Kroeber

#001916 – 26 de Agosto de 2026

Os casamentos e batizados servem para manter o contacto com pessoas que não encontramos de outra forma. Quando se viveu quatro, cinco ou mais décadas, começa-se a encontrar as mesmas pessoas só nestas ocasiões. E falamos com algumas como se fossem do nosso quotidiano. De certa maneira, fomos envelhecendo juntos. Com as pessoas que só vemos em eventos familiares, é como se vivêssemos numa cópia do universo em que vivemos habitualmente, mas em que o tempo passa de forma diferente. Acelera muito, entre reencontros. Escapa-se rápido.

#001915 – 25 de Agosto de 2024

Passar pelo síndroma de impostor já é alguma coisa. Significa ao menos que se chegou aonde se queria. E quando nem isso acontece?

#001914 – 24 de Agosto de 2024

No fundo, este sossego é uma das principais vantagens de aqui escrever. Não há retweets, nem gostos, nem comentários. E... nem leitores.

#001913 – 23 de Agosto de 2024

Acabou, há mais de 15 anos, a ingenuidade de quem escreve online. Tenho algumas saudades de quando, há 20 anos, escrevia num blogue despreocupadamente. Hoje, o receio de que a minha privacidade ou os meus dados fiquem em causa; o perigo de assédio ou doxxing e as potenciais consequências de uma ideia minha ser mal-entendida, tudo isto lança uma nuvem sobre o que escrevo. Não sei ainda se tantas limitações são inevitavelmente castradoras. Ou se a criatividade sairá favorecida, como noutras situações comuns para quem escreve, em que existem restrições formais para o texto em que se trabalha. Sei que não respeito em absoluto o meu próprio pudor, pisando às vezes um risco que nem sei onde fica. Mas que ainda assim defendo para todos uma liberdade de expressão que não pratico.

#001912 – 22 de Agosto de 2024

Não gosto do som da minha própria voz. Mas sou um falador excessivo. Não só me desagrada falar demais, como me incomoda escutar-me. Estar sozinho tem essa vantagem, a do silêncio sem o ruído da minha voz.

#001911 – 21 de Agosto de 2024

Coloco à venda objectos que não uso. Sou um péssimo vendedor. Curiosamente, sou um excelente comprador. Se gosto, aceito o preço e não causo problemas. Mas custa-me muito, quando vendo, o ritual do regateio, um massacre que online é bem pior que frente a frente. A isto acresce o spam imenso de burlões a tentar enganar-me usando o MBWay. Como uma piada do cosmos, antes de acabar a frase anterior, recebo mais uma chamada de uma tentativa de burla. É cansativo de gerir. Para piorar mais um pouco, não descobri ainda como, no OLX, remover o meu número de telefone de um anúncio já publicado.

#001910 – 20 de Agosto de 2024

Recordo-me da teologia que fui absorvendo, nas quase duas décadas em que fui cristão. Deus, escutei, está fora da compreensão humana. A sua natureza é por definição impossível de conhecer, através dos sentidos ou da razão humana. Daí ideias como desígnios insondáveis, escrever direito por linhas tortas. Mesmo a acção de Deus no mundo é um desafio à aceitação da Sua Vontade, não um conjunto de mensagens claras para o entendimento humano. Isto é bastante circular, e estabelece limites que dão sempre paradoxos, quando explorados logicamente ad absurdum.

Como escritor sci-fi, penso nisto através de um thought experiment. Imaginemos que Deus existe mesmo e, neste cenário, somos observadores, sabemos o que está a acontecer. Deus existe e a certa altura muda de estratégia. Em vez de fazer com que a vida na terra seja um caminho para a salvação, em que cada pessoa tem a sua cruz e luta com a dificuldade que é manter a fé, decide dar-se a conhecer. A forma física como isso acontece não é importante. Podemos imaginar que Deus materializa ao mesmo tempo, para todos os seres humanos no mundo, a imagem de Jesus Cristo e que Jesus Cristo fala, sendo entendido em todas as línguas do mundo. Mas poderia ser outra forma. O que interessa é que Deus, sendo omnipotente, faz com que cada pessoa entenda que Deus existe, que aquilo não é uma ilusão. Deus, no íntimo de cada ser humano, desencadeia os processos emocionais, intuitivos e racionais necessários para as pessoas não terem dúvidas de que aquilo está mesmo a acontecer e que realmente é Deus a falar. Enquanto observadores sabemos que aquilo não é uma ilusão. Por isso Deus, no íntimo de cada um, não está a persuadir ninguém, está a revelar a realidade.

