Retrospectiva 2021

Feliz 2022! Com a chegada de mais um ano, gostaria de fazer uma publicação relatando o que mais me marcou no mundo de livros, jogos, filmes e séries.

Acredito que muita coisa legal que tive contato dificilmente vire tema para publicações aqui no blog, ou pelo menos não tão cedo. Então para não perder recomendações enquanto estão frescas na memória, achei melhor fazer essa retrospectiva (também porque é muito legal de fazer).

Farei comentários rápidos sobre as obras (que são MUITAS), mas a ideia é que você pule para as seções que te interessem, divididas em Livros, Jogos, Filmes e Séries, nesta ordem. Ou leia tudo se desejar. Escrevi assim porque quero trazer recomendações em todas as mídias para o ano de 2022.

Ah, caso você queira ver mais detalhes sobre alguma obra específica, basta sugerir a mim que coloco como uma ideia de publicação (ou a gente troca a ideia conversando mesmo).

Sem mais delongas, vamos começar com os livros!

Livros

Desde que entrei na faculdade que sou forçado a ler muita coisa dentro da medicina, pelo menos em comparação com o ensino médio. Por conta disso meu ritmo de leitura por prazer diminuiu consideravelmente; caí de 5-10 livros por ano para 1-2. Então aqui basicamente vou citar todos os livros que li durante o ano, que foram exatos um e meio. Vamos a eles:

A Última Superstição – Uma Refutação do Neoateísmo, de Edward Feser.

Capa do livro A Última Superstição

Em 2020, com a pandemia, em casa, sem propósito próximo, com a ameaça de morte iminente, de repente me vi desesperado com a minha própria mortalidade. Sou uma pessoa muito racional e não conseguia ter mais crer por crer em nada espiritual, necessitava de provas.

Tranquilizei-me com o fato de eu ser jovem e parti em uma jornada espiritual para ver o que encontrava. Conversei com pessoas, pesquisei materiais, assisti a seminários online, estudei... mas o que de fato posso dizer que mudou minha vida foi este livro de filosofia da mente e metafísica do Edward Feser, que era exatamente o que eu buscava em todos os aspectos.

Similar a um livro de divulgação científica, que preza em explicar conceitos complexos para o público leigo, este é um livro de divulgação filosófica. Nele, pude entender que estava sofrendo por cientificismo e que religião e ciência não são antagônicas. Mais do que isso, que religião e racionalidade não são antagônicas.

O principal propósito deste livro é te dar os fundamentos para entender a metafísica aristotélica, base para enfim entender o trabalho de São Tomás de Aquino, um brilhante filósofo medieval, que demonstrou racionalmente a existência de Deus de 5 formas diferentes (daí as 5 vias tomistas).

É um livro que recomendo a todos que tenham interesse por filosofia e teologia. Ainda estou longe de acabar minha jornada, mas estou com imenso ímpeto para continuar nela.

A fé é como um líquido que necessita de um vaso sólido para ganhar forma. Este vaso é a razão. (São Tomás de Aquino)

Story, de Robert McKee.

Capa do livro Story

Este é o meio livro que comentei antes, ainda estou na metade. Poderia ter terminado ele em 2021, mas cheguei em uma parte que o autor vai analisar o segundo ato inteiro de Chinatown (1974), um filme que quero muito assistir e não quero ter sua trama revelada. Infelizmente só encontrei a versão dublada para ver até agora (triste...).

O que posso dizer sobre a primeira metade é que é sensacional. Ele é um livro que ensina os princípios para a escrita de histórias – principalmente roteiros de cinema, claro, mas também toca em pontos fundamentais para todos os tipos de literatura.

Citei um trecho dele no meu artigo sobre Mad Max: Fury Road (2015), que pode ser lido clicando aqui. Usei ele para explicar o que faz um desenvolvimento de personagens ser profundo e provavelmente usarei outras vezes no futuro, este livro tem a fama de ser a bíblia dos roteiristas e faz jus a essa fama.

