Kroeber

#002052 – 09 de Janeiro de 2025

No contexto da disrupção causada pela inteligência artificial às relações laborais, Cory Doctorow fala de dois conceitos reveladores. O primeiro, benigno, é o do centauro: uma cabeça humana com locomoção de IA. É O trabalhador que dirige, toma decisões e é recompensado justamente, sendo a IA uma ferramenta que lhe aumenta a produtividade. O outro modelo é o do centauro invertido: um cérebro IA empurrado pelo trabalho humano. É o software que está no centro, por mais incompleto e cheio de bugs, e os trabalhadores servem apenas para ajudar a que o software vá funcionando, não são valorizados, são mal pagos e considerados descartáveis.

#002051 – 08 de Janeiro de 2025

Diz Doctorow: “seize the means of computation”. E insiste em desconstruir a expressão “if you're not paying, you are the product”. Explica que, mesmo quando pagamos, continuamos a ser o produto. E que, nesta fase em que estamos, as grandes plataformas digitais extraem o máximo quer do cliente final, quer do cliente empresarial. Isto é fácil de observar na Amazon, por exemplo.

#002050 – 07 de Janeiro de 2025

Cory Doctorow dentro de paredes, chuva lá fora.

#002049 – 06 de Janeiro de 2025

Escuto a cover de “Ann the Word”, dos Beauty Pill. O original de Lungfish é um rock repetitivo, inspirado, uma espécie de loop a incidir no riff mais guloso, com eloquência punk. Os Beauty Pill fizeram uma espécie de dub, traduzindo a natureza repetitiva da canção em ritmos electrónicos e uma atmosfera desconstruída, uma espécie de anti-chillout, cool e ainda dançável, mas barely.

#002048 – 05 de Janeiro de 2025

É libertador escrever com a liberdade que o faço, neste conto. Ao ponto de duvidar que alguém o queira publicar. Está a ser, pelo menos, uma forma criativa de sair do deserto de páginas vazias em que estava.

#002047 – 04 de Janeiro de 2025

A chuva é-me toda ácida. Dissolve-me a motivação.

#002046 – 03 de Janeiro de 2025

Um paradoxo, enquanto termino o iogurte. No sonho, deslocava-me quase a voar, perto do tecto de um sítio de enorme pé direito. Não sei onde era mas sei que já lá estive. O tempo passa, enquanto como, e a memória do sonho vai-se desvanecendo, mas não a impressão de aquele local existir. Há uma paradoxal proporcionalidade inversa entre a nitidez de uma e outra. Vou dormir de novo.

#002045 – 02 de Janeiro de 2024

Treino, ainda poupando o ombro, filme do Blomkamp e uma ideia de finalmente ter aulas de guitarra. Conto para concurso que vai avançando.

#002044 – 01 de Janeiro de 2025

Começo o ano a entrar no mar até aos tornozelos. A água está óptima, o dia solarengo. O surfskate ondula ao longo da Foz. A viagem até casa é feliz, encontro uma alma gémea a conduzir o uber. Rimo-nos com sermos trapalhões que nem por isso deixam de andar de skate ou surfar, e que se levantam sempre, mesmo de depois de cair de patins ou de halfbike. Há muito tempo que não me ria assim com um desconhecido. Seja 2025 um ano de boas interações com as outras pessoas.

#002043 – 31 de Dezembro de 2024

Entrar no vigésimo quinto ano depois de 2000 com os dois pés, o coração, os músculos e dúvidas, ossos e desejos, de sorriso em riste e alma desdentada, a pedalar, latas a tilintar pelo chão assinalando o meu matrimónio com a vida.