#002156 – 24 de Abril de 2025
“Desgraça vindoura não é mobilizadora”. Será que pega? A ultima palavra deveria ter menos uma sílaba.
“Desgraça vindoura não é mobilizadora”. Será que pega? A ultima palavra deveria ter menos uma sílaba.
Os trovões lá fora são lentos e longos. Pachorrento desfazer da noite em contínuo estardalhaço. A luz dos relâmpagos adiantada, a cantar primeiro a surda canção que a tempestade a seguir faz soar. A chuva, arrítmica, liga esta entropia espalhafatosa.
Tinha saudades da Mixórdia de Temáticas. O humor é a única forma de arte absolutamente pragmática.
Vejo vídeos sobre a construção de guitarras acústicas. Estes vídeos (em que um ofício artesanal é documentado) são bastante populares. Talvez seja um contraponto ao movimento da última década, com o software a engolir tudo e a própria realidade (incluindo as relações sociais) sendo mediada por plataformas. Ao ver algo a ser construído á mão, assistimos ao que não foi absorvido pelo digital e acontece apenas na interação entre a matéria e o espírito humano. Curiosamente, é consumido digitalmente.
Sou mais velho que a maioria dos candidatos a primeiro ministro. É um facto trivial, uma evidência matemática, que ainda assim me surpreendeu.
A caminho dos 50, sem perceber como passou tão rápido o tempo, tentando tirar o pé do acelerador, para que a vida se torne nítida.
E se um dia toda a gente deixasse de obedecer a Trump? Os acessores, os secretários, o exército, os seguranças, toda a gente. A qualquer pedido, qualquer ordem, qualquer capricho, a resposta sempre: não. Bomba política despenteada de repente desarmadilhada. Verborreica gralha a debitar disparates só para si, longe dos microfones. E se tirassem o volante das mãos do macaco embriagado?
Os EUA em transição para a autocracia. E os trumpetas europeus babados, a tirar notas, ansiosos de repetir o desastre.
Free, de Lea Ypi, é um livro assombroso. Memórias de uma infância que chega à adolescência quando cai o regime comunista na Albânia. Reflexão sobre a liberdade de uma filósofa que olha para a sua própria história, com olhos de adulta. Uma académica a revisitar a sua própria biografia, uma escritora de grande fôlego e lucidez.