A música de M.I.A. funciona comigo como o som do flautista de Hamelin. Fico num alvoroço de movimento incontrolável, numa exuberância de dança e alegria. Até me esqueço de tudo o que é...
Furações. Kirk, o que ontem derrubou árvores e estruturas e provocou acidentes rodoviários no norte de Portugal. Milton, o que se aproxima da Flórida e que poderá ser o mais destrutivo de sempre na região.
Continuo a achar estranho que se confunda determinismo com predestinação. Que se diga pré-determinado para falar de cadeias de causa e efeito. Sem a teoria do caos, não consigo pensar nos fenómenos, nas ligação entre cada evento, cada circunstância. Em cada momento, a cada evento, como quando alguém cai na rua, a realidade física é determinada por causas e efeitos, é verdade. Mas os sistemas em que nos movemos, em que a matéria existe, são muito complexos, inevitavelmente caóticos. Basta que a pessoa caia uma fracção de segundo antes para desencadear eventos ligeira ou totalmente diferentes.
E não acredito que seja alguma vez possível conhecer todas as condições iniciais. Nunca sabemos, como no mesmo exemplo, tudo o que pode afectar a velocidade, o local, a trajetória, a intensidade nem sequer a probalidade de alguém cair no chão. Só em abstracto é que estudamos os movimentos Newtonianos, pensando só em massa, energia, velocidade, fricção e outras coisas finitas, mensuráveis e de variação previsível. Quando o movimento é o de uma pessoa numa cidade, há a somar a tudo o que já se desconhece, todas as condições interiores, químicas, psicológicas, neurológicas. E não imagino que fosse possível elencar todas as condições. Como na matemática, em que há infinitos incontáveis (como o conjunto de todos os números reais), não é contável, sugiro, o conjunto de todas as condições, suas causas imediatas e seus efeitos imediatos. Porque assim que se altera um detalhe ínfimo, se estrutura nova quantidade imensa de novas relações de causa e efeito.
Esta é a outra face da inexistência do livre arbítrio: o caos. Não é que se possa imaginar agirmos em liberdade absoluta, sem que as nossas acções sejam efeitos determinados por causas reais. O determinismo é o que faz mais sentido. Mas também não faz sentido a ideia de que tudo está pré-determinado. Cada pequena variação importa. É o caos a nossa redenção, o espaço entrelinhas em que nos movemos. É uma espécie de arbítrio condicionado, fractal, onde cabe tudo o que é possível, num infinito demasiado grande, com espaço suficiente para a nossa acção no mundo.
Menos de um mês para as eleições presidenciais americanas. É a terceira vez que, no resto do mundo, aguardarmos nervosamente. Divididos e contaminados pelas maleitas políticas daquele país, parece que mais uma vez é a final countdown, que estamos mais perto do fim do mundo, ou da democracia, ou da possibilidade de paz, ou das condições de habitabilidade no planeta. Como é que chegámos aqui, tão dependentes desta cultura tão destrutiva, deste império tão decadente?
Saltaram peças do meu MixUp cube, que se desmanchou. Resolver um cubo destes é um prazer, depois de se aprender, não é bem um quebra-cabeças, é uma forma de treinar a agilidade visual e a coordenação motora. Já voltar a montá-lo, isso sim, é uma tarefa hercúlea, que continuo a adiar.
Pouca luz. Se não chove, nuvens espessas. A amostra anual de inverno suave, à portuguesa, confirma-me sempre que não conseguiria viver num país perto do ártico. E, na verdade, ainda mal começou o outono.
Arrumações. Fenómeno bizarro este de coisas encontrarem o seu lugar no íntimo, ao se arrumarem objectos no espaço em volta.
Peso menos sete quilos do que há dois meses atrás. E ganhei músculo. Sabe bem este reequilibrar de massa e força. Tiro mais prazer das viagens de bicicleta, as costas deixaram de doer, tenho mais fôlego.
Regresso a casa de comboio. Liga-me a Dona Ana, de um parque de campismo onde fiquei, porque me esqueci de um carregador de telemóvel. Senhora simpática, com uma inclinação artística. A recepção e a sala de convívio estão cheias das obras de arte dela, feitas com papel colorido. As borboletas e flores de papel, bem como os quadros abstractos de papel reutilizado são uma expressão da sua personalidade, igualmente criativa e cheia de cor. Até eu, teimosamente virado para dentro, solitário por natureza e opção, fui falando com as pessoas com que me cruzei. Viajar sozinho e devagar dá para isto: aprecio mais a companhia das pessoas, falo menos, escuto mais e, espantosamente, mais facilmente crio uma ligação. Até na viagem de comboio assim foi, vim a conversar desde a Pampilhosa até Espinho, com a senhora sentada ao meu lado, sobre comboios sobretudo.