Espero que em 2022 consiga finalmente assistir a Chinatown e terminar de ler (aí coloco a segunda metade dele na retrospectiva 2022, por que não?).

Jogos

Ano grande para minha vida como jogador! Além de voltar a jogar xadrez, jogar RPG de mesa pela primeira vez e continuar jogando Keyforge, este foi o ano que resolvi comprar um PlayStation 4 e com ele vieram vários títulos fenomenais.

Focarei aqui nos que mais me marcaram no ano de 2021, mas há outros que tiveram seus momentos, tais como:

Agora vou falar sobre os que foram realmente marcantes e vou dizer: todos são fortíssimos candidatos a ganharem um texto próprio no futuro.

Dragon Age: Origins, produzido pela Bioware.

Capa de DA:O

Apesar de ser um jogo de 2009, é um jogo que envelheceu muitíssimo bem. Este jogo era conhecido por ser o melhor RPG de todos os tempos, o que chega mais próximo a ser um RPG de mesa, o que te dá mais liberdade e o mais estratégico.

Depois de quase zerar ele (ainda falta pouco), posso dizer que concordo com todas essas afirmações. O jeito como ele trata a liberdade e moralidade neste jogo é absurdo, um dos jogos mais inovadores, imersivos e profundos que vi, incluindo os padrões de hoje. Também possui uma construção de mundo ridícula de tão boa.

Tudo isso que falei contribui para ele ter envelhecido bem, mas os desenvolvedores também foram extremamente cuidadosos em transformar suas limitações técnicas em oportunidades criativas.

Por exemplo: em 2009 não havia como fazer um grande mundo aberto como fazemos hoje, eles precisavam separar o jogo em segmentos com telas de carregamento entre eles. Ao invés de só colocar “carregando” na borda da tela, eles aproveitavam essas partes para rodar uma cena mostrando o que os vilões estão fazendo para te encontrar e te matar, relembrando a você da ameaça e fazendo você se sentir “culpado” de estar gastando seu tempo com sidequests sendo que a cada movimento que você faz, eles descobrem mais pistas sobre você. Brilhante.

God of War, produzido pela Santa Monica Studios.

Capa de GoW

O que falar dessa obra prima? Um jogo que entrou no topo da minha lista de melhores jogos de todos os tempos no momento que terminei ele, atrás apenas de Bioshock.

Este jogo não só levou suas mecânicas, enredo e desenvolvimento de personagens a outro patamar, mas também levou a indústria a outro patamar. Cory Barlog, o diretor, possui uma visão tão forte e clara, um talento tão grande em contar histórias, que seus temas e personagens transcendem a própria mídia e entram para a metalinguagem.

Este é um jogo já certo que escreverei sobre, mas irei aguardar sua conclusão que será lançada este ano – God of War: Ragnarok. Pelo jeito que esse projeto foi idealizado e construído, sinto que é necessária uma visão completa da história para poder analisar todos os seus aspectos.

Uncharted 4: A Thief's End, produzido pela Naughty Dog.

Capa de Uncharted 4

O melhor da franquia que é uma das minhas favoritas, trazendo peso dramático, desenvolvimento e arco de personagens que não existiam antes na série e ao mesmo tempo mantendo o nível alto de ação e narrativa pelo qual a empresa é famosa.

Além disso, trouxeram a possibilidade de stealth e uma mudança que está muito popular hoje: um gancho para locomoção dentro do ambiente, que dá uma liberdade muito maior para o combate.

Inovações na jogabilidade nunca foram o forte dessa série, que se vende muito mais por sua capacidade de contar histórias envolventes. Para dentro do seu padrão, foi o jogo mais sólido até agora.

Her Story, criado por Sam Barlow

Capa de Her Story

Definitivamente o jogo mais inovador que joguei este ano. É um jogo de detetive no qual você tem acesso a clipes de 6 entrevistas policiais desta mulher sobre a morte de seu marido. O problema é que nem todos os clipes estão liberados e você precisa fazer buscas por palavras ditas nas entrevistas.

