view#001922 – 01 de Setembro de 2024
Curiosamente, outro nome que se dá ao chaotic hardcore é mathcore. A música gera estes belos paradoxos, é por vezes precisa matemática para soar caótico. Tal como é necessário perceber de harmonia para soar dissonante.
view#001921 – 31 de Agosto de 2024
Mesmo nas situações sociais mais difíceis, no meio da guerra, da mais odiosa opressão, há diferença entre ter uma atitude política de acordo com a nossa ética (mesmo com muitas contradições e falhas), ou sucumbir completamente ao cinismo e reagir apenas com violência e nihilismo. Quanto mais nas nossas sociedades, formalmente ainda democracias, em que geralmente temos margem para tentar fazer valer os nossos direitos e em que nos podemos organizar livremente em volta de causas comuns. Uma vida em que nos respeitamos porque fazemos coincidir, tanto quanto possível, a nossa ética com as nossas ações no mundo, é preciosa. Mesmo para quem duvida da viabilidade de um futuro comum, uma vida que vale a pena viver não é mero prémio de consolação. É um objectivo.
view#001920 – 30 de Agosto de 2024
Com o tempo, talvez contando que ninguém leia o que aqui escrevo, fui descurando demasiado o cuidado com que faço a revisão de um texto antes de o publicar. Ao escrever no telemóvel um texto mais comprido enquanto viajo, por exemplo, acontece haver um número considerável de erros ortográficos. Envergonho-me ao reler alguns textos e custa-me a ideia que algumas entradas neste diário estão cheias de erros que nunca identifiquei para que pudesse sequer ter hipótese de os corrigir.
view#001919 – 29 de Agosto de 2024
Vestigial Spectra junta Fawn Limbs e Nadja. É uma colaboração surpreendente. Conheci Fawn Limbs através de Sleeper Vessels, de 2020, um álbum de velocidade grindcore, com um meticuloso caos rítmico à math metal, uma deslumbrante obra prima de agressão sonora. E os álbuns de Nadja escuto-os pelos drones, por uma lentidão de lava, uma atmosfera a fazer lembrar a doce imprecisão low-fi do shoegaze. Que o ritmo e a textura de uma e outra banda pudessem colidir de forma tao gulosa e brilhante, não o poderia imaginar. Que festim para os ouvidos.
view#001918 – 28 de Agosto de 2024
O corpo não é uma máquina. Um organismo é mais do que a soma das partes, não um conjunto de componentes. Os tecidos regeneram-se, os ossos crescem, os órgãos resistem a mal tratos. Mesmo com mudanças extremas, um corpo humano continua a ser corpo. E existem, a caminho do envelhecimento, muitas oportunidades de melhorar a saúde, não substituindo peças, ou fazendo manutenção, como a uma máquina, mas usando e alimentando o corpo melhor. Dito de outra forma: emagreço e ganho músculo.
view#001917 – 27 de Agosto de 2024
Pode talvez dizer-se que sou ambicioso. Desejo intensamente, não coisas externas ao que sou, mas mudar-me a mim mesmo.
view#001916 – 26 de Agosto de 2026
Os casamentos e batizados servem para manter o contacto com pessoas que não encontramos de outra forma. Quando se viveu quatro, cinco ou mais décadas, começa-se a encontrar as mesmas pessoas só nestas ocasiões. E falamos com algumas como se fossem do nosso quotidiano. De certa maneira, fomos envelhecendo juntos. Com as pessoas que só vemos em eventos familiares, é como se vivêssemos numa cópia do universo em que vivemos habitualmente, mas em que o tempo passa de forma diferente. Acelera muito, entre reencontros. Escapa-se rápido.
view#001915 – 25 de Agosto de 2024
Passar pelo síndroma de impostor já é alguma coisa. Significa ao menos que se chegou aonde se queria. E quando nem isso acontece?
view#001914 – 24 de Agosto de 2024
No fundo, este sossego é uma das principais vantagens de aqui escrever. Não há retweets, nem gostos, nem comentários. E... nem leitores.
view#001913 – 23 de Agosto de 2024
Acabou, há mais de 15 anos, a ingenuidade de quem escreve online. Tenho algumas saudades de quando, há 20 anos, escrevia num blogue despreocupadamente. Hoje, o receio de que a minha privacidade ou os meus dados fiquem em causa; o perigo de assédio ou doxxing e as potenciais consequências de uma ideia minha ser mal-entendida, tudo isto lança uma nuvem sobre o que escrevo. Não sei ainda se tantas limitações são inevitavelmente castradoras. Ou se a criatividade sairá favorecida, como noutras situações comuns para quem escreve, em que existem restrições formais para o texto em que se trabalha. Sei que não respeito em absoluto o meu próprio pudor, pisando às vezes um risco que nem sei onde fica. Mas que ainda assim defendo para todos uma liberdade de expressão que não pratico.