๐ฃ๐ฎ๐ฟ๐ฎ ๐ฎ๐ฐ๐ฎ๐ฏ๐ฎ๐ฟ ๐ฐ๐ผ๐บ ๐ผ ๐บ๐ฎ๐๐๐ฎ๐ฐ๐ฟ๐ฒ ๐ฑ๐ผ ๐ฐ๐ผ๐ฟ๐ฝ๐ผ Felix Guattari
๐๐ฆ๐น๐ต๐ฐ ๐ฑ๐ถ๐ฃ๐ญ๐ช๐ค๐ข๐ฅ๐ฐ ๐ฐ๐ณ๐ช๐จ๐ช๐ฏ๐ข๐ญ๐ฎ๐ฆ๐ฏ๐ต๐ฆ ๐ข๐ฏ๐ฐ๐ฏ๐ช๐ฎ๐ข๐ฎ๐ฆ๐ฏ๐ต๐ฆ ๐ฏ๐ข ๐ณ๐ฆ๐ท๐ช๐ด๐ต๐ข ๐ง๐ณ๐ข๐ฏ๐ค๐ฆ๐ด๐ข ๐๐ฆ๐ค๐ฉ๐ฆ๐ณ๐ค๐ฉ๐ฆ๐ด ๐ฏยฐ 12, 1973, ๐ช๐ฏ๐ต๐ช๐ต๐ถ๐ญ๐ข๐ฅ๐ฐ โ๐๐ณรช๐ด ๐ฃ๐ช๐ญ๐ฉรต๐ฆ๐ด ๐ฅ๐ฆ ๐ฑ๐ฆ๐ณ๐ท๐ฆ๐ณ๐ต๐ช๐ฅ๐ฐ๐ด: ๐๐ณ๐ข๐ฏ๐ฅ๐ฆ ๐ฆ๐ฏ๐ค๐ช๐ค๐ญ๐ฐ๐ฑรฉ๐ฅ๐ช๐ข ๐ฅ๐ข๐ด ๐ฉ๐ฐ๐ฎ๐ฐ๐ด๐ด๐ฆ๐น๐ถ๐ข๐ญ๐ช๐ฅ๐ข๐ฅ๐ฆ๐ดโ, ๐ฅ๐ฐ ๐ฒ๐ถ๐ข๐ญ ๐ฑ๐ข๐ณ๐ต๐ช๐ค๐ช๐ฑ๐ข๐ณ๐ข๐ฎ ๐๐ช๐ญ๐ญ๐ฆ๐ด ๐๐ฆ๐ญ๐ฆ๐ถ๐ป๐ฆ, ๐๐ช๐ค๐ฉ๐ฆ๐ญ ๐๐ฐ๐ถ๐ค๐ข๐ถ๐ญ๐ต, ๐๐ฆ๐ข๐ฏ ๐๐ฆ๐ฏ๐ฆ๐ต, ๐๐ถ๐บ ๐๐ฐ๐ค๐ฒ๐ถ๐ฆ๐ฏ๐จ๐ฉ๐ฆ๐ฎ ๐ฆ ๐๐ฆ๐ข๐ฏ-๐๐ข๐ถ๐ญ ๐๐ข๐ณ๐ต๐ณ๐ฆ, ๐ฆ๐ฏ๐ต๐ณ๐ฆ ๐ฐ๐ถ๐ต๐ณ๐ฐ๐ด. ๐ ๐จ๐ฐ๐ท๐ฆ๐ณ๐ฏ๐ฐ ๐ง๐ณ๐ข๐ฏ๐ครช๐ด ๐ข๐ฑ๐ณ๐ฆ๐ฆ๐ฏ๐ฅ๐ฆ๐ถ ๐ฆ ๐ฅ๐ฆ๐ด๐ต๐ณ๐ถ๐ช๐ถ ๐ต๐ฐ๐ฅ๐ฐ๐ด ๐ฐ๐ด ๐ฆ๐น๐ฆ๐ฎ๐ฑ๐ญ๐ข๐ณ๐ฆ๐ด ๐ฅ๐ข ๐ณ๐ฆ๐ท๐ช๐ด๐ต๐ข ๐ฆ ๐ข๐ฑ๐ณ๐ฆ๐ด๐ฆ๐ฏ๐ต๐ฐ๐ถ ๐ฒ๐ถ๐ฆ๐ช๐น๐ข ๐ค๐ฐ๐ฏ๐ต๐ณ๐ข ๐รฉ๐ญ๐ช๐น ๐๐ถ๐ข๐ต๐ต๐ข๐ณ๐ช, ๐ฐ ๐ฆ๐ฅ๐ช๐ต๐ฐ๐ณ ๐ฅ๐ข ๐ณ๐ฆ๐ท๐ช๐ด๐ต๐ข, ๐ข๐ค๐ถ๐ด๐ข๐ฏ๐ฅ๐ฐ-๐ฐ ๐ฅ๐ฆ โ๐ค๐ฐ๐ฏ๐ง๐ณ๐ฐ๐ฏ๐ต๐ข๐ณ ๐ข ๐ฅ๐ฆ๐ครช๐ฏ๐ค๐ช๐ข ๐ฑรบ๐ฃ๐ญ๐ช๐ค๐ขโ.
