Kroeber

#002176 – 14 de Maio de 2025

Depois da invenção do Guitolão, ressuscita o Guitarrinho. A música popular está viva e em mutação.

#002175 – 13 de Maio de 2025

Com a democracia a perder fãs, cada eleição começa a parecer derradeira. Que saudades de quando a política era aborrecida e previsível.

#002174 – 12 de Maio de 2025

Estou orgulhoso do meu pai. Começou a fazer exercício no ginásio, para reduzir peso e melhorar a saúde e a mobilidade. Oito décadas de experiência neste planeta e ainda é capaz de nos surpreender.

#002173 – 11 de Maio de 2025

A realidade descreve-se com ficção. O passado constrói-se com ensaio. O futuro próximo é a banha da cobra que a política vende. E a religião quer curar o sofrimento com eternidade. Já a escrita faz isto: inventa mentiras plausíveis. Resta-nos, nos interstícios da linguagem, a bondade de que sejamos capazes, o espanto que nos deixe com curiosidade do que vem, um sorriso inesperado de alguém que repara em nós.

#002172 – 10 de Maio de 2025

Deixarmos o software a falar consigo mesmo. Usarmos assistentes virtuais que respondam a scam mail e solicitações legítimas, resumos redigidos por chatboxes. Androides a vender internet porta a porta atendidos pelos robôs domésticos. E nós a cozinhar uns para os outros, a nadar no mar, a pedalar. Ensinarmos às crianças como se constroem papagaios de papel e com elas reaprender a brincar. Batermos à porta dos amigos e na rua reconhecermos vizinhos. Ou então, a selvajaria digital, o saque dos nossos dados pessoais, o tecnofeudalismo habitual.

#002171 – 09 de Maio de 2025

Existem vídeos de gatos suficientes para alimentar modelos de IA generativa. O conteúdo curto, de activação rápida da dopamina poderá ter variações infinitas, cada vez mais e mais eficazes.

#002170 – 08 de Maio de 2025

É-me fácil tirar paralelos entre o clima de São Miguel e a minha personalidade e impossível levar a mal a constante flutuação do tempo na ilha. Ando com o casaco de carapuço, com dois casacos até, um muito leve, para quando está vento frio e calor. Outro que aquece e protege da chuva. Mangas curtas, ou um dos casacos, alterno a vestimenta constantemente. O sol é quente mas chuvisca, ou vem uma nuvem e fica escuro, chovem gotas geladas, ou passa o nevoeiro e a seguir sol de novo. Num espaço de meia-hora, as quatro estações. Se subirmos até à Lagoa do Fogo ou seguirmos para as Sete Cidades, por vezes são ainda mais agrestes o nevoeiro, o frio e a chuva. Sou bipolar e mesmo saudável e tratado, o meu humor varia ao longo do dia. Vou-me adaptando à forma como me sinto, tentando não dar demasiada importância aos ventos emocionais efémeros, nem me deixar definir pela atmosfera mental do momento. Em São Miguel, nunca me esqueço que estou num espaço natural, vivo, que a ecosfera não é uma casa climatizada, uma habitação. É um organismo, dinâmico, que se faz sentir. Aqui, não faço nenhum esforço para estar no momento, atento ao que se passa, respirando mais tranquilamente, aceitando as mudanças constantes do tempo.

#002169 – 07 de Maio de 2025

Faço a viagem de Sete Cidades até Ponta Delgada devagar, parando muitas vezes a bicicleta, já nostálgico, sem pressa nenhuma de deixar esta paisagem para trás. Vou comer agora uma caldeirada, aqui não lhe chamam molho de peixe, amanhã regresso ao continente.

#002168 – 06 de Maio de 2025

Dia de descanso a pedalar. Uma dúzia de quilómetros ao longo das margens das lagoas, piquenique junto à Lagoa Azul, tempo limpo com chuviscos ocasionais, a contrariar a previsão meteorológica mais pessimista. Coração que desacelerou, para ritmo mais próximo da música à minha volta.

#002167 – 05 de Maio de 2025

Hoje foi o dia mais duro de todos os passeios de bicicleta que fiz. E um dia absolutamente feliz. Fui da Praia do Fogo às Sete Cidades, a bicicleta carregada com a minha bagagem. Saí quase às 09h00 e cheguei pelas 19h30. Almocei na Ribeira Grande, onde comprei três queijadas locais, que comi enquanto subia. A descida para as Setes Cidades teve vento forte, chuva e frio. O nevoeiro cerrado acompanhou-me boa parte da viagem. Ao jantar provei mais uma queijada, com amora. Antes de me deitar vejo um documentário na RTP Açores sobre o Renato, um guia de montanha que já subiu mais de 2000 vezes ao Pico.