade na estrutura das gigantes sociais que não é tão fácil de ver até você sair delas e ir pra uma rede que é organizada de uma maneira radicalmente diferente. eles chegam na esperança de ir para um ambiente de trabalham mais saudável e descobrem, usando, que não tem como eles trabalharem aqui

sempre é o que acontece toda vez que alguém famoso chega no masto e vai continuar acontecendo


p.s. esse texto é meio que resposta a uma pessoa no mastodon que tava se preocupando com monetização, mas eu não respondi na thread dele porque eu já tava querendo falar disso há um tempo

a resposta pra ele é que não precisa se preocupar como monetização no fediverso porque a própria estrutura da rede questiona a ideia de “criador de conteúdo” como uma profissão


(texto adaptado dessa thread: https://masto.donte.com.br/@umbu/108329360795128772)

william bonner: boa noite

renata vasconcellos: boa noite

bonner: hoje vamos dar início à série de sabatinas que faremos durante essa semana com os candidatos à presidência da república nas eleições de outubro de dois mil e vinte e dois

renata: e para dar abertura a essa série, vamos entrevistar o atual presidente e candidato à reeleição: jair bolsonaro

jair bolsonaro: cara de cu

bonner: a sabatina funciona da seguinte maneira: nós começamos com uma pergunta e, a partir do momento em que finalizamos a pergunta, o candidato tem, então, quarenta minutos para ser sabatinado. durante esse tempo, vamos questionar as declarações do candidato e suas propostas, fazendo interrupções, se necessário. ao nos aproximarmos do final, daremos espaço para o candidato fazer suas considerações finais e estará encerrada a sabatina

renata: primeiramente: sr. presidente, muito obrigada pela presença nos estúdios globo e por disponibilizar tempo para esta sabatina

bolsonaro: sorrisinho amarelo de canalha eu que agradeço pela oportunidade, renata

bonner: presidente, seu governo foi marcado por diversas declarações controversas e ofensivas, até consideradas desrespeitosas por muito setores da sociedade. você já se pronunciou abertamente contra a luta lgbtqia+, contra os direitos dos indígenas, contra quilombolas, contra políticas afirmativas, desde o primeiro dia de seu governo — e até antes disso — e continua fazendo até hoje

bolsonaro: interrompendo de que tipo essas declarações que cê tá falando aí?

bonner: brevemente confuso

bonner: ...como por exemplo, quando você insinuou que quilombolas são preguiçosos e comparou eles com gado, dizendo que são “pesados em arrobas”

bolsonaro: kkkkkk

bonner: ...

renata: ...

bolsonaro: quando eu falei que o menino afeminado tem que levar umas porradas pra virar homem também, né?

bomner: confusão total

renata: então você confirma todo o teor dessas declarações? confirma que você realiza ataques rotineiros a setores marginalizados e vulneráveis da sociedade brasileira?

bolsonaro: e eu vou mentir, porra? tá tudo filmado aí

bonner: mas você não acha que esse tipo de discurso acaba causando polarização? esse ódio não pode causar um caos social e uma onda de atos de violência por pessoas preconceituosas que se sentem no direito de ditar a vida de outros cidadãos brasileiros?

bolsolaro: e você quer que eu faça o quê, porra?

alguns segundos de silêncio no cenário. bonner e renata olham com certo choque para bolsonaro

bolsonaro: você

bolsonaro: quer

bolsonero: que eu faça

bolsonazo: O

bolsooslob: QUÊ?

a voz de bolsonaro ecoa pelo cenário. silêncio. alguns funcionários se viram pra tentar entender

renata: tentando se recompor ...queremos que os direitos de todos os brasileiros sejam respeitados. vivemos em uma democracia representativa e a constituição garante a todos e todas o direito de não sofrer discriminação, independentemente de gênero, orientação sexual, cor, crença religiosa e origem. o presidente de um país de 220 milhões de brasileiros, oriundos de realidades drasticamente diferentes umas das outras, deve representar todos os brasileiros e brasileiras — inclusive os brasileiros mais vulneráveis

bololololol: ahh risadinha escrota de canalha cheirador de cloroquina então era pra eu chegar aqui e o quê? começar a falar que “nãão, que eu respeito as minorias e não sei o quê”, todo cheio de pompa... “lgbt” isso, “indígena” aquilo... pra quê? tão achando ruim por quê? olha tudo o que eu fiz no meu governo

boomer: ...

henata: ...