Por exemplo, o jogo começa com a palavra “MURDER” (assassinato) escrita na busca e 5 clipes disponíveis, nos quais a mulher falou essa palavra. A graça é que, a cada clipe assistido, você vai descobrindo nomes, lugares, eventos, datas, histórias... que vão aos poucos te levando para as revelações mais sombrias.

É um jogo muito simples (ocupa 2GB no total) e relativamente curto, mas causa um impacto muito profundo com uma jogabilidade única.

Filmes

Com a pandemia, diminuí consideravelmente a quantidade de filmes que assistia. Antes de 2020, ia ao cinema com frequência. Em 2021, o primeiro filme que assisti foi em março e assisti em média uns 3 filmes por mês.

Deu tempo de ver clássicos e novos lançamentos deste ano, mas assim como os jogos, também tiveram filmes que se destacaram momentaneamente:

Fazendo essas menções honrosas, vamos aos filmes:

O Segredo dos Seus Olhos, filme de 2009 de Juan José Campanella

Cartaz de divulgação do filme

Sinopse: Um detetive aposentado reflete sobre o caso investigativo mais marcante de sua vida, o assassinato de uma mulher no quarto dela. Essa reflexão traz novos olhares sobre seu trabalho e vida pessoal.

Sempre quis ver esta obra prima argentina. Inclusive tive a chance de assistir em um dos cursos de cinema que fiz, mas infelizmente foi exibido na única aula que faltei!

De toda forma, a espera valeu a pena. Filme extremamente bem feito em todos os seus aspectos, clássico instantâneo. Quase um ano depois ainda lembro com detalhes da cena do detetive encontrando o cadáver pela primeira vez, o plano sequência do estádio de futebol que invade o campo, a cena da ameaça no elevador, as revelações no final... absurdo.

Se tem um filme que pode ser chamado de lindo e poético, é este. Um dos melhores que já vi.

Midsommar, filme de 2019 de Ari Aster

Cartaz de Midsommar

Sinopse: Uma jovem mulher parte com seu namorado e os amigos dele para uma viagem acadêmica em um vilarejo escandinavo tradicional durante as estações quentes, em que nem de noite escurece. Lá, coisas estranhas começam a acontecer.

Midsommar é um dos filmes de terror mais diferenciados que já vi na vida. Ari Aster já havia demonstrado sua segurança em dirigir terror mais tradicional com Hereditário, de 2018, mas é aqui que ele mostra toda a sua imaginação para nos aterrorizar.

Imagine um filme de terror sem escuridão. Isso é tão inusitado que me deixou desconcertado ao ouvir a premissa. Logo, ficou claro como havia muita possibilidade para causar medo. Como você se esconde do perigo durante o dia? Como você mantém a noção do tempo? Como você faz pra distinguir uma ameaça no meio de várias pessoas vivendo tranquilamente?

Além disso, este filme traz todo um retrato e discussão sobre saúde mental e acolhimento (que é o tema do filme) de uma maneira muito rica. Ari Aster é um dos diretores mais talentosos da atualidade.

A Lista de Schindler, filme de 1993 de Steven Spielberg

Cartaz da Lista de Schindler

Sinopse: Um rico empresário alemão contrata um judeu competente para cuidar de suas finanças logo no início da ascensão do nazismo. Aos poucos, sua fábrica vai se tornando um refúgio do extermínio para essa comunidade.

Falando em ver clássicos... este é o clássico dos clássicos. Filme que nunca envelhece, que décadas se passarão e ele continuará sólido, atemporal. Ele foi outro que demorei para ver, mas a espera valeu muito a pena.

Tratar de um tema importante não necessariamente traz qualidade a um filme (como falei anteriormente sobre Não Olhe Para Cima), mas quando você tem o talento de um dos maiores diretores de todos os tempos com uma das histórias mais envolventes de todos os tempos... o resultado não poderia ser outro se não um dos maiores filmes de todos os tempos.

