Kroeber

#002201 – 08 de Junho de 2025

É bizarro ver a pergunta “Quais são os limites do humor?” repetida até à exaustão pela imprensa no caso em que os Anjos arrastaram a Joana Marques até ao tribunal. A pergunta não tem capacidade de gerar boas conversas. Mas ainda que tentemos responder, havendo limite para o humor, de certeza que estará muito longe do acto específico pelo qual a Joana Marques está a ser julgada. Não há nada de insultuoso, de inconstitucional, nenhum apelo à violência, nada que nos faça pensar que a humorista pisou algum risco ético ou legal. Há apenas um vídeo com uma legenda, bastante modesta na sua ironia. A ideia de que se pode imputar os danos para a carreira destes músicos e o assédio moral que terão sofrido online àquele vídeo é imoral. Havendo uma indescritível loucura jurídica que dê razão aos Anjos, o que poderá impedir a seguir um político de levar a tribunal qualquer crítica ou sarcasmo, se a barra para o que intoleramos é tão baixa?

#002200 – 07 de Junho de 2025

A teoria musical que vou aprendendo é um mapa que não só ilumina o território mas expande muito a compreensão dos fragmentos que eu conhecia. Não é só ter um mapa com rios e glaciares, vales e montanhas. É aprender que existem, como parte de uma mesma geografia. Vou reconhecendo na teoria a música que já escutava, e é como se só agora começasse a escutar de facto. Estou muito grato a esta professora.

#002199 – 06 de Junho de 2025

A extrema direita insiste que os imigrantes são uma ameaça. Mas são eles, os ultranacionalistas, os neo-nazis, os ultraconservadores mais intolerantes que aumentam a sensação de insegurança. Atacam pessoas na rua, assediam pessoas nas redes sociais, com ameaças de morte e outros apelos directos à violência contra quem não lhes agrada, interrompem lançamentos de livros e outros eventos. Sim, tem aumentado a insegurança, ou pelo menos a sensação de insegurança. Mas é consequência directa do extremismo destes grupos, não das pessoas que vieram para Portugal para melhorar a sua vida.

#002198 – 05 de Junho de 2025

Todos os dias olho para o cursor a piscar e evito escrever sobre as guerras no mundo, o ódio nas ruas portuguesas.

#002197 – 04 de Junho de 2025

Moonlighting, com Cybill Shepherd e Bruce Willis, teve um episódio em que tudo e mais alguma coisa aconteceu. Tornou-se um musical a meio, foi quebrada a quarta parede, foi revelado o cenário, as personagens, ainda a cantar saíram do estúdio para a rua, a letra da canção falou sobre a queda nas audiências, o possível cancelamento da série e a necessidade de surpreender os espectadores. O episódio “The Betrayal”, da temporada 9 de Seinfeld é contacto de forma linear mas no sentido do passado. Não me lembro de mais nenhuma narrativa no ecrã contada assim, geralmente há flashbacks, até flashbacks consecutivos, mas este episódio da sitcom americana foi contado em cenas curtas, consecutivas, em que a cena seguinte se passava sempre no passado, até que a última cena é Jerry, 11 anos no passado, a chegar ao apartamento e a conhecer Kramer. A cena inicial é incompreensível e as seguintes, no passado, vão explicando o presente. Até que, estabelecido o método, o argumentista brinca com ele. A quarta parede não é quebrada, mas há o mesmo tipo de cumplicidade com o público que o stand-up tem, em que o comediante faz com que o público se ria da própria construção, essa espécie de pacto em que comediante e público se riem ambos do que acontece em palco. Aqui argumentista e audiência estão nesse plano, a olhar para um mesmo artefacto. As séries actuais têm uma métrica de sucesso diferente: quão binge-worthy é uma temporada? Isso torna o arco narrativo diferente. Por muito que goste da qualidade geral das séries, quando comparada com os anos 80 e 90, em que cresci, tenho saudades de ver episódios experimentais, quando uma série estabelecida já se tinha tornado previsível e perdia audiência. Talvez hoje em dia haja demasiada informação sobre o que “funcione”, que tipo de imagens e histórias produzem mais engagement. Mas é uma pena. Havendo menos margem para falhar, há também menos chance de criar algo inesperado.

#002196 – 03 de Junho de 2025

Em casa a recuperar da lesão no ombro, tenho mais tempo para as notícias. Não ajuda a animar-me. O mundo trumpifica-se.

#002195 – 02 de Junho de 2025

Foram necessários 4 mil milhões de anos de evolução para nós, humanos existirmos. Segundo Sara Imari Walker é por isso que não somos redutíveis aos átomos que nos constituem. Ao fazê-lo estamos a eliminar as linhagens que nos trouxeram até aqui e a evolução necessária.

#002194 – 01 de Junho de 2025

Plutão e Caronte. Só hoje descobri que faz pouco sentido falar de Plutão sem falar de Caronte. A tamanho da minha ignorância continua a crescer, esse litoral da ínfima ilha das coisas que sei.

#002193 – 31 de Maio de 2025

Josh Johnson a curar feridas, o riso a fazer ruir as crostas do medo.

#002192 – 30 de Maio de 2025

Owen Jones a apontar o dedo à cumplicidade dos meios de comunicação com o genocídio em Gaza. A verdade morde-nos os olhos, diariamente.