o caga-calça: privatizei a eletrobrás, privatizei um monte de subsidiária da petrobrás, vou privatizar ela todinha e ainda mais se eu for reeleito. meus governadores também tão privatizando um monte de empresa estatal, já privatizaram a cedae aqui no rio. não é isso que a globo sempre quis? vocês não mostrar o tempo todo reportagem mostrando a ineficiência do setor público?

boner: ...

hentai: ...

bixo-lixo: eu tô cortando o dinheiro das universidades todinho! tô cortando todo gasto que dá em universidade e pesquisa... já estudei acabar com o sus, pô! vocês amam falar como o sus é uma bosta, falam o tempo inteiro de fila em hospital, que falta isso e aquilo e como é uma vergonha. até em programa de comédia vocês falam mal do sus. aí eu chego com paulo guedes e já proponho privatizar todo o sistema de saúde do país e vocês me acham ruim?

bonner e renata seguem calados. uns segundos de silêncio enquanto bolsonaro olha pra eles com os olhos fixos, levantando as sobrancelhas e dando de ombros balançando a cabeça semi-boquiaberto em seguida

bombocado: ...eu fiz já tanto... tanto pelo agronegócio! não demarquei mais porra nenhuma de terra indígena, acabei lá com aquele estoque de grãos. nunca o agronegócio lucrou tanto quanto no meu governo. o agro é o quê, renata

renata: ...

bolsonaro: o agro é O QUÊ, renata?

renata: cabeça baixa e falando pra dentro ...é po-

boblaoqefcd: É POP, porra! vocês vivem falando aí no intevalo comercial! e vocês reclamam de mim? vocês amam o agro e eu vou lá e dou pro agro. vocês odeiam direito trabalhista eu vou lá e acabo com direito trabalhista, acabo com a moleza pra funcionário, o empresário não precisa mais se dobrar à vontade do funcionário. vocês odeiam serviço público eu vou lá e privatizo meio mundo, corto gasto e vou privatizar mais. e vocês reclamam?

will.i.am e renata: ...

bolsonaro: reclamam por quê? queriam que eu fosse o quê? um dória? um felipe d'ávila? uma simone tebet? pra eu ter 2% dos votos? cês têm que entender isso aí... eu tô fazendo tudo que vocês querem, mas esse projeto, meu e do sr. paulo guedes, que vocês adoram, que fazem intervalo comercial... esse projeto não elege nem síndico! ninguém vota em “austeridade”, em “responsabilidade fiscal”, em “limpar a máquina pública”. o povo tá se lixando pra ineficiência estatal. se chegar o lula e falar que vai dar saúde, educação e moradia de graça, acabou! esse discursinho perdeu todas as eleições do seu psdb querido desde 2002

bonner e renata: ...

bolsonaro: perdeu pra dilma!

b&r: ...

bolsonaro: DUAS VEZES!

eles: ...

bololau: a única chance de eu fazer o que vocês querem é eu chegar e mostrar o aspecto ideológico do pt. o esquerdismo, o gayzismo. coisa que o povo brasileiro, o povão mesmo, muitos não gostam. principalmente os evangélicos, mas não só eles. não duvido nada que tenha um monte de eleitor do lula que não gosta de ideologia de gênero e até mesmo, fazendo aquele tique cringe de viradinha de cabeça típico dele ouso dizer dando risadinha psicopata de canto de boca, o próprio sapo barbudo não gosta muito de viado não e só tem o discurso gayzista porque ele precisa fazer o papel lá de esquerdista. vocês tão reclamando que eu ataco o esquerdismo, mas foi isso que me elegeu!

renata e bonner (e renata): ...

bolaornsao: sabe qual é o problema? vocês ainda tão na cabeça que a eleição é pt contra psdb. que vocês vão ter o candidato de vocês todo politicamente correto e não sei o que concorrendo contra o pt. isso acabou! o psdb acabou! está morto e enterrado desde que o geraldo alckmin terminou 2018 com uma porcentagem vergonhosa de 4%. acabou isso daí!

os apresentadores: ...

bolboago: o brasil que vocês querem só é eleito se for assim. quem é gayzista esquerdista e vota no que eu e o sr. guedes estamos fazendo economicamente não dá voto suficiente pra eleger ninguém. eu preciso ser anti-esquerda, anti-gayzismo, anti-ideologia de gênero, anti-mamata indígena pra ser eleito.

