#002059 – 16 de Janeiro de 2025
A música do Jacob Collier é vibrante, alegra, luminosa. Passa todos os limites do suportável, tão colorida como as roupas do talentoso cantautor e multi-instrumentista. E, no entanto, funciona.
A música do Jacob Collier é vibrante, alegra, luminosa. Passa todos os limites do suportável, tão colorida como as roupas do talentoso cantautor e multi-instrumentista. E, no entanto, funciona.
Não é muito original dizê-lo mas é certeiro: a constante da minha vida tem sido a permanência de altos e baixos.
Preparo-me para esperar umas horas nas urgências. Começo a ler “The Internet Con” do Doctorow, e estou francamente curioso em saber até que página conseguirei chegar antes de ter alta.
A lentidão é uma oportunidade de ver o que a aceleração oculta. Um homem de idade, apoiado na mulher e numa bengala, avança a custo até à saída. Ao chegar à porta, tropeça mesmo ao meu lado. Amparo-lhe a queda e seguro-o pelo braço. Vamos, os três, até ao carro. A viatura está a uns dez metros, mas demoramos muito tempo. É oportunidade para nos conhecermos. Vamos falando de nós e da nossa família. E à despedida, diz-me o homem que gostou muito de me conhecer. Retribuo-lhe a simpatia, com sinceridade. Foi uma pequena viagem que fizemos, que só se revelou pela muito baixa velocidade a que caminhámos.
No contexto da disrupção causada pela inteligência artificial às relações laborais, Cory Doctorow fala de dois conceitos reveladores. O primeiro, benigno, é o do centauro: uma cabeça humana com locomoção de IA. É O trabalhador que dirige, toma decisões e é recompensado justamente, sendo a IA uma ferramenta que lhe aumenta a produtividade. O outro modelo é o do centauro invertido: um cérebro IA empurrado pelo trabalho humano. É o software que está no centro, por mais incompleto e cheio de bugs, e os trabalhadores servem apenas para ajudar a que o software vá funcionando, não são valorizados, são mal pagos e considerados descartáveis.
Diz Doctorow: “seize the means of computation”. E insiste em desconstruir a expressão “if you're not paying, you are the product”. Explica que, mesmo quando pagamos, continuamos a ser o produto. E que, nesta fase em que estamos, as grandes plataformas digitais extraem o máximo quer do cliente final, quer do cliente empresarial. Isto é fácil de observar na Amazon, por exemplo.