#001924 – 03 de Setembro de 2024
Acalentar o tédio, esse deserto imenso, solo sedento de qualquer semente de criatividade.
Acalentar o tédio, esse deserto imenso, solo sedento de qualquer semente de criatividade.
Volto a escutar Rules, Jewels, Fools, de 2004. Só agora me apercebo que este álbum dos Zen se assemelha imenso aos álbuns seus contemporâneos dos Faith no More.
Curiosamente, outro nome que se dá ao chaotic hardcore é mathcore. A música gera estes belos paradoxos, é por vezes precisa matemática para soar caótico. Tal como é necessário perceber de harmonia para soar dissonante.
Mesmo nas situações sociais mais difíceis, no meio da guerra, da mais odiosa opressão, há diferença entre ter uma atitude política de acordo com a nossa ética (mesmo com muitas contradições e falhas), ou sucumbir completamente ao cinismo e reagir apenas com violência e nihilismo. Quanto mais nas nossas sociedades, formalmente ainda democracias, em que geralmente temos margem para tentar fazer valer os nossos direitos e em que nos podemos organizar livremente em volta de causas comuns. Uma vida em que nos respeitamos porque fazemos coincidir, tanto quanto possível, a nossa ética com as nossas ações no mundo, é preciosa. Mesmo para quem duvida da viabilidade de um futuro comum, uma vida que vale a pena viver não é mero prémio de consolação. É um objectivo.
Com o tempo, talvez contando que ninguém leia o que aqui escrevo, fui descurando demasiado o cuidado com que faço a revisão de um texto antes de o publicar. Ao escrever no telemóvel um texto mais comprido enquanto viajo, por exemplo, acontece haver um número considerável de erros ortográficos. Envergonho-me ao reler alguns textos e custa-me a ideia que algumas entradas neste diário estão cheias de erros que nunca identifiquei para que pudesse sequer ter hipótese de os corrigir.
Vestigial Spectra junta Fawn Limbs e Nadja. É uma colaboração surpreendente. Conheci Fawn Limbs através de Sleeper Vessels, de 2020, um álbum de velocidade grindcore, com um meticuloso caos rítmico à math metal, uma deslumbrante obra prima de agressão sonora. E os álbuns de Nadja escuto-os pelos drones, por uma lentidão de lava, uma atmosfera a fazer lembrar a doce imprecisão low-fi do shoegaze. Que o ritmo e a textura de uma e outra banda pudessem colidir de forma tao gulosa e brilhante, não o poderia imaginar. Que festim para os ouvidos.
O corpo não é uma máquina. Um organismo é mais do que a soma das partes, não um conjunto de componentes. Os tecidos regeneram-se, os ossos crescem, os órgãos resistem a mal tratos. Mesmo com mudanças extremas, um corpo humano continua a ser corpo. E existem, a caminho do envelhecimento, muitas oportunidades de melhorar a saúde, não substituindo peças, ou fazendo manutenção, como a uma máquina, mas usando e alimentando o corpo melhor. Dito de outra forma: emagreço e ganho músculo.
Pode talvez dizer-se que sou ambicioso. Desejo intensamente, não coisas externas ao que sou, mas mudar-me a mim mesmo.
Os casamentos e batizados servem para manter o contacto com pessoas que não encontramos de outra forma. Quando se viveu quatro, cinco ou mais décadas, começa-se a encontrar as mesmas pessoas só nestas ocasiões. E falamos com algumas como se fossem do nosso quotidiano. De certa maneira, fomos envelhecendo juntos. Com as pessoas que só vemos em eventos familiares, é como se vivêssemos numa cópia do universo em que vivemos habitualmente, mas em que o tempo passa de forma diferente. Acelera muito, entre reencontros. Escapa-se rápido.
Passar pelo síndroma de impostor já é alguma coisa. Significa ao menos que se chegou aonde se queria. E quando nem isso acontece?