bolsonaro: vocês podem me achar feio e mal-educado, mas eu faço o que vocês gooostam hehehehe aquela risada dele de velho escroto que me dá vontade de meter uma paulada

bonner: ...

renata: ...

bonner: inspira estamos chegando ao final da sabatina, tempo, aí, para as suas considerações finais, candidato.

bolsonoaro: caro cidadão

bolsomnaro: .....brasileiro

bolsonaro: vote em mim. e se alguém for falar de pandemia e insinuar, mesmo que de leve, que você chora de vez em quando apesar de ser homem, ofendendo gravemente sua sexualidade, vote em mim. e se sua filha reclamar que você fez uma piada de bombril com o cabelo crespo do namorado dela, se afaste dela, se feche em seu grupo do zap dos amigos do dominó que me apoiam e vote em mim. e se teu patrão te forçar a fazer hora extra sem pagar e agora você vai trabalhar o fim de semana todo além da semana que você já trabalhar, fala que você não é vagabundo e não tem preguiça de trabalhar vote em mim. e se seu filho se assumir gay pra você, procurando a compreensão e o acolhimento que todo filho espera de seu pai que o amou por quase duas décadas, encha ele de pancada até ele sangrar, destruindo a sua família, já que o homossexualismo destrói a família vote em mim. e se não tem mais concurso público e o serviço público está cada vez pior por falta de funcionários e recursos básicos como produtos de limpeza e álcool gel, fala que kkkkkkkkjjjj funcionalismo público é foda vote em mim. e se alguém falar que perdeu o emprego e o aluguel já venceu e está com medo de ser despejado fala e o pt? e o lula? vote em mim.

VOTA EM MIM, FILHA DA PUTA. EU VOU TE ISOLAR DE TUA FAMÍLIA E AMIGOS E NUNCA MAIS NINGUÉM VAI DUVIDAR QUE VOCÊ É UM CIDADÃO DE BEM

bolsonaro: muito obrigado!

bonner: agradecemos ao excelentíssimo presidente da república e candidato à reeleição jair messias bolsonaro por comparecer à nossa sabantina

bolsonaro: sorrisinho de sacana (não é um elogio)

renata: o jornal nacional fica por aqui. mais notícias logo mais no jornal da globo. uma boa noite e até amanhã

bonner: boa noite

dããããn... parapá! dãããn... parapá! dan, dan... pá-pá! (era pra ser o tema do jornal nacional)

...

AGRO

É

POP

pra quem é de fora do nordeste, parece ser um pouco difícil entender o conceito de pedir a bença.

a mecânica é bem simples: você pede bença

  1. a ancestrais (pai, mãe, avós, tios, etc.)
  2. ao encontrar e se despedir

e depois eles falam alguma frase pra te desejar bênção

mas mesmo quem conhece como funciona pedir bença às vezes parece achar um costume puramente religioso e antiquado que nem ir pra missa domingo

eu sou 100% ateu chato, deus não existe, espírito não existe, sobrenatural não existe e ainda assim eu dou um valor muito grande a pedir bença a meus parentes, principalmente os mais velhos e eu vou explicar por quê

bença é cuidado

quando eu chego pra visitar meus avós já bastante idosos e que me deram muito carinho por toda a minha vida e peço a bença a eles, eles me dão abraço, beijo, perguntam como tão as coisas, sorriem, ficam felizes quando eu falo que eu tô na correria mas que tá tudo bem. pedir bença é mostrar que eu aprecio o amor e o cuidado que vem deles e dar a bênção significa que eles não só desejam que minha vida seja abençoada como pedem a deus que garanta isso

“deus te abençoe”

“deus te faça feliz”

“deus te dê juízo”

é um reconhecimento mútuo do cuidado que o ancestral tem com seus descendentes

bença é laço

pedir e dar a bença significa que, independente de qualquer coisa, nossa relação tem um laço particular que outras relações não têm. não que outras relações sejam piores ou melhores, cada relação tem o seu papel em nossas vidas. mas o laço de um ancestral com o descendente é uma relação de respeito por um lado e de responsabilidade por outro

nenhum relacionamento é perfeito e a família pode ser (e infelizmente é muitas vezes) fonte de muitas feridas e traumas. mas, quando os ancestrais reconhecem sua responsabilidade no cuidado dos descendentes, eles vão se esforçar para cuidar e tentar acolher, por mais que cometam erros nesse processo. a bença simboliza e reforça diariamente esse laço de responsabilidade e respeito.

