#000194 – 29 de Maio de 2020

O Khaen tem milhares de anos. Escutar aquele som desperta o meu íntimo mais primitivo e espiritual. Este instrumento tem uma personalidade harmónica muito distinta, como geralmente sinto nos instrumentos de corda. Como no jazz, a sua técnica aborda a melodia como se fosse um ritmo colorido. Como os tocadores de didgeridoo, os mestres de khaen fazem do instrumento um pulmão externo, uma extensão do corpo que pulsa de energia. Como nas gaitas de foles, um número reduzido de notas tem espessura e volume. Como uma guitarra, toca com riffs, de forma que preenche o ar de contagiantes padrões melódico-rítmicos. Os seus riffs têm algo de telúrico, de dança e solstício, de colheita e namoro, como uma rabeca ou um fiddle de bluegrass. Em Laos, na Tailândia e países vizinhos estes instrumentos continuam a ser construídos manualmente e tocados. Desde a idade do Bronze que este som sobe desde a terra aos céus. Toda a tradição musical do mundo se cruza com este órgão de soprar.