Gênero “ponte”: cunhagem do termo e descrição da experiência
“Genderbridge”, “gender-bridge”, “gênero-ponte”, “ponte” ou “pontegênero”.
É um xenogênero que descreve:
Pessoas que percebem o próprio gênero fazendo “ligações”, como uma ponte, com outros gêneros pessoais, numa experiência de gênero distinta da de homens e de mulheres, ou fazendo ligações com outras orientações, condições ou marcadores bio/psico/sociais que as atravessam. Esse “objeto” (ponte) é algo imprescindível pra explicar o próprio gênero. Essa ponte pode significar tanto uma ligação entre dois gêneros ou mais, entre um gênero e uma orientação ou mais, entre um gênero e um marcador bio/psico/social ou condição distintos de gênero (neurodivergência, regionalidade, etc.) ou mais, quanto um gênero relacionado com “ponte” de forma metafórica, alegórica, arquetípica ou imagética (com uma “ponte” enquanto objeto físico, matéria ou realidade objetiva).
Pessoas que sentem que sua experiência psicossocial de gênero é “atravessada” por diversas situações de vida/diversas outras experiências pessoais ou em sociedade que não se enquadram numa experiência entendida como a de homens ou de mulheres (como uma “experiência média” de homens ou de mulheres, isto é, de hombridade ou de mulheridade, independentemente das qualidades de gênero que apresentam). Pessoas que percebem seu gênero a partir de uma imagética de atravessamento psicossocial, atravessamento de experiências ou formação de “pontes”, “ligações” ou “conexões” com outras experiências pisicossociais definidoras do seu gênero, que não se identificam com as experiências de homens ou de mulheres. Pessoas que percebem seu gênero sofrendo “atravessamentos” por parte de situações de vida ou marcadores bio/psico/sociais, distanciando-as dos gêneros homem e mulher.
Pessoas que percebem seu gênero estabelecendo “pontes”, “conexões”, “ligações” com outras condições biológicas que apresentam ou experiências psicossociais que as definem e sem as quais não é possível compreender plenamente o próprio gênero, tais como: neurodivergência, sexualidade, regionalidade, etc. Experiências essas que são percebidas pela pessoa genderbridge como definidoras de uma individualidade incompatível com gêneros binários ou com uma experiência entendida como “média” para homens ou para mulheres, isto é, como um “lugar-comum” do qual se possa partir uma experiência de gênero para homens ou para mulheres.
Pessoas que se apresentam socialmente/para o mundo com uma estética plana, estática, sólida, monocromática ou muito próxima disso, e que remete às imagéticas de estrutura, construto, concretude, pavimento, via, pilar, fundamento, travessia, continuidade, sejam estas imagéticas relacionadas com elementos naturais (“pontes naturais”) ou artificiais (“pontes artificiais”). Pessoas que se apresentam socialmente/para o mundo a partir de uma associação entre ideias/formas/matérias/conteúdos distintos. Pessoas que se apresentam socialmente/para o mundo como possibilitando tais associações ou relações, a partir do ou como parte do próprio gênero.
A estética genderbridge pode ou não incluir atributos de masculinidade, feminilidade ou xeninidade. Assim como pode estabelecer outras conexões entre tais atributos e elementos que remetem às imagéticas de “ponte”.
A pessoa genderbridge pode ou não fazer uso exclusivo de neopronomes como uma maneira de expressar o próprio gênero.
Genderbridge, enquanto xenogênero, não tem ligação necessária com althumanidade, sendo a pessoa que cunhou o termo ume humane. Mas genderbridge pode estabelecer pontes ou ligações com althumanidade.
Pra que se possa compreender uma experiência genderbridge é preciso ter em mente que:
A distinção sexo/gênero ou (a construção) do “sexo como natural e gênero como social” é uma falsa distinção (construção).
Não existe gênero binário (dois gêneros) nem naturalmente e nem na forma de um essencialismo social, como o produzido pelo termo “socialização”, legado da segunda onda do feminismo.
Gênero se relaciona melhor com a ideia de “euforia” do que com a de “disforia”.
Gênero também se performa através da linguagem e do discurso, no sentido de que é possível sentir euforia de gênero ao ter seus conjuntos de linguagem (os “pronomes” ou neopronomes) respeitados.
Transgênero é uma questão afirmativa (pessoas transgênero binárias e não-binárias sofrem transfobia a partir do momento em que afirmam suas identidades e é a partir da afirmação que transicionam).
Pessoas não-binárias são anteriores à clínica médica, à indústria farmacêutica, à ciência social e à moda.
Xenogêneros são fundamentalmente queercore, ou seja, não estamos preocupades com higienização do movimento.
Queer não é pra agradar a norma e nem manter a ordem das coisas.