bença é identidade e cultura

infelizmente, eu sinto que a tradição de bença vai acabar se enfraquecendo e morrendo uma hora. a nova geração de minha família não está me pedindo mais a bença e, sinceramente, eu mesmo até estranho quando ocasionalmente acontece de uma sobrinha vir me pedir a bença. o mesmo vale pra outras pessoas da minha geração ao meu redor

mas eu nunca vou deixar de pedir a bença a meu pai, meus avós ou minhas tias, porque isso é parte de minha cultura como nordestino. não num sentido chauvinista, mas num sentido de minha identidade cultural, como pertencedor do lugar. a bença é um elemento precioso de minha cultura e eu vou sempre tentar mantê-lo vivo enquanto ainda fizer sentido

e faz

(Texto incompleto de 27 de junho de 2020. tl;dr eu provavelmente tenho TDAH)


Tem um monte de coisas que eu quero fazer e aprender. Tem o doutorado. Tem meus textos, que eu quero começar a publicar, mas nunca consigo terminar. Tem a formação política. Tem a nova língua que eu quero aprender.

Parando pra pensar, parece até uma situação simples: você tem um número enorme de interesses e tempo insuficiente para seguir todos esses interesses ao mesmo tempo. A solução é igualmente simples: escolha os interesses mais interessantes pessoalmente e invista tempo nele.

Mas... é difícil decidir onde eu quero investir meu tempo. E é difícil porque: 1) minhas preferências flutuam ao longo do tempo 2) eu tenho “surtos” de interesse em alguma coisa 3) algumas coisas me atraem de maneira diferente, mas não comparável.

As preferências flutuam porque... não sei dizer direito por quê. Às vezes eu enjoo de uma iniciativa que eu tomei e tô investindo tempo há algum tempo. Ou, depois de muito tempo colocando tempo e esforço, eu não consegui muito resultado — e aí eu me frustro e largo de mão. Às vezes, as duas coisas. Como programador, eu sei que, para avançar numa tarefa complexa ou resolver um problema, temos que perdurar muita frustração antes de conseguirmos o resultado que queremos. Mas, como programador, eu amo programar, o que torna essas frustrações muito mais palatáveis: quando eu dou de cara numa parede programando, eu sinto um misto de frustração, mas, ao mesmo tempo, eu vejo um desafio posto da minha frente e fico empolgado, antecipando a solução. Além disso, como um programador experiente, eu tenho confiança o suficiente em minhas habilidades para saber que eu sou capaz de resolver o problema se eu suportar a frustração durante a solução do quebra-cabeça.

Isso não acontece quando eu quero me enfiar em algo que é completamente desconhecido para mim.

(Texto incompleto de 10 de junho de 2020. Esse texto era pra ser parte de um plano bem maior de textos sobre uma explicação aprofundada, mas para leigos, sobre como os computadores funcionam de verdade, mas escrever edifício)


Eu fui ter computador em casa quando tinha 13 anos. Já tinha tido contato com computadores antes disso no laboratório da escola, na casa de amigos, etc., mas foram contatos bem esporádicos. Já era a época do PC moderno, windows xp, orkut, jogos flash, apresentações do powerpoint, etc.. Como vários garotos pré-adolescentes, eu gostava de ficar no computador para jogar o que tivesse disponível. No meu caso isso se resumia, entre outras coisas, a counter-strike, joguinhos flash da internet, alguns jogos online.

Mas meu uso de computador não se resumia a usar superficialmente o que tinha disponível. Eu tinha uma curiosidade enorme em fuçar o sistema, os programas que existiam no computador, pra descobrir como funcionavam — mas sem entender muita coisa. Esse era um costume já antigo: quando eu era criança, gostava muito de desmontar os eletrônicos da casa para descobrir como eles eram por dentro, o que tinha dentro da caixa preta mágica que cuspia imagens dentro de fitas para a tela da televisão (quase sempre acabando por danificar os aparelhos, claro).

Não levou muito tempo para descobrir que todo formato de mídia ou coisa parecida que eu abria no computador era gerado por um programa correspondente: as apresentações de powerpoint que eu recebia eram criadas no powerpoint; os vídeos engraçados que eu assistia eram editados no movie maker (ou programa do gênero); os joguinhos flash que eu jogava eram feitos no flash. Em cada uma dessas descobertas, eu ia me aventurando nos programas criadores, tentando satisfazer minha vontade de criação: já me diverti muito criando apresentações do powerpoint e até já fiz um jogo nele; já brinquei muito editando vídeos; já fiz algumas coisinhas no flash de resultado questionável, mas que me deram muita satisfação no processo de criação.