Ora isto tem algumas semelhantes com acontecimentos cujo resultado foi a conversão de quem os viveu. Usando uma linguagem directa: é a prova inequívoca de que Deus existe. E para algumas pessoas que tiveram experiências de conversão, momentos de transformação interior intensos, foi Deus que lhes falou, que se deu a conhecer. A Igreja Católica está cheia de eventos assim, como as aparições, mas muito mais frequentes ainda são experiências pessoais que são consonantes com esta forma de passar a acreditar em Deus. Na verdade, muitas pessoas passam a vida a procurar ter experiências assim, para que a sua religião tenha um fundamento espiritual e emocional.

Voltando ao exemplo imaginado que dei: para que isso acontecesse, seguindo a lógica da teologia católica (que consegui aprender apenas de forma indirecta, incompleta e deturpada, admito), Deus teria de operar uma pequena transformação. Permitir que a nossa percepção e a sua natureza fossem, afinal compatíveis e pudessem intersectar-se. Porque, lembremo-nos, Deus está fora da realidade mundana física, Deus não é um fenómeno, um elemento da natureza, é algo anterior, ulterior, que está aquém e além do Universo, de tudo o que existe. Não está sujeito às leis da física. Criou-as e pode actuar fora delas. Nós, que estamos debaixo desse jugo da realidade, não estamos em contacto com Deus.

São tautológicas as conclusões que daqui se possam tirar. Esta confusão filosófica é sempre explicada com o mistério, o insondável. Um deus que só posso conhecer depois de morrer e que me pede obediência e aceitação de tudo o que aconteça, seja lá o que for e que me chama de pecador só porque nasci, não é meu pai, não é meu amigo, não é bondoso, não é sequer insondável. É só inverosímil, indesejável e inútil. Mesmo que exista, não o quero e aceito o pecado do meu antiteísmo. Sem provas e sem culpa, desacredito.

#001909 – 19 de Agosto de 2024

Não é estranho que haja pessoas a acreditar em Deus. Eu acredito que deus não existe, sem provas. Não posso julgar os crentes menos sensatos que eu, por acreditarem em algo de sentido contrário. O que me parece bizarro é a tentativa de demonstrar que ele existe. Alguns pensadores julgaram terem conseguido, como Descartes. Outros não conseguindo, como Pascal ou William James, contornaram a questão e tentaram convencer-nos que há motivos para acreditar. Que, mesmo sem provas, é melhor acreditar, mesmo com o risco, menor perante o absoluto, de estar errado. Não sou um indiciarista, por isso não vejo nenhum mal, nenhuma infração ética em acreditar sem provas. Por isso acredito que deus não existe. Mas, mais importante ainda, acredito no amor, na bondade. Pegando no argumento de William James, para as coisas importantes (em que não incluo deuses), acredito logo, mesmo sem provas, porque a vida é curta e demasaido preciosa. E a qualidade com que a vivo depende directamente das coisas em que acredito. Mas Deus é outra coisa. E tenho mesmo de alternar entre maiúscula e minúscula inicial.

#001908 – 18 de Agosto de 2024

Baixei de novo dos 90 quilos. É fácil perder peso. O desafio tem sido evitar recuperá-lo. Nos próximos 12 meses, quero chegar aos 75 quilos. Sobretudo, celebrar 50 anos mais saudável do que sou agora. Avanço em incrementos pequenos, com paciência, sobretudo comigo. Lembro-me do cliché humorístico, quando alguém fala no desejo de emagrecer: “se queres perder peso, fecha a boca”. É uma forma de terminar uma conversa, mas não acrescenta nenhum pedaço de bom senso. O importante é o que ingerimos, não uma simples questão de comer menos, ou de parar de comer. Mais essencial talvez, é comer com hábitos que não exijam sacrifícios e que nos ajudem a controlar os impulsos, a minimizar o que vai no sentido contrário e a compensar os excessos. Escrevê-lo é fácil, pena ser actividade que queima poucas calorias.

#001906 – 17 de Agosto de 2024

Baixei de novo dos 90 quilos. É fácil perder peso. Evitar recuperá-lo é que tem sido o desafio. Nos próximos 12 meses, quero chegar aos 75 quilos ou chegar a um ponto em que nem penso no peso.