Late night notes

Late night é o momento do silêncio, do chill out, da indulgência do gosto, do ainda-não-amanhã. [CC BY-NC-SA 4.0] RSS: https://write.as/latenightnotes/feed/

Eu não pedi para vir ao mundo Eu só gostaria de ficar sozinha Eu não quero fazer como todo mundo Mas eu tenho que pagar meu aluguel Eu trabalho no Café Underground

Eu sou apenas uma garçonete robô Isso me dá todo o tempo para sonhar Mesmo quando eu não estou mais em pé Estou sempre pronta para voar Eu trabalho no Café Underground

“Um dia você verá a garçonete robô Vá e cultive seus tomates ao Sol”

O que vou fazer hoje? O que vou fazer amanhã? Isso é o que eu digo a mim mesma todas as manhãs. O que vou fazer da minha vida? Eu não quero nada Eu só quero estar bem

Eu não quero trabalhar só por trabalhar para ganhar a vida, como dizem Eu só gostaria de fazer algo que eu gosto Não sei do que gosto, é o meu problema

De vez em quando eu coço meu violão Isso é tudo que sei fazer com meus dez dedos Eu nunca sonhei em ser uma estrela Eu só quero ser eu Minha vida não se parece comigo Eu trabalho no Café Underground

Já faz muito tempo que eu vi o sol No meu universo subterrâneo Pra mim todo dia é igual Pra mim a vida é inútil Eu sou como um néon apagado Eu trabalho no Café Underground

“Um dia você verá a garçonete robô Vá e cultive seus tomates ao Sol”

O que vou fazer hoje? O que vou fazer amanhã? Isso é o que eu digo a mim mesma todas as manhãs. O que vou fazer da minha vida? Eu não quero nada Eu só quero estar bem

Um dia você verá a garçonete robô Vá e cultive seus tomates ao Sol

La complainte de la serveuse automateFabienne Thibeault (Spotify / YouTube).

Este retrato de uma garçonete robô a captura enredada nas interrogações e anseios típicos dos humanos: o desejo por um trabalho significativo, o emprego do tempo imediato e futuro, o significado pessoal que se atribui à vida, o desejo de estar bem, o autoconhecimento... A voz bela e segura de Fabienne Thibeault – assessorada por piano e cordas – entrega em tintas melancólicas estas experiências de inquietação. O coro nos adverte que virá o dia das máquinas autoconscientes e nos exorta a apreciar agora a experiência da natureza. (Música de Michel Berger e letra de Luc Plamondon).

Neste vídeo de Monópolis (nas cidades do ano 2000) as referências visuais relacionadas à canção parecem vir apenas do cenário do palco – uma representação de um conjunto de altos edifícios de uma grande cidade – e da presença solitária de France Gall. Após uma aproximação, a câmera concentra-se no rosto da cantora – e em nuances de emoções associadas à letra da música.

De Nova York a Tóquio Tudo é igual em todo lugar Nós pegamos o mesmo metrô Para os mesmos subúrbios Todo mundo na fila As luzes neon da noite Substituem o sol E em todas as rádios Dançamos a mesma música disco O dia é cinza, a noite é azul

Nas cidades do ano 2000 A vida será muito mais fácil Todos nós teremos um número nas costas E uma estrela na pele Seguiremos o rebanho com alegria Nas cidades do ano 2000

Mirabelle ou Roissy Tudo é igual em todo lugar Em todo o mundo Pegamos os mesmos voos fretados Para ir onde o céu é azul Quando não soubermos mais Onde encontrar o sol Então partiremos Para Marte ou Júpiter Todo mundo na fila

Nas cidades do ano 2000 A vida será muito mais fácil Todos nós teremos um número nas costas E uma estrela na pele Seguiremos o rebanho com alegria Nas cidades do ano 2000

Monópolis Não haverá mais estranhos Seremos todos estranhos Nas ruas de Monópolis

Vamos andar de mãos dadas Como em 1980 Nós dois, em Monópolis?

Quando nossos filhos tiverem vinte anos Seremos de outro tempo O tempo antes de Monópolis

Eu nos vejo sentados em um banco Sozinhos no meio de Monópolis

Monopolis (Dans les villes de l’an 2000)France Gall (Spotify / YouTube).