Mas daí surge uma pergunta: se o programa que cria apresentações é o powerpoint, o programa que cria vídeos é o movie maker e o programa que cria jogos flash é o flash, qual é o programa que cria programas?

Foi aí que o mundo da programação começou a se mostrar para mim.

Eu lembro muito claramente de ter aberto o google (ou o “cadê?”, não lembro se ele já tinha saído de moda) e pesquisado por “programa de criar programa”. Abri alguns resultados que falavam de programação, mas infelizmente eu não entendi nada, pois nada que fala de programação na internet é acessível para leigos — o que não mudou até hoje.

Linguagens que dizem programas

Uma linguagem de programação é uma linguagem artificial, construída com o propósito explícito de especificar programas. O código de um programa é nada mais que um texto normal como este que você está lendo, só que escrito em uma linguagem de programação (e não em português), e ele especifica o comportamento do programa: qual é o formato dos dados com que esse programa vai trabalhar, o que vai ser mostrado na tela, o que acontece quando um botão é clicado, etc..

Por exemplo, o código a seguir especifica um programa que mostra a soma de dois números dados pelo usuário e é escrito em uma linguagem chamada Lua:

primeiro_numero = tonumber(io.read())
segundo_numero = tonumber(io.read())

print(primeiro_numero + segundo_numero)

Entendeu?

Não?

Não tem problema. Isso não é um tutorial de programação, eu só queria mostrar a cara de um texto escrito em uma linguagem de programação.

Fora algumas exceções, todo programa de computador que você já usou e vai usar é escrito em alguma linguagem de programação. E, quando eu digo todo, é todo mesmo: o navegador que você está usando para ler este texto, o sistema operacional que está rodando no seu aparelho, a interface gráfica que você usa para operar o seu aparelho, este site, o controlador de seu roteador de internet, sua geladeira (possivelmente), e quase tudo que roda nos pequenos e grandes computadores que nos rodeiam.

Mas dá pra desconfiar não é a mesma linguagem que especifica todos esses programas que eu mencionei, já que eu estou o tempo inteiro falando de linguagens e não da linguagem em que os programas são escritos. Existem várias linguagens de programação diferentes em uso atualmente para várias finalidades diferentes. Cada projeto de software pode usar uma linguagem diferente por causa do que ela oferece.

Para se ter uma ideia da quantidade imensa de linguagens de programação que existem, o índice TIOBE, que classifica linguagens de acordo com sua popularidade, contém 100 linguagens de programação no total e 50 delas têm sua popularidade monitorada de perto. E é importante frisar que qualquer uma dessas linguagens, mesmo as 50 menos populares, é popular o suficiente para ter milhares de resultados no Google e pelo menos um artigo na Wikipédia. Isso é só uma fração de todas as outras linguagens menos populares que existem, como linguagens com um nicho mais restrito, linguagens experimentais, linguagens de “brinquedo” ou linguagens que simplesmente não estão entre as 100 menos populares.

Torre de Babel

Até agora, eu falei de linguagens de programação, e como programas são especificados em código escrito nessas linguagens, mas eu não respondi ainda qual é o programa que faz outros programas. Mais especificamente: como é que o código, esse texto que diz o que deve ser feito, se transforma em algo de fato sendo feito pelo computador?

A resposta, na verdade, são várias. Existem vários jeitos diferentes de concretizar a execução de um código. Por exemplo: um interpretador é um programa que lê um código fonte e o executa imediatamente. Não é gerado nenhum programa nativo, mas um outro ponto de vista é que o código em si é o programa nesse caso, que é executado por meio do interpretador. Já um compilador é um programa que lê um código dado, entende o que está sendo dito, mas, em vez de executar imediatamente o programa especificado, ele gera um programa nativo que pode ser executado diretamente.

Questões como essa, que dizem respeito a como a implementação concreta da linguagem será feita, são um dos vários motivadores para a criação de linguagens diferentes. Nesse caso específico, apesar de, tecnicamente, qualquer linguagem de programação poder ser interpretada ou compilada, na prática, questões de implementação geralmente afetam o projeto da linguagem — isto é, ao projetar uma linguagem, o projetista pode ter em mente uma implementação específica e guiar o seu projeto de acordo. Por exemplo: a linguagem C (lê-se “cê”, o nome da letra) foi uma linguagem feita para ser compilada; já Lua (a linguagem do exemplo que vimos anteriormente) foi pensada como uma linguagem interpretada.

