#002239 – 16 de Julho de 2025
Deixar de escutar música é sintoma que conheço. Deixar de ler é sintoma pior, sinal de mais avançada maleita. Este mais curto, já ultrapassado. O primeiro ainda em vestígio, agora que inicio a convalescença.
Deixar de escutar música é sintoma que conheço. Deixar de ler é sintoma pior, sinal de mais avançada maleita. Este mais curto, já ultrapassado. O primeiro ainda em vestígio, agora que inicio a convalescença.
Estar presente. Nem tudo, quase nada, é ameaça. Ser equânime, luminoso, basta deixar de inspirar cinza.
Vontade de floresta, de sombra verde, de Gerês, fôlego mineral, passos de amigos próximos, garranos, cachenas, cogumelos e riachos, musgo, licranços, sapos e nós humanos, de visita, quase pertencendo também ao que é anterior à linguagem.
A tatuagem continua hoje. O meu braço é mais meu, a beleza é de escolha minha.
Desapego e ternura. Sei do que preciso, o que é necessário acalentar. Viver como se não fosse preciso cuidarem de mim. Que a carência caia como carapaça caduca. Sou solar se sair sonhando solto.
A vida escreve, inscreve-se em mim. Há que dar menos as costas à cruz, sobretudo cruzes que eu próprio construí. É mais difícil ver o que me fica escrito nas costas.
Terapia, caminho feito de me ir escutando e de aprender a falar mais honestamente comigo mesmo.
Tanto adiei, hesitei, duvidei, que fui criando o talento de paralisar. Nem é por medo, não o chego a sentir. É cautela afiada, que corta a gordura da vida, divide o que não é de separar, e aleija, às vezes mais que a própria vida.