Acordo com um sonho estranho. A cama treme. De manhã as notícias confirmam que foi um sismo. É reconfortante ainda haver situações em que as notícias ajudam a revelar o que é real. Hoje é 26 de Agosto. Escrevo de novo com atraso.
Dormir é um talento. Sou, infelizmente, pouco dotado nesse ofício do descanso. Insónia, que me é natural, é palavra tão negativa como negócio. Como demonstro, ser amante do ócio não me dá nenhuma vantagem na altura de cair no sono.
O Teqball é um desporto muito jovem. Faz este ano apenas dez anos desde a sua criação e espero que um dia chegue aos Jogos Olímpicos. É o que se poderia chamar um desporto crossover ou de fusão. Tal como o Caiaque polo, que pega na mecânica do polo aquático mas é praticado dentro de caiaques. Ou o Wingfoil, que usa uma asa para impulsionar uma prancha de surf foil. Ou o Wakeskate, que é uma espécie de fusão entre wakeboard num percurso aquático a fazer lembrar uma competição de street skate. O Teqball, lê-se online, foi criado por entusiastas do futebol na Hungria. E pode descrever-se de forma resumida como futebol de mesa, um crossover entre o pingue pongue e o o futebol. Alguns dos atletas de topo são tailandeses e vêm do Sepak Takraw. Sendo este desporto um dos meus favoritos, gostaria que influenciasse o Teqball. Assisto à espectacular final de 2023 entre Kuntatong e Fontes e emociono-me ao ver a tailandesa a rematar com a incrível técnica do Sepak Takraw. Tal como ainda torço para que o Tricking não perca as influências de Capeira e Taekwondo, porque são movimentos cuja beleza me impressiona, gostaria que a incrível proficiência atlética do Sepak Takraw deixasse a sua marca no Teqball. Está tudo ainda a definir-se. Há muito tempo que gosto de ver modalidades crescer. Sobretudo as mais acrobáticas e belas.
A música do Luca Argel acrescenta mundo ao meu mundo. Cada canção é um espaço vasto, um universo de experiência humana, um alfabeto inteiro de emoções e lutas. Não há separação entre o íntimo e o social, entre o activismo e o crescimento pessoal. É esta a minha revolução, com esta música eu danço.
Vinte anos depois, revejo Lost. Desta vez por ordem, sem perder um episódio. Prefiro, sinceramente, esta era do streaming. Percebo, a meio do episódio 19 da primeira temporada, que a razão principal de ter rapidamente perdido o fio à meada, foi não ter visto todos os episódios. E, é certo, a partir de certo momento, quando estavam a dar várias temporadas na televisão portuguesa ao mesmo tempo, nem sabia bem a que temporada um episódio pertencia.
É verdade que fiz muito desporto enquanto crescia. E que detesto colecionar coisas. Que o cos play de super heróis me aborrece, que gosto de muito poucas coisas dos estereótipos nerd. Que abandonei a informática para tentar a filosofia. Que não vi nem quero ver os filmes da série Star Wars. Que as expressões faciais intensas das personagens manga e anime me irritam. Mas depois, reparo que para tudo inicio uma folha de excel. Como agora, para este emagrecimento.
Quando não está a dormir ou a trabalhar, a humanidade está a ser entretida. Cada vez mais o entretenimento é dado à colher do ecrã. Cada vez mais circo e pouco pão.
Não é tanto a dimensão do universo que me faz sentir ínfimo, embora saiba que o sou. É a escala temporal. Só na adolescência é que vivi como se fosse imortal. Agora o tempo é uma sombra extra, que se projecta do meu corpo gordo em cada movimento. E que se encolhe, emagrecendo de tamanho a cada ano. Saber que não poderei assistir a mais que uma fração de um instante da realidade: eis o que provoca uma certa urgência, quase angústia em cada decisão que implique anos de investimento. Tão poucos me restam que os quero bons.
Envergonho-me por perder a calma. Na autoestrada mostro um dedo do meio a um condutor que se colou atrás de mim, a ligar e desligar os máximos. Depois de passar por mim, seguiu, felizmente, a ziguezaguear entre as três faixas, como se estivesse num jogo de computador. Nos países que visitei, e em alguns conduzi, nunca vi este hábito tão português, que se torna um valor: a ideia de que estar sempre a mudar de faixa é mais seguro do que mantermo-nos na mesma faixa. Quando, como hoje, há muito trânsito, e todas as faixas têm carros, se formos pessoas sensatas, devemos circular na faixa em que os carros circulam à mesma velocidade que nós. Mas para os psicopatas como este condutor, que me tentou intimidar, numa situação com dezenas de carros à nossa volta, andar constantemente a mudar de faixa é que mostra a sua aderência à regra “circular na faixa mais à direita”. Escrevo e recupero o gosto acre da raiva. Por isso abandono o texto aqui. Não conseguirei dizer nada de útil.