Fascinante nesta canção é a voz doce e delicada de France Gall descrevendo – de forma paulatina e não sem ironia – este futuro distópico. (O quão próximos estamos dele?). O efeito é potencializado pela doçura da melodia na primeira parte da música, assim como pelo uso do piano e das cordas. Em certo momento, a canção parece ter chegado ao fim; e então, após dois segundos de silêncio, ela ressurge e prossegue para uma segunda parte, trazendo um novo esquema harmônico que agora explicita a dimensão dramática e distópica. (Música de Michel Berger e letra de Luc Plamondon).

Em 2020, durante o isolamento social da pandemia, Blake fez esta canção e convidou pessoas para enviarem vídeos em que a dançavam. O resultado final, dirigido por Ryder Ripps, foi lançado em outubro/2020. O conjunto das performances individuais, com as pessoas isoladas em suas casas – mas conectadas pela música – nos remete também a um outro antes, aquele em que podíamos estar todos juntos.

Eu não tenho que ler sobre isso Eu não tenho que me inclinar para o beijo Você me move naturalmente (Pule, pule, pule, pule, pule) Você me move naturalmente Você me move naturalmente (segunda, terça, quarta, quinta, direto para a pista)

Eu devo estar com dor, porque eu (Dor, porque eu) Devo estar sofrendo porque eu nunca precisei de ninguém antes Bem, nada é em vão, porque eu Bem, nada é em vão, porque eu Bem, nada é em vão, porque eu nunca tive algo tão bom antes Antes Antes (Segunda, terça, quarta, quinta, direto para a pista) (Pule, pule, pule, pule, pule)

Eu não tenho mais que guardar recibos E eu não tenho que ficar ao lado da porta Porque você é minha família Você me move naturalmente (eu não) (Pule, pule, pule, pule, pule)

Eu devo estar com dor, porque eu (Devo estar com dor, porque eu) Devo estar sofrendo porque eu nunca precisei de ninguém antes Bem, nada é em vão, porque eu Bem, nada é em vão, porque eu Bem, nada é em vão, porque eu nunca tive algo tão bom antes Antes Antes Antes

(Segunda, terça, quarta, quinta, direto para a pista) Antes Antes Antes Antes (Segunda, terça, quarta, quinta, direto para a pista)

BeforeJames Blake (Spotify / YouTube).

Inicialmente, a voz cristalina de Blake (em múltiplas faixas) contra as batidas e graves da seção rítmica. Mais tarde, o teclado coloca a base harmônica e o violino acrescenta um fator de desestabilização, de vertigem, que se articula à experiência descrita. Uma estrutura musical para tratar do espanto da descoberta do amor, suas sensações, sua confusão mesmo com... a dor, experiência que instaura uma divisão radical entre o que acontece agora e tudo o que veio antes. O convite para dançar é mais que um convite, a música nos carrega, nos... move naturalmente.

Vejamos a bateria da música, novamente transcrita e performada por Roddy Bailey.

Algo não parece certo Chega por essa noite Espero que vocês todos cheguem bem em casa Lá vou eu, culpar o tempo

Mas ei, não há nada errado Eu só estou cansado de todas estas vozes Sempre dizendo que nada dura para sempre

Talvez seja hora de encarar Não é tão divertido como costumava ser, não Você está afundando Você não é tão jovem como costumava ser Talvez seja hora de encarar Você não é tão cool como costumava ser, não Você não vai se recuperar Você não é tão jovem como costumava ser Talvez seja hora de encarar

Talvez seja hora de encarar

Eu já me perdi antes Então me diga que não acabou Porque finalmente eu tô com uma coisa rolando
E de repente Todos os meus amigos estão crescendo E se mudando Eu devo estar perdendo algo Porque eu só quero manter este sonho vivo por enquanto Eles não sabem que nada dura para sempre?