Quaisquer que sejam as pseudo-tolerรขncias de que se vangloria, a ordem capitalista em todas as suas formas (famรญlia, escola, fรกbricas, exรฉrcito, cรณdigos, discursos...) continua a sujeitar toda a vida desejante, sexual e afetiva ร ditadura de sua organizaรงรฃo totalitรกria baseada na exploraรงรฃo, na propriedade, no poder masculino, no lucro, no desempenho...
Indefativelmente, ela continua seu trabalho sujo de castraรงรฃo, de esmagamento, de tortura, de quadratura do corpo a fim de inscrever suas leis em nossa carne, de pregar seus aparelhos de reproduรงรฃo da escravidรฃo em nosso inconsciente.
Por meio de retenรงรตes, รชxtases, lesรตes, neuroses, o estado capitalista impรตe suas regras, fixa seus modelos, imprime seus personagens, distribui seus papรฉis, difunde seus programas... Por todos os meios de acesso ao nosso organismo, mergulha suas raรญzes de morte profundamente em nossas vรญsceras, confisca nossos รณrgรฃos, desvia nossas funรงรตes vitais, mutila nossos prazeres, submete todas as produรงรตes que experimentamos ao controle de sua administraรงรฃo patibular. Ele faz de cada indivรญduo um aleijado, cortado de seu corpo, um estranho a seus desejos.
A fim de reforรงar seu terror social experimentado como culpa individual, as forรงas de ocupaรงรฃo capitalista com seu sistema de agressรฃo, incitaรงรฃo, e chantagem cada vez mais refinado, se esforรงam em reprimir, excluir e neutralizar todas as prรกticas desejรกveis que nรฃo tรชm o efeito de reproduzir as formas de dominaรงรฃo.
Assim, o reino milenar do gozo infeliz, do sacrifรญcio, da resignaรงรฃo, do masoquismo instituรญdo, da morte รฉ prolongado indefinidamente: o reino da castraรงรฃo que produz o sujeito culpado, neurรณtico, trabalhador, submisso, explorรกvel.
Este velho mundo, que fede em toda parte a cadรกver, nos horroriza e nos convence da necessidade de realizar a luta revolucionรกria contra a opressรฃo capitalista no lugar onde ela estรก mais profundamente enraizada: na parte viva de nossos corpos.
ร o espaรงo deste corpo com tudo o que ele produz de desejos que queremos liberar da influรชncia estrangeira. ร neste lugar que queremos trabalhar para a libertaรงรฃo do espaรงo social. Nรฃo hรก fronteira entre os dois. EU me oprimo porque o EU รฉ o produto de um sistema de opressรฃo estendido a todas as formas de vida.
A consciรชncia revolucionรกria รฉ uma mistificaรงรฃo quando nรฃo passa pelo corpo revolucionรกrio, o corpo produtor de sua prรณpria libertaรงรฃo.
Sรฃo as mulheres em rebeliรฃo contra o poder masculino โ implantado hรก sรฉculos em seus prรณprios corpos โ, homossexuais em rebeliรฃo contra a normalidade terrorista, jovens em rebeliรฃo contra a autoridade patolรณgica dos adultos, que comeรงaram a abrir coletivamente o espaรงo do corpo ร subversรฃo e o espaรงo da subversรฃo ร s exigรชncias imediatas do corpo.
