#002062 – 19 de Janeiro de 2025
Mudava quase tudo em mim. Houvesse um botão, mudava. Difícil é mudar aos poucos, mudar contra a minha resistência a melhorar como pessoa.
Mudava quase tudo em mim. Houvesse um botão, mudava. Difícil é mudar aos poucos, mudar contra a minha resistência a melhorar como pessoa.
No documentário “The Social Dilemma”, um dos criadores do algoritmo de recomendações do YouTube aconselha-nos a usar uma extensão no browser que bloqueie o algoritmo. Para nos convencer diz que foi ele criou o código e sabe como funciona e, mesmo assim, o algoritmo funciona com ele. Eu, recentemente, mudei as configurações da extensão e voltei a permitir que o YouTube me fizesse recomendações na home-page. Poucas coisas me parecem tão exemplificativas de como isto se tornou um vício. Ao fazer esta mudança, estou a preferir estar agarrado ao loop de cliques e recomendações e mais cliques e mais recomendações.
Vi múltiplos documentários e li inúmeros livros sobre a forma como as redes sociais usam tecnologia persuasiva para nos manterem a olhar para o ecrã. E, passados estes anos todos, em que me mantive céptico em relação às vantagens destas plataformas, vejo-me a olhar para o ecrã mais tempo do que queria, por hábito. Por vício, mesmo.
A música do Jacob Collier é vibrante, alegra, luminosa. Passa todos os limites do suportável, tão colorida como as roupas do talentoso cantautor e multi-instrumentista. E, no entanto, funciona.
Não é muito original dizê-lo mas é certeiro: a constante da minha vida tem sido a permanência de altos e baixos.
Preparo-me para esperar umas horas nas urgências. Começo a ler “The Internet Con” do Doctorow, e estou francamente curioso em saber até que página conseguirei chegar antes de ter alta.
A lentidão é uma oportunidade de ver o que a aceleração oculta. Um homem de idade, apoiado na mulher e numa bengala, avança a custo até à saída. Ao chegar à porta, tropeça mesmo ao meu lado. Amparo-lhe a queda e seguro-o pelo braço. Vamos, os três, até ao carro. A viatura está a uns dez metros, mas demoramos muito tempo. É oportunidade para nos conhecermos. Vamos falando de nós e da nossa família. E à despedida, diz-me o homem que gostou muito de me conhecer. Retribuo-lhe a simpatia, com sinceridade. Foi uma pequena viagem que fizemos, que só se revelou pela muito baixa velocidade a que caminhámos.