Kroeber

#001965 – 14 de Outubro de 2024

Recupero forças, de pernas doridas. Releio textos antigos.

#001964 – 13 de Outubro de 2024

De Lamas de Mouro vamos até à Peneda. Comemos umas maravilhosas bifanas, antes de nos fazermos ao caminho até Adrão. Serão 20 quilómetros em que por vezes a Via Mariana coincide com a GR50, as pedras colocadas pelos romanos a sobressair na água. Trilho que muitas vezes coincide com ribeiras. Riachos com a força das chuvas recentes a descer a encosta e alimentar o rio à nossa beira. A chegada à Mistura das Águas é momento para entrar nas águas do Rio da Peneda e do Rio da Veiga, frias correntes a alisar continuamente as rochas do seu leito, ali comum. As dores nas pernas são anestesiadas pelo frio mineral da água rápida. Na subida até Tibo, encontramos pessoas conhecidas. O dia acaba com cansaço e sorrisos, pernas moídas e alma limpa. Em Arcos de Valdevez deixamos o impermeável do taxista e comemos numa pastelaria, antes de regressarmos. Neste fim-de-semana, fizemos 4 das 19 etapas.

#001963 – 12 de Outubro de 2024

De Adrão vamos até a Pontes de táxi. Tinhamos passado na Porta do Mezio, já imersos em floresta. Ainda preparados para a chuva, o taxista empresta um impermeável a um de nós, que depois segundo ele pode ser deixado em qualquer sítio, como uma bomba de gasolina, que toda a gente o conhece. Os 17 quilómetros de monte têm sempre o som da água, os fradinhos e as flores de açafrão selvagem. Há cachenas e garranos e cães pastores. Comemos umas sandes em Castro Laboreiro e seguimos caminho até descer para Lamas de Moro. O Naco de Vitela, no Vidoeiro, é acompanhado de Monsaraz. A noite é passado na rede debaixo de cedros, com o som do riacho mesmo ao pé.

#001962 – 11 de Outubro de 2024

Amanhã começamos a rota GR50.

#001961 – 10 de Outubro de 2024

A música de M.I.A. funciona comigo como o som do flautista de Hamelin. Fico num alvoroço de movimento incontrolável, numa exuberância de dança e alegria. Até me esqueço de tudo o que é...

#001960 – 09 de Outubro de 2024

Furações. Kirk, o que ontem derrubou árvores e estruturas e provocou acidentes rodoviários no norte de Portugal. Milton, o que se aproxima da Flórida e que poderá ser o mais destrutivo de sempre na região.

#001959 – 08 de Outubro de 2024

Continuo a achar estranho que se confunda determinismo com predestinação. Que se diga pré-determinado para falar de cadeias de causa e efeito. Sem a teoria do caos, não consigo pensar nos fenómenos, nas ligação entre cada evento, cada circunstância. Em cada momento, a cada evento, como quando alguém cai na rua, a realidade física é determinada por causas e efeitos, é verdade. Mas os sistemas em que nos movemos, em que a matéria existe, são muito complexos, inevitavelmente caóticos. Basta que a pessoa caia uma fracção de segundo antes para desencadear eventos ligeira ou totalmente diferentes.

E não acredito que seja alguma vez possível conhecer todas as condições iniciais. Nunca sabemos, como no mesmo exemplo, tudo o que pode afectar a velocidade, o local, a trajetória, a intensidade nem sequer a probalidade de alguém cair no chão. Só em abstracto é que estudamos os movimentos Newtonianos, pensando só em massa, energia, velocidade, fricção e outras coisas finitas, mensuráveis e de variação previsível. Quando o movimento é o de uma pessoa numa cidade, há a somar a tudo o que já se desconhece, todas as condições interiores, químicas, psicológicas, neurológicas. E não imagino que fosse possível elencar todas as condições. Como na matemática, em que há infinitos incontáveis (como o conjunto de todos os números reais), não é contável, sugiro, o conjunto de todas as condições, suas causas imediatas e seus efeitos imediatos. Porque assim que se altera um detalhe ínfimo, se estrutura nova quantidade imensa de novas relações de causa e efeito.

Esta é a outra face da inexistência do livre arbítrio: o caos. Não é que se possa imaginar agirmos em liberdade absoluta, sem que as nossas acções sejam efeitos determinados por causas reais. O determinismo é o que faz mais sentido. Mas também não faz sentido a ideia de que tudo está pré-determinado. Cada pequena variação importa. É o caos a nossa redenção, o espaço entrelinhas em que nos movemos. É uma espécie de arbítrio condicionado, fractal, onde cabe tudo o que é possível, num infinito demasiado grande, com espaço suficiente para a nossa acção no mundo.

#001958 – 07 de Outubro de 2024

Menos de um mês para as eleições presidenciais americanas. É a terceira vez que, no resto do mundo, aguardarmos nervosamente. Divididos e contaminados pelas maleitas políticas daquele país, parece que mais uma vez é a final countdown, que estamos mais perto do fim do mundo, ou da democracia, ou da possibilidade de paz, ou das condições de habitabilidade no planeta. Como é que chegámos aqui, tão dependentes desta cultura tão destrutiva, deste império tão decadente?

#001957 – 06 de Outubro de 2024

Saltaram peças do meu MixUp cube, que se desmanchou. Resolver um cubo destes é um prazer, depois de se aprender, não é bem um quebra-cabeças, é uma forma de treinar a agilidade visual e a coordenação motora. Já voltar a montá-lo, isso sim, é uma tarefa hercúlea, que continuo a adiar.

#001956 – 05 de Outubro de 2024

Pouca luz. Se não chove, nuvens espessas. A amostra anual de inverno suave, à portuguesa, confirma-me sempre que não conseguiria viver num país perto do ártico. E, na verdade, ainda mal começou o outono.