Kroeber

#002229 – 06 de Julho de 2025

Seinfeld é mais um de muitos que castiga verbalmente quem defende uma Palestina livre. É difícil de acreditar que chegámos a este ponto, em que os que protestam contra um genocídio claro são recebidos como anti-semitas e terroristas. No Reino Unido, nos EUA e na Alemanha atira-se a violência da polícia e as sentenças dos tribunais contra os activistas.

#002228 – 05 de Julho de 2025

Cassandra ressacada, acordo sem conseguir encarar ainda o passado. Escrevo no passado feito apenas de inércia acumulada. Sei do futuro que não o é, já desencorajado pelas desgraças futuras, que vivo no presente.

#002227 – 04 de Julho de 2025

Estou mais de dois meses atrasado nos textos que aqui escrevo. Já esgotei as analogias com viagens no tempo. Estou, tente-se algo de novo, a rebocar este diário com uma corda elástica. Às vezes ela estica muito e o texto mais recente afasta-se do dia em que o escrevo, outras vezes, como agora, o elástico contrai e aproxima a data-título da data real.

#002226 – 03 de Julho de 2025

Loja do Cidadão. Alterno entre a leitura de Empire of AI e Record of a Spaceborn Few. Estou irrequieto, de mau humor, esqueci-me de novo da aula no ginásio. Estou parado, felizmente, ainda a hesitar desistir já de tudo para me fechar mais ainda. Sei que é simples (fácil ou não é outra história) mexer-me no sentido contrário, ir para fora, para cima, para a luz, mover-me. Há que sabotar a auto-sabotagem.

#002225 – 02 de Julho de 2025

Entre outras coisas, a depressão coloca-nos como observadores passivos da nossa miséria. Cair em depressão é irmo-nos retirando do centro da nossa vontade. Os padrões antigos talvez sejam um conforto melancólico. Como assistir ao consecutivo desligar das luzes de uma rua que conhecemos só assim, ao escurecer. Há que recordar as formas como tenho conseguido reacender-me de volta à vida.

#002224 – 01 de Julho de 2025

O pitch final em que o protagonista comove as outras personagens, mostrando tudo o que aprendeu e quanto cresceu durante as peripécias por que passou é uma das figuras típicas do cinema americano. Uma comédia romântica geralmente tem esta cena como desfecho. Um filme de acção tem, tradicionalmente, outro tipo de desfecho, a que podemos chamar “it ain't over 'till the fat lady sings”. Depois de tudo o que passou o herói, finalmente a vitória, mas então, surpresa, ainda há um final boss, ou uma última tarefa hercúlea, ou um último perigo existencial.

#002223 – 30 de Junho de 2025

Sou o único cliente num brunch nas Caldas da Rainha. A pessoa que me veio atender, que imagino ser quem me vai fazer uns ovos Benedict, está ao telefone em violenta discussão passional, a música de fundo é uma bossa nova de elevador, cantada em inglês.

#002222 – 29 de Junho de 2025

Carpaccio de salmão, retoques num poema que possivelmente lerei numa próxima Purga, Record of a Spaceborn Few, que talvez termine no comboio de regresso.

#002221 – 28 de Junho de 2025

É fácil acreditar que há uma pessoa compatível comigo, uma parceira romântica óbvia, a partilhar sentido de humor e demais apetites de vida. A improbabilidade é que eu alguma vez me cruze com essa pessoa.

#002220 – 27 de Junho de 2025

O que menos gosto na expressão “não há almoços grátis” é o seu uso não metafórico. Há ideologias que consideram que passar ou não fome deve ser tratado como uma questão de mérito e não de direitos humanos.