#002166 – 04 de Maio de 2025
Manhã de preguiça, tarde a caminhar pelo trilho do Agrião. É dia da mãe e eu gosto muito da minha, estou-lhe grato pela vida que me deu, pelo seu amor sem fim.
Manhã de preguiça, tarde a caminhar pelo trilho do Agrião. É dia da mãe e eu gosto muito da minha, estou-lhe grato pela vida que me deu, pelo seu amor sem fim.
Uma subida longa e bonita, mais de mil inclinados metros imerso em verde e canto de pássaros, para descer finalmente até ao vale das Furnas, ainda a tempo de comer um bife. Ao pequeno-almoço tinha experimentado pela primeira vez uma queijada da Graciosa, até agora a minha preferida. A meio da tarde, a chegada à Praia do Fogo, com neblina e chuvisco. Vou até à água, os meus pés gratos pelo banho de mar. Aguardo a tosta mista e mais uma Kima. Ando a abusar deste refrigerante de maracujá açoriano.
Chego a São Miguel e conheço o Sérgio, que se mudou com a família e a cadela da capital, para conduzir um táxi e ter mais qualidade de vida. Somos dois forasteiros, a partilhar um deslumbramento com lugar tão bonito. Faço uma caminhada pelo litoral, de Ponta Delgada até ao Pópulo, e a bicicleta espera-me no hostel. Venho jantar pedalando, as horas que aqui passei lentas e boas.
Tomar os meios de produção, os meios de computação (como diz Doctorow), reconhecer o valor que tem o dia do operário, como diz Luca Argel. E dançar, haja ou não revolução.
A política passou de aborrecida a perigosa. Em poucos anos, os que mais desconfiam da democracia conseguiram parasitá-la. Cada ciclo de eleições é angustiante. A um desastre assim não se vira costas.
Ler. Nenhuma outra actividade, para além das necessidades básicas, como comer, dormir e respirar, seria mais difícil de abandonar. Para uma cabeça curiosa, espantada desde sempre com o mundo, cheia da sofreguidão dos ignorantes e do assombro de um aprendiz, nada é tão essencial. A linguagem ensina-nos, para além de todo o conteúdo, sobre si mesma. E nela está a história, a psicologia, as crenças, os mitos, o sentido de humor do povo que fala o idioma. Nenhuma outra forma de auto-conhecimento me põe tão em contacto com a minha civilização, me dá ferramentas tão poderosas de reinterpretação do próprio conhecimento. Não ler seria tristemente próximo de não viver.
Entro num Uber e dá-se o apagão, começam alarmes das lojas a disparar. E o condutor põe-se de imediato com teorias da conspiração, o Putin isto, uma tal de agenda 2030 acolotro. Pergunta-nos se temos comida em casa para um mês, se temos dinheiro, água, se estamos preparados. Ele, com um sorriso de orelha a orelha, diz estar preparadíssimo, e a mulher finalmente não pode dizer que ele é maluco. O ponto mais extravagante e glorioso do seu discurso é quando diz que nos Simpsons está tudo escrito. Há episódios da série de animação com todo o tipo de profecias, desde a morte do Papa ao apagão. No fundo, tenho de admitir, escutar tão delirantes teorias sossegou-me. A paranóia daquele homem vacinou-me contra outros medos. Em comparação com as crenças desmedidas dele, a realidade será, forçosamente, menos ameaçadora.
Que sorte termos campanhas eleitorais curtas. E ser muito restrita a publicidade na televisão aos partidos políticos. Não sei como os americanos aguentam.
Não desgosto dos rituais à volta do embarque num avião. Colocar a mala e os objetos pessoais a jeito de serem vistos ao raio-x, ir à procura do cais de embarque, ver que outros destinos existem, entrar no avião, tudo isto é já um preâmbulo da viagem. De forma pavloviana, começo logo a desfrutar ou pelo menos a antecipar a refeição de novidade que aí vem.
Faz anos a liberdade. Ainda jovem, há quem a queira impedir de amadurecer. Não passarão.