view#002001 – 19 de Novembro de 2024
Content creator é uma expressão triste mas reveladora. Faz-me lembrar a crítica de Franco Berardi à promoção da ideia de nos conectarmos. Diz Berardi que só componentes se podem conectar, que uma conexão implica que os dois lados sejam compatíveis, análogos, que sejam semelhantes. E sugere, na tradução em inglês, conjunction em vez de connexion. Explica que uma conjunção (tradução trapalhona minha) não exige que as duas pessoas (instituições, comunidades, ideias, etc) sejam iguais e abre espaço a que se influenciem e transformem uma à outra.
Da mesma forma, nenhum conteúdo, por mais radical, humanitário, bem intencionado e genial, pode só por si mudar o meio em que é difundido. Conteúdo é, por definição, algo que não só não ameaça a estrutura que o difunde, mas a alimenta e sustenta. Não tendo a lucidez e sabedoria de Berardi, não sei que alternativa temos.
view#002000 – 18 de Novembro de 2024
As selfies mudaram a perspectiva das fotos. Por defeito, uma foto é agora um instantâneo do eu. Uma selfie é o acto de alguém que aponta a câmara a si mesmo. Quando, antes, uma foto tinha a mesma direção do olhar: de dentro para fora.
O TikTok impulsionou uma outra mudança de perspectiva. Agora, em todas as plataformas digitais, a dança é algo que se faz virado para a câmara, em vez de ser um movimento com referência no quotidiano do nosso movimento, em que o corpo observa o que está em redor. Agora o olhar de quem dança está fixo na câmara.
Estas duas transformações significam que, por defeito, a representação é acto egocêntrico e tautológico (é a nós que representamos, nas fotos) e a performance é um acto libidinoso, focado no olhar do outro (por detrás da câmara). Por outras palavras, não nos interessa representar o mundo e não escapamos ao olhar do grande outro.
view#001999 – 17 de Novembro de 2024
Do Soajo até Lindoso. Etapa em pleno Verão de São Martinho. Joelhos refrescados pela água gelada de um riacho, depois de muitos quilómetros.
view#001998 – 16 de Novembro de 2024
De Adrão até ao Soajo, quinze quilómetros de monte.
view#001997 – 15 de Novembro de 2024
Amanhã, o Gerês. A grande rota, garranos e cachenas, água, tudo verde.
view#001996 – 14 de Novembro de 2024
A cobertura jornalística dos desacatos provocados por fãs do Maccabi Tel Aviv foi vergonhosa. Fica em causa o papel da imprensa nas nossas democracias. Tem sido desolador ver a força diplomática do país agressor que executa um genocídio de forma impune. Mas ainda assim foi surpreendente ver o spin fez de hooligans vítimas inocentes. E chocante ver como imagens dessas agressões foram usadas para ilustrar mentiras, para contar a história inversa do que aconteceu na realidade.
view#001995 – 13 de Novembro de 2024
Aumenta o frio, diminui cintura, multiplicam-se dores, escasseia luz.
view#001994 – 12 de Novembro de 2024
Os títulos aqui são números, um mero cardinal cumulativo. Ainda assim, os números não são todos iguais. E lembram-me, os actuais, os anos da minha adolescência. O grunge, a descoberta de que sou bipolar, os verões enormes.
view#001993 – 11 de Novembro de 2024
O corpo é uma coleção de mazelas, dorezinhas, lesões antigas, manhas e maleitas. A velhice não vem de repente, acumula-se, chega de mansinho e vai ficando. Há que escutar o corpo, sim, mas por vezes fazer orelhas moucas ajuda.
view#001992 – 10 de Novembro de 2024
Invisible Mountain é um dos meus álbuns favoritos. Mas, se pensar nisso, boa parte dos álbuns de Horseback estaria em qualquer lista da música que mais gosto. Este, em particular, consegue activar partes do que sou de forma imediata, terapêutica, misteriosa. Mexe com coisas diferentes, que não sabia poderem dançar juntas. O íntimo é profundo, os ecos do inconsciente atravessam distâncias transformadoras. É como se para a sombra se contaminar inteiramente de luz fosse uma questão de lhe encontrar viagem suficientemente longa para que a natureza da sua escuridão não pudesse ficar incólume.