Sรฃo elas, sรฃo eles, que comeรงaram a desafiar o modo de produรงรฃo dos desejos, as relaรงรตes entre gozo e poder, o corpo e o sujeito, que operam em todas as esferas da sociedade capitalista e atรฉ mesmo em grupos militantes.
Sรฃo elas, sรฃo eles, que quebraram definitivamente a velha separaรงรฃo que divide a polรญtica da realidade vivida para o mรกximo benefรญcio dos administradores da sociedade burguesa, bem como daqueles que afirmam representar as massas e falar em seu nome.
Sรฃo elas, sรฃo eles, que abriram os canais da grande revolta da vida contra as instรขncias de morte que nunca deixam de se insinuar em nosso organismo para submeter a produรงรฃo de nossas energias, nossos desejos, nossa realidade, cada vez mais sutilmente aos imperativos da ordem estabelecida.
Uma nova linha de ruptura, uma nova linha de ataque mais radical e mais definitiva รฉ traรงada, da qual as forรงas revolucionรกrias sรฃo necessariamente redistribuรญdas.
Jรก nรฃo podemos mais suportar sermos roubados de nossa boca, nosso รขnus, nosso sexo, nossos nervos, nossos intestinos, nossas artรฉrias... para fazer as peรงas e o trabalho da mecรขnica ignรณbil da produรงรฃo de capital, da exploraรงรฃo e da famรญlia.
Jรก nรฃo podemos mais permitir que eles tornem nossas membranas mucosas, nossa pele, todas as nossas superfรญcies sensรญveis, em รกreas ocupadas, controladas, regulamentadas e proibidas.
Jรก nรฃo podemos mais tolerar que nosso sistema nervoso sirva como transmissor no sistema de exploraรงรฃo capitalista, estatal, patriarcal, que nosso cรฉrebro funcione como uma mรกquina de tortura, programada pelo poder que nos rodeia.
Jรก nรฃo podemos mais sofrer a libertaรงรฃo, reter nossas fodas, nossas merdas, nossa saliva, nossas energias, de acordo com as prescriรงรตes da lei e suas pequenas transgressรตes controladas: queremos rasgar em pedaรงos o corpo gelado, o corpo aprisionado, o corpo mortificado, que o capitalismo nunca deixa de querer construir com o desperdรญcio de nosso corpo vivo.
Este desejo de libertaรงรฃo fundamental, que nos permite entrar em uma prรกtica revolucionรกria, exige que deixemos os limites de nossa โpessoaโ, que perturbemos o โsujeitoโ em nรณs mesmos e que deixemos a vida sedentรกria, o โestado civilโ, que cruzemos os espaรงos do corpo sem fronteiras e assim vivamos em desejos de mobilidade alรฉm da sexualidade, alรฉm da normalidade, seus territรณrios, suas agendas.
ร neste sentido que alguns de nรณs sentimos a necessidade vital de nos libertarmos em comum da influรชncia que as forรงas de esmagamento e captura de desejo exerceram e ainda exercem sobre cada um de nรณs em particular.
Tudo o que experimentamos no caminho da vida pessoal e รญntima, tentamos nos aproximar, explorar e viver coletivamente. Queremos derrubar o muro de concreto que separa, no interesse da organizaรงรฃo social dominante, o ser do aparente, o dito do nรฃo dito, o privado do social.
Comeรงamos a descobrir juntos toda a mecรขnica de nossas atraรงรตes, nossas repulsรตes, nossas resistรชncias, nossos orgasmos, para trazer ao conhecimento comum o universo de nossas representaรงรตes, nossos fetiches, nossas obsessรตes, nossas fobias. โO inconfessรกvelโ tornou-se, para nรณs, uma questรฃo de reflexรฃo, de difusรฃo e de explosรตes polรญticas, no sentido de que a polรญtica manifesta, dentro do campo social, as irredutรญveis aspiraรงรตes dos โvivosโ.
Decidimos quebrar o segredo insuportรกvel que o poder traz sobre tudo que toca o funcionamento real das prรกticas sensuais, sexuais e afetivas, da mesma forma que o traz sobre o funcionamento real de todas as prรกticas sociais que produzem ou reproduzem formas de opressรฃo.