view#001926 – 05 de Setembro de 2024
Robert Sapolsky começa A Primate's Memoir com a deliciosa nota autobiográfica: “I joined the baboon troop during my twenty-first year. I had never planned to become a savanna baboon when I grew up; instead, I had always assumed I would become a mountain gorilla.”
view#001925 – 04 de Setembro de 2024
Os registos arqueológicos são finitos. Seja o que for que ainda não se encontrou, fósseis, ferramentas, pinturas, objectos, vestígios biológicos, existe já. Pode ainda diminuir o seu número, degradar-se o seu estado de preservação ou impossibilitar-se a sua descoberta. Cada vez que se encontra um destes indícios do passado, é algo de muito precioso, um testemunho que sobreviveu a probabilidades inclementes.
view#001924 – 03 de Setembro de 2024
Acalentar o tédio, esse deserto imenso, solo sedento de qualquer semente de criatividade.
view#001923 – 02 de Setembro de 2024
Volto a escutar Rules, Jewels, Fools, de 2004. Só agora me apercebo que este álbum dos Zen se assemelha imenso aos álbuns seus contemporâneos dos Faith no More.
view#001922 – 01 de Setembro de 2024
Curiosamente, outro nome que se dá ao chaotic hardcore é mathcore. A música gera estes belos paradoxos, é por vezes precisa matemática para soar caótico. Tal como é necessário perceber de harmonia para soar dissonante.
view#001921 – 31 de Agosto de 2024
Mesmo nas situações sociais mais difíceis, no meio da guerra, da mais odiosa opressão, há diferença entre ter uma atitude política de acordo com a nossa ética (mesmo com muitas contradições e falhas), ou sucumbir completamente ao cinismo e reagir apenas com violência e nihilismo. Quanto mais nas nossas sociedades, formalmente ainda democracias, em que geralmente temos margem para tentar fazer valer os nossos direitos e em que nos podemos organizar livremente em volta de causas comuns. Uma vida em que nos respeitamos porque fazemos coincidir, tanto quanto possível, a nossa ética com as nossas ações no mundo, é preciosa. Mesmo para quem duvida da viabilidade de um futuro comum, uma vida que vale a pena viver não é mero prémio de consolação. É um objectivo.
view#001920 – 30 de Agosto de 2024
Com o tempo, talvez contando que ninguém leia o que aqui escrevo, fui descurando demasiado o cuidado com que faço a revisão de um texto antes de o publicar. Ao escrever no telemóvel um texto mais comprido enquanto viajo, por exemplo, acontece haver um número considerável de erros ortográficos. Envergonho-me ao reler alguns textos e custa-me a ideia que algumas entradas neste diário estão cheias de erros que nunca identifiquei para que pudesse sequer ter hipótese de os corrigir.
view#001919 – 29 de Agosto de 2024
Vestigial Spectra junta Fawn Limbs e Nadja. É uma colaboração surpreendente. Conheci Fawn Limbs através de Sleeper Vessels, de 2020, um álbum de velocidade grindcore, com um meticuloso caos rítmico à math metal, uma deslumbrante obra prima de agressão sonora. E os álbuns de Nadja escuto-os pelos drones, por uma lentidão de lava, uma atmosfera a fazer lembrar a doce imprecisão low-fi do shoegaze. Que o ritmo e a textura de uma e outra banda pudessem colidir de forma tao gulosa e brilhante, não o poderia imaginar. Que festim para os ouvidos.
view#001918 – 28 de Agosto de 2024
O corpo não é uma máquina. Um organismo é mais do que a soma das partes, não um conjunto de componentes. Os tecidos regeneram-se, os ossos crescem, os órgãos resistem a mal tratos. Mesmo com mudanças extremas, um corpo humano continua a ser corpo. E existem, a caminho do envelhecimento, muitas oportunidades de melhorar a saúde, não substituindo peças, ou fazendo manutenção, como a uma máquina, mas usando e alimentando o corpo melhor. Dito de outra forma: emagreço e ganho músculo.
view#001917 – 27 de Agosto de 2024
Pode talvez dizer-se que sou ambicioso. Desejo intensamente, não coisas externas ao que sou, mas mudar-me a mim mesmo.