Depois dos exames ao ombro e ao joelho, são detectados problemas, num e noutro. Para vir aqui tive de convencer o médico, que me dizia que era natural sentir algumas dores, dada a minha idade. Natural seria um médico querer ocupar-se do meu bem estar.
A tristeza é uma fotografia emocional. Tudo cristalizado, olho para o esgar, o desalinho da roupa, a trôpega fluidez do movimento. Num instante perco a cor toda, o cheiro, o tacto. Mas ganha tridimensionalidade a estática imagem do que sou. A razão torna-se implacável, mesquinha. Anda à volta de mim, inspecionando cada falha, reanalisando o que parecia neutro ou desimportante. A cognição é toda posta ao serviço da autodepreciação, desprovendo o humor de sentido.
Recomeço a cada segundo. A utopia é o fim. Sou um gerador de ruínas, de inícios que se acumulam, sabotagens bem sucedidas. Preferia acabar.
Descubro novos trilhos. Ruralidade que resistiu à cidade. Muros de pedra, mato, árvores, hortas e quintais. O mundo não é uma rede de coisas ligadas por rodovia. A bicicleta desacelera um pouco e revela muito.