Retrospectiva 2022

O melhor do meu ano dentro dos livros, filmes, séries e jogos.

Feliz 2023! Sempre gosto desse período da virada de ano porque todo mundo reflete sobre o que teve de bom. Temos todos publicando o que mais jogaram, ou as músicas que mais ouviram; críticos de cinema fazem listas dos melhores lançamentos do ano; temporadas de premiações começam a se estabelecer...

Também gostaria de compartilhar o que consumi de bom este ano. Porém, ao conferir a minha retrospectiva 2021, o que na época pareceu um prato cheio de recomendações hoje enxergo como bagunça. Não parece produtivo ler literalmente o ano inteiro de uma pessoa (é pra isso que existe o perfil no Letterboxd).

Portanto, decidi ir na direção oposta e publicar apenas um título por categoria. A obra escolhida não será necessariamente a melhor que consumi, mas será a que mais me impactou, mais marcou meu ano. Começando com o livro do meu ano de 2022:

O Livro

Capa do livro

“Onze Anéis – A Alma do Sucesso” (2013), escrito por Phil Jackson

Longe de ser um livro sobre estratégias de basquete, esta autobiografia profissional do técnico hendecacampeão trata de se relacionar com pessoas.

Você não vai encontrar aqui esquemas táticos da época, mas sim descrições sobre as personalidades dos jogadores que treinou; como criou e aprofundou seus relacionamentos com cada um deles; o que cada um gostava e detestava; qual papel dentro da liderança, motivação e emoção do time cada jogador desempenhava, etc.

Além disso, há explicações sobre como os ensinamentos do budismo conseguiram ajudar a manejar as emoções e relações tão complexas que acontecem durante uma temporada da NBA, compartilhando lições específicas que aprendeu ou reforçou com cada jogador, relacionando com momentos de sua vida pessoal.

E claro, relatos de interações, cotidiano e intimidade de jogadores como Michael Jordan, Kobe Bryant e Shaquille O'Neal, e também outros menos conhecidos do público, porém muito importantes nos vestiários, como Derek Fischer e Bill Cartwright.

Se você se interessa por relações interpessoais, liderança, espiritualidade e empatia, ou por como pensa um dos maiores exemplos esportivos dessas qualidades, ou até mesmo se você só é curioso para saber como Phil Jackson conseguiu integrar Dennis Rodman nos Bulls, esse livro vai te servir bem.

O Filme

Capa do filme

“Lunana: A Yak in the Classroom” (2019), dirigido por Pawo Choyning Dorji

Definitivamente a escolha mais pessoal dessa lista. No dia que o vi, havia decidido ver um outro filme, mas devido a uma confusão minha com os títulos genéricos brasileiros (o deste, por exemplo, é A Felicidade das Pequenas Coisas), comprei ingresso para a sessão errada, só percebendo quando o filme começou. Por total acaso, encontrei meu filme favorito do ano.

Este filme butanês narra a história de um professor cujo sonho é se mudar para a Austrália e seguir uma carreira na música. No entanto, antes de conseguir o visto para poder emigrar, ele tem que cumprir uma última tarefa: ensinar na escola mais remota do mundo, localizada no vilarejo de Lunana, entre as montanhas do país.

O filme tem um roteiro simples (não confundir com ruim), atuações razoáveis, direção regular... como destaque tem apenas a cinematografia belíssima. Porém, entra a subjetividade do espectador em cena. O filme retrata de maneira tão verdadeira e poderosa tantas situações que passei na fase mais recente da minha vida que me identifiquei profundamente com o protagonista. Sinto como se tivesse sido feito para mim e para ser visto justamente quando mais precisava.

A beleza da arte é isso, às vezes uma obra mediana consegue te emocionar muito mais do que outra de mais qualidade técnica, porque toca em temas e experiências importantes para você.

E a beleza da vida é isso, às vezes um país do outro lado do mundo, com uma população do tamanho do Acre, fazendo o seu segundo filme com distribuição internacional na sua história consegue dialogar com vivências de um jovem adulto no nordeste do Brasil.

A Série

Capa da série

“Better Call Saul” (2015-2022), criada por Vince Gilligan

Este é um caso diferente. Se tem um adjetivo que esta série se distancia é mediana. Inclusive ouso dizer que talvez seja até melhor do que Breaking Bad, que para mim é a melhor série de todos os tempos.

Tudo bem que minha opinião sobre a melhor série tem pouco valor visto que vejo pouquíssimas, mas o nível de qualidade que as obras desse universo criminoso de Albuquerque têm é totalmente fora da curva. Estas séries estão entre as melhores obras que já vi na vida, incluindo filmes.

Direção, atuação, roteiro, atuações, design de produção, cinematografia... tudo chega mais perto do impecável possível, com um nível de complexidade crescente que foge do conservadorismo tradicional da televisão, de fazer poucas mudanças com medo de um espectador abandonar caso perca um episódio. Aqui, pra toda ação e palavra dita há consequências, às vezes gravíssimas.

Há episódios dignos de se levantar e aplaudir por todos os seus aspectos, indo do espetáculo ao sutil, do gritante ao sensível com um controle divino da montagem.

Better Call Saul se tornou um ritual aqui em casa por vários meses, toda a família se reunindo para assistir à noite. Será muito difícil substituir quando chegar o fim.

O Jogo

Capa do jogo

“The Last Of Us Part II” (2020), produzido e distribuído pela Naughty Dog

Bem polêmico! Uma sequência que escolheu caminhos no mínimo ousados e dividiu uma comunidade praticamente unânime de fãs do primeiro jogo.

No meio de vários ataques preconceituosos, há críticas bem fundamentadas que possuem certa razão. Para mim, o resultado não foi tão bom quanto poderia ser, mas ainda foi muito, muito bom.

A jogabilidade é um refinamento do primeiro jogo, muito boa, mas trazer inovação nessa área nunca foi uma preocupação da Naughty Dog, que prefere priorizar a narrativa. E que narrativa!

Nunca vi uma obra tão intensa sobre luto, perdas, consequências, depressão, ansiedade... violência. O jogo é muito imersivo e o objetivo dele não é só fazer você sentir tristeza, mas uma profunda melancolia. Algumas cenas possuem cargas dramáticas fortes, chegando a serem cruéis, e ao mesmo tempo você sente que poderiam ter ido muito mais longe.

E a riqueza dessa história não está somente no que acontece no enredo, mas em como acontece, ou seja, a narrativa. Há uma decisão em particular sobre quais personagens são jogáveis que nunca tinha visto antes em jogo nenhum e achei genial – novamente, o potencial era gigantesco e poderia ter sido melhor, mas ainda foi genial.

Infelizmente o destaque não foi God of War: Ragnarök, que foi uma decepção para mim, mas ficou em boas mãos.

2023

Na outra retrospectiva eu escrevi que esperava ter um ano muito mais rico em 2022. Realmente tive! Estudei bem, vi um número recorde de filmes no ano, li mais livros no ano do que imaginava ser possível desde que entrei na faculdade... vamos ver como 2023 virá. Que seja ainda melhor! Aproveite as recomendações.

#retrospectiva #listas