A etimologia da palavra “ansiedade” é diversa. Conta a história da nosologia que o termo foi introduzido nas clínicas psi de língua inglesa pela tradução do termo “angústia” (“angst”) para “ansiedade”. A palavra “anxiety” aparece na língua inglesa no século XVI, com pelo menos duas raízes atribuídas: do latim anxietatem (cujo nominativo é anxietas), e do inglês antigo angsumnes. Outros aproximam angústia e ansiedade a partir do termo anguere, “apertar”, “sufocar”. A raiz *angh- vem do proto-Indo-Europeu, e tem o significado de “apertado, dolorosamente constrito”. A referência ao sufocamento não me escapa.

Na história da nosologia psicopatológica eurocêntrica, a ansiedade e a angústia caminham ao lado da melancolia por todo percurso até o séc. XIX. Os franceses que sistematizaram a nosologia na Era … estavam preocupados com a loucura como desrazão, e os transtornos das emoções pouco aparecem em suas obras. Na Alemanha do séc. XIX, com a ascensão de uma burguesia industrial como classe dominante, surge a demanda de um tratamento individualizado, privado, especial, para o sofrimento psíquico. O burguês não quer se juntar ao populacho nos hospitais, e reivindica para si um cuidado íntimo. Surgem as primeiras casas de repouso e clínicas particulares – e, com elas, um foco renovado nos transtornos das emoções (Gemüt). No século seguinte, a ansiedade ganhará status privilegiado nesse esquema de coisas. A ansiedade será uma espécie de sinal de um homem trabalhador, e, nos EUA da década de 1950, é uma medalha da sociedade de consumo e da ética do trabalho. Numa espécie de “luta de classes às avessas”, o sofrimento psíquico causado pelo trabalho e pela exploração, e o próprio valor do trabalho, são tomados não mais como crítica do capitalismo, mas como sua justificação. A ansiedade certamente não é um afeto novo, portanto. Mas, se antes a ansiedade se expressava no conflito entre os afetos ativos e criadores e a exigência repressiva do mundo do trabalho, a ansiedade agora investe todo o mundo social e a vida afetiva, ao invés de se concentrar somente no libidinal (Karatzogianni and Robinson, 2010).