#000191 – 26 de Maio de 2020

Herzog foi até Green Bank. Em “Lo and Behold” foi conhecer as pessoas que vivem sem telefone, televisão, rádio e internet. Menos de 200, obrigadas a redescobrir atividades como tocar instrumentos, construir coisas e falar uns com os outros cara a cara. Noutros sítios, há quem pague para que lhe tirem o telemóvel. Chamam-lhe retiro ou desintoxicação. E os megabarões de Silicon Valley encerram os filhos em colégios privados em que não há nem telemóveis nem “redes sociais”.

Franco Berardi explica a diferença entre connection e conjunction. Em “After the Future” escreve que estarmos “conectados” altera o nosso sistema cognitivo, que foi feito para estamos “conjuntos”. Que numa conexão cada elemento se mantém distinto. Numa conjunção, tornamo-nos outro. É o amor que dá como exemplo: o amor muda o amante e produz significado que não existia antes. Ao contrário de uma conexão, que exige que os segmentos (até os humanos) sejam compatíveis e operem segundo um efeito de mera funcionalidade maquinal. Continua, explicando que a conjunção é imprecisa, irrepetível, imperfeita e contínua. Já a conexão é a interação repetível de funções algorítmicas, linhas direitas e pontos que se justapõem perfeitamente.

Humanos, somos imprevisíveis e complicados. Interessantes. Mas a enorme máquina distópica digital gosta de nos tornar previsíveis terminais behavioristas. O dinheiro agradece a homogeneidade e repetição dos comportamentos. A expressão “ligado” tem pouco de humanizante. Diz apenas que funcionamos. E esconde o facto de que estamos mais e mais fechados. Que dos outros não queremos nada, sobretudo mudança.