Assim como O Segredo de Seus Olhos, mesmo vendo apenas uma vez tenho lembranças vívidas do filme quase inteiro, nada é por acaso, cada cena possui sua dose de impacto e desenvolvimento que vai crescendo ao longo do filme. Atuações sensacionais, direção absurda, roteiro belíssimo... definitivamente o melhor filme que assisti este ano com larga folga.

Tenet, filme de 2020 de Christopher Nolan

Cartaz de Tenet

Sinopse: Um espião é atacado por pessoas que usam armas esquisitas e quase morre. Ele é salvo por uma misteriosa organização chamada Tenet, que revela a ele um plano de destruição do mundo em andamento utilizando o auxílio de máquinas que invertem o sentido do tempo de objetos.

Este daqui é um caso curiosíssimo. Como a maioria dos filmes do Nolan, é um filme que tenta ser vanguarda. Infelizmente, ele tem um roteiro desnecessariamente complicado e tosco, uma bagunça completa com vários erros grotescos.

Mesmo assim, é um filme que recomendo demais todos assistirem porque traz conceitos e cenas absurdas que você jamais verá em nenhum outro lugar. Uma vez que você consegue forçar seu caminho pelos primeiros 30 minutos, o filme mostra suas qualidades em alto volume.

Nolan é um diretor muito divertido de se acompanhar porque mesmo quando ele faz filmes ruins, eles possuem um propósito, uma visão. E sempre tentam mover a indústria pra frente com experimentações. É uma experiência que vale ser testemunhada.

Como dizem no popular, “tem um filme muito bom escondido nesse monte de merda”.

Duna, filme de 2021 de Denis Villeneuve

Cartaz de Duna

Sinopse: No ano de 10191, Paul Atreides é herdeiro de uma das famílias que dividem um sistema solar. Eis que as autoridades decidem dar o planeta com a especiaria mais cara e preciosa do universo para o controle de sua família, retirando-o de outra. Tudo aparenta ser uma bênção, mas aos poucos as reais intenções vão se revelando.

Um dos grandes lançamentos do ano, de um dos meus diretores favoritos. Ele conseguiu fazer o que muitos achavam impossível: adaptar Duna.

E o resultado ficou maravilhoso. Ele tem domínio completo do filme e possui um respeito e devoção imensos ao mundo de Frank Herbert.

Ele também fez uma aposta com a estrutura narrativa do filme, que é uma grande metade de uma história, literalmente o filme para no meio do segundo ato e aguarda a parte II, que será outro filme com cerca de 2h30.

Há o risco da parte II ser ruim e por consequência tornar este filme pior, mas nas mãos de Villeneuve é possível confiar que virá coisa boa.

Séries

Essa vai ser a seção mais curta. Não sou uma pessoa que vê muitas séries, mas tem uma que vi ano passado que não poderia deixar de mencionar.

Mad Men, 2007-15, criada por Matthew Weiner

Poster promocional de Mad Men

Série que segue uma empresa de publicidade nos EUA dos anos 60, está junto de Breaking Bad como a melhor série que já vi na vida.

A riqueza temática e narrativa é algo sem igual entre suas pares, o desenvolvimento de personagens é feito com um cuidado invejável, todos eles cheios de camadas e relacionamentos que refletem e expandem o tema de cada episódio, o tema da série e o seu arco pessoal ao mesmo tempo.

Também possui atuações espetaculares por TODO o elenco e um dos finais mais satisfatórios que já vi. Recomendadíssima.

Por Um Ano Melhor

Sinto que mesmo tendo visto muita coisa boa, ainda foi menos do que gostaria devido aos estudos para a residência e trabalho por parte da minha vida pessoal, mas também devido à pandemia encarecendo tudo relacionado à eletrônica, impedindo cinemas e consumindo nossas energias.

Espero que em 2022 eu consiga ter uma retrospectiva muito mais rica do que essa em um ano muito mais tranquilo do que esse. E desejo o mesmo para você! Aproveite as sugestões para encontrar algo que te interesse.

Por Rafael Marinho Normande

#retrospectiva #listas