view#002200 – 07 de Junho de 2025
A teoria musical que vou aprendendo é um mapa que não só ilumina o território mas expande muito a compreensão dos fragmentos que eu conhecia. Não é só ter um mapa com rios e glaciares, vales e montanhas. É aprender que existem, como parte de uma mesma geografia. Vou reconhecendo na teoria a música que já escutava, e é como se só agora começasse a escutar de facto. Estou muito grato a esta professora.
view#002199 – 06 de Junho de 2025
A extrema direita insiste que os imigrantes são uma ameaça. Mas são eles, os ultranacionalistas, os neo-nazis, os ultraconservadores mais intolerantes que aumentam a sensação de insegurança. Atacam pessoas na rua, assediam pessoas nas redes sociais, com ameaças de morte e outros apelos directos à violência contra quem não lhes agrada, interrompem lançamentos de livros e outros eventos. Sim, tem aumentado a insegurança, ou pelo menos a sensação de insegurança. Mas é consequência directa do extremismo destes grupos, não das pessoas que vieram para Portugal para melhorar a sua vida.
view#002198 – 05 de Junho de 2025
Todos os dias olho para o cursor a piscar e evito escrever sobre as guerras no mundo, o ódio nas ruas portuguesas.
view#002197 – 04 de Junho de 2025
Moonlighting, com Cybill Shepherd e Bruce Willis, teve um episódio em que tudo e mais alguma coisa aconteceu. Tornou-se um musical a meio, foi quebrada a quarta parede, foi revelado o cenário, as personagens, ainda a cantar saíram do estúdio para a rua, a letra da canção falou sobre a queda nas audiências, o possível cancelamento da série e a necessidade de surpreender os espectadores. O episódio “The Betrayal”, da temporada 9 de Seinfeld é contacto de forma linear mas no sentido do passado. Não me lembro de mais nenhuma narrativa no ecrã contada assim, geralmente há flashbacks, até flashbacks consecutivos, mas este episódio da sitcom americana foi contado em cenas curtas, consecutivas, em que a cena seguinte se passava sempre no passado, até que a última cena é Jerry, 11 anos no passado, a chegar ao apartamento e a conhecer Kramer. A cena inicial é incompreensível e as seguintes, no passado, vão explicando o presente. Até que, estabelecido o método, o argumentista brinca com ele. A quarta parede não é quebrada, mas há o mesmo tipo de cumplicidade com o público que o stand-up tem, em que o comediante faz com que o público se ria da própria construção, essa espécie de pacto em que comediante e público se riem ambos do que acontece em palco. Aqui argumentista e audiência estão nesse plano, a olhar para um mesmo artefacto. As séries actuais têm uma métrica de sucesso diferente: quão binge-worthy é uma temporada? Isso torna o arco narrativo diferente. Por muito que goste da qualidade geral das séries, quando comparada com os anos 80 e 90, em que cresci, tenho saudades de ver episódios experimentais, quando uma série estabelecida já se tinha tornado previsível e perdia audiência. Talvez hoje em dia haja demasiada informação sobre o que “funcione”, que tipo de imagens e histórias produzem mais engagement. Mas é uma pena. Havendo menos margem para falhar, há também menos chance de criar algo inesperado.
view#002196 – 03 de Junho de 2025
Em casa a recuperar da lesão no ombro, tenho mais tempo para as notícias. Não ajuda a animar-me. O mundo trumpifica-se.
view#002195 – 02 de Junho de 2025
Foram necessários 4 mil milhões de anos de evolução para nós, humanos existirmos. Segundo Sara Imari Walker é por isso que não somos redutíveis aos átomos que nos constituem. Ao fazê-lo estamos a eliminar as linhagens que nos trouxeram até aqui e a evolução necessária.
view#002194 – 01 de Junho de 2025
Plutão e Caronte. Só hoje descobri que faz pouco sentido falar de Plutão sem falar de Caronte. A tamanho da minha ignorância continua a crescer, esse litoral da ínfima ilha das coisas que sei.
view#002193 – 31 de Maio de 2025
Josh Johnson a curar feridas, o riso a fazer ruir as crostas do medo.
view#002192 – 30 de Maio de 2025
Owen Jones a apontar o dedo à cumplicidade dos meios de comunicação com o genocídio em Gaza. A verdade morde-nos os olhos, diariamente.
view#002191 – 29 de Maio de 2025
Ler é tão estranho. A linguagem é o humano em construção. Ler é ganhar abstração mas também tocar nas partes muito concretas que existem no íntimo graças à linguagem. Escrever é ler meditando. É, como a meditação, esse processo frustrante e edificante em que se pára sempre, depois de meros segundos de conexão com o íntimo, se corrige caminho, se emenda, se repara nos sulcos em que se derrapa repetidamente. A linguagem só por si parece dar origem à consciência. Edgar Morin parecia convencido de que as crianças desprovidas de linguagem não eram inteiramente humanas. E frequentemente escutamos que a desconhecida história do surgimento da linguagem humana coincide com o aparecimento dos humanos. Talvez isto ajude a explicar a superstição dos que acreditam que um programa de computador um dia se tornará consciente. Sobretudo os large language models têm inspirado esta crença de algumas pessoas que a inteligência artificial irá emergir. Começámos por usar a expressão, colocando a carroça à frente dos bois. Mas os bois também empurram e os senhores tecno-feudais são muito proficientes na arte de empurrar problemas com a barriga. E mais ainda em criar problemas para depois nos venderem soluções.