Talvez seja hora de encarar Ninguém sabe o que você veio fazer aqui, não Você está afundando Eles reviram os olhos quando você está na porta Talvez seja hora

Talvez seja hora de encarar (Sim) Você pode também abraçar isso

A gente promete vir te visitar (Sim) Talvez seja hora Talvez seja hora de encarar (Sim) Você não é tão divertido como costumava ser Você não vai se recuperar Você não é tão cool como costumava ser Talvez seja hora de encarar

Talvez seja hora de encarar

It Might Be TimeTame Impala (Spotify / YouTube).

Nas primeiras duas estrofes, ansiedade e estranhamento se expressam: no primeiro verso (Algo não parece certo), na repetição dos acordes do teclado e na voz em falsetto. Logo se mostra a fonte destes sentimentos: estou cansado de todas estas vozes / Sempre dizendo que nada dura para sempre.

Mas é na terceira estrofe (o refrão) – e também nela, na intensidade da performance do baixo e da bateria – que explode a consciência de uma crise de passagem da juventude para a vida adulta. Resiste-se às mudanças da vida quando finalmente eu tô com uma coisa rolando e à demanda social de apresentar-se ao mundo.

Véronique Sanson executa Amoureuse, quatro anos após seu lançamento.

Uma noite eu adormeço com ele Mas eu sei que isso nos é proibido E eu sinto a febre que me morde Sem sombra de remorso E a aurora me traz o sono Eu não quero que o sol venha Quando eu seguro sua cabeça em minhas mãos Eu juro que estou de luto

E eu me pergunto Se este amor terá um amanhã Quando estou longe dele Quando estou longe dele Eu não estou realmente em meu juízo perfeito E eu não pertenço mais a este lugar Oh, eu não sou mais daqui Eu sinto a chuva de outro planeta

Quando ele me abraça contra ele Quando eu sinto que estou entrando em sua vida Rezo para que o destino me afaste Rezo para que o diabo me leve para longe E a angústia me mostra seu rosto Ela me força a falar sua língua Mas quando eu seguro sua cabeça em minhas mãos Eu juro que estou de luto

E eu me pergunto Se este amor terá um amanhã Quando estou longe dele Quando estou longe dele Eu não estou realmente em meu juízo perfeito E eu não pertenço mais a este lugar Não, eu não sou mais daqui Eu sinto a chuva de outro planeta

AmoureuseVéronique Sanson (Spotify / YouTube).

Uma repetição de notas de piano e algumas notas de violão introduzem a música de Véronique Sanson – e logo a sua voz surge, entregando o primeiro verso com seu característico vibratto.

O tema aborda o amor “proibido” – assim, sem mais informações (ele pode vir em diferentes versões...). Nada sabemos sobre ele ou seus sentimentos; temos apenas a perspectiva dela – apaixonada.

O arranjo é econômico e preciso na modulação da voltagem emocional. (A canção foi produzida por seu companheiro à época, Michel Berger). Piano e violão constituem a base rítmica; no refrão, cantado duas vezes, as cordas surgem ampliando a dimensão romântica a partir do primeiro verso “Quando estou longe dele”; e a bateria, nos últimos três versos do refrão, acrescenta dramaticidade e sublinha o estado de alienação instaurado pela paixão.

Eu fiquei sozinha no meu quarto Sonhando com aquele que viria Me tirar um dia da infância E com quem eu iria Longe

Se eu tivesse que descrevê-lo Claro que eu teria me enganado Mas eu já amava seu sorriso Antes de encontrá-lo

Antes do início do concerto Quando todos os músicos afinam os instrumentos Um pouco como o mar que avança Um pouco como um aperto no coração

Quando eu o vi, foi um pouco assim Ele não tinha nada mais que qualquer outro Mas eu sabia que era este E não outro

Première rencontreFrançoise Hardy (Spotify / YouTube).

Nesta bela caracterização da visão romântica do primeiro encontro, a voz de Françoise Hardy, delicada e vulnerável, introduz sozinha o primeiro verso, logo sendo acompanhada por acordes cadenciados de um piano nostálgico. Na segunda estrofe, ao lado do piano surgem cordas e baixo, amplificando a aura romântica. Apesar da brevidade da música e da letra, estão aí a idealização, o sonho de uma felicidade longeva, o sentimento que toma a pessoa, o reconhecimento imediato. (Canção escrita, composta e produzida por Michel Berger).