Outros aspectos que podem motivar a escolha de linguagens diferentes incluem:

  • Alguma funcionalidade faz falta em uma linguagem; uma outra linguagem derivada, tem a nova funcionalidade;

  • Uma linguagem está defasada e muitos elementos linguísticos não fazem mais sentido em aplicações atuais; uma outra linguagem é inspirada nessa linguagem antiga, mas remove elementos linguísticos obsoletos e insere elementos novos, sendo adequada para aplicações atuais;

  • Uma linguagem trabalha sob um paradigma diferente de outras linguagens, isto é, uma maneira diferente de se pensar nos elementos e componentes do código. Esse paradigma força o programador a pensar de maneira diferente do costumeiro, mas traz várias vantagens;

  • A especificação de muitas linguagens faz com que elas sejam difíceis de implementar e que necessitem de muitos recursos na hora da execução do programa; uma outra linguagem é especificada de maneira muito mais simples, que permite a criação de programas muito mais leves e rápidos;

  • Uma linguagem tem um ecossistema enorme de módulos, permitindo que muita coisa seja feita com facilidade nela;

  • O programador tem uma preferência estética pela linguagem — ou seja, ele acha o código escrito nela mais bonito que o escrito em outras linguagens.

Existem inúmeros motivos além desses para se escolher uma linguagem em vez de outra, mas acaba caindo quase sempre em alguma questão de: preferência estética pessoal, familiaridade, o que a linguagem oferece, o que o ecossistema oferece e como a implementação se adequa ao problema a ser resolvido.

Alguns exemplos de linguagens

Para ilustrar melhor os aspectos descritos acima, algumas linguagens serão apresentadas a seguir. Sem entrar em muitos detalhes técnicos, pois a ideia é apenas tentar mostrar qual é o nicho que uma linguagem ocupa e quais são suas particularidades.

C (“cê”)

Já citada anteriormente, essa é uma das linguagens mais antigas ainda popular. Surgida nos anos 70 é a linguagem mais popular no índice TIOBE. Duas coisas tornam C marcante: sua simplicidade conceitual e sua capacidade de gerar programas eficientes.

C é uma linguagem simples. Não no sentido de facilidade de uso (como vamos ver adiante), mas no sentido em que existem muito poucos elementos linguísticos na linguagem — mas é possível se fazer tudo com esses poucos elementos. Essa simplicidade traz algumas vantagens. Por exemplo, com poucos elementos, existem menos interações possíveis entre elementos diferentes — portanto, menos chances de alguma interação inesperada entre elementos dar errado. Outra vantagem é que, por existirem menos elementos na linguagem, o programador precisa aprender menos coisas para conseguir programar na linguagem de maneira eficiente.

Relacionada a isso está a eficiência dos programas escritos em C. C é uma linguagem que produz programas tão eficientes que ela é usada como base de comparações de desempenho entre outras linguagens. Pouquíssimas linguagens têm um desempenho comparável ao de C. E ela atinge esse nível de eficiência (TODO)

TEXTO INCOMPLETO: A desamericanização é um processo diário.

(Texto incompleto de 10 de junho de 2020. Resumão: death to america)

Assim como muitas outros processos de reaprendizagem, mas eu quero falar sobre desamericanização nesse momento.

O que é?

Como brasileiros, somos todos americanizados em algum nível. Quem está lendo o texto provavelmente mais que a média, já que somos jovens, “antenados” com a internet (por estarmos em uma rede social alternativa), sabemos mais inglês do que a média, já que a presença não-anglófona no fediverso é bem pequena e mesmo quem não sabe inglês tem contato com assuntos anglosferianos constantemente por meio dos compatriotas que sabem inglês.

Mas mesmo outras pessoas, que estão fora dessa esfera privilegiada que habitamos, são fortemente americanizadas. As fontes mais óbvias de conteúdo dos EUA a que todo mundo está exposto são filmes, séries e músicas, mas vai muito além disso em coisas que a gente presta bem menos atenção: marcas, comidas, as opções de lazer que nos são oferecidas, estilo de roupa, etc..

A americanização é muito mais do que uma simples influência cultural: é um processo de colonização cultural que apaga a cultura local em favor da cultura dos EUA. É um processo consciente, e o objetivo desse processo é dominar a população apagando a identidade dela.