#001773 – 13 de Julho de 2024
Alguém tenta assassinar Trump. A política americana é coisa feia, violenta. E ameaça piorar. O atentado apenas criou um herói desnecessário. Foi um acto aberrante que falhou em cheio.
Alguém tenta assassinar Trump. A política americana é coisa feia, violenta. E ameaça piorar. O atentado apenas criou um herói desnecessário. Foi um acto aberrante que falhou em cheio.
Uboa é um poço de criatividade. Uma fonte, funda, com ecos e sombras, ruídos indecifráveis e matéria escura, fecunda e implacável, a debitar o que não se consegue dizer, de outras maneiras mais macias e claras. 2024 é o ano em que o Black Metal se afirma definitivamente como uma arte, uma expressiva magia negra, dominada, entre outras vozes, por mulheres transgénero. Depois de várias maravilhosas apropriações dos espaços e clichés da opressão, ressignificando em luz o que nasceu em dor, até o Black Metal, com origens tão misóginas e racistas, se regenera nestas novas narrativas. E nunca este género de música, como agora, foi tão interessante e imprevisível. Impossible Light é um álbum eloquente e enigmático, essa luz impossível que vem do abismo.
Gregório Duvivier refere-se à afinidade da metáfora com a piada. Fala de Borges a Ricardo Araújo Pereira. O autor argentino, lembra Duvivier, disse que todas as palavras são metáforas. Nenhuma palavra entra numa língua virgem de sentido, como um mero fonema. Tela, por exemplo, foi a palavra escolhida para a superfície onde o filme é projectado porque fazia lembrar as telas dos quadros. E a mesma coisa para a tela de um celular (o ecrã de um telemóvel), que por sua vez lembra a tela do cinema. Avança Duvivier dizendo que uma metáfora funciona quando é suficientemente nova mas ainda assim relevante. Uma metáfora é uma nova forma de dizer algo, mas que é inteligível. As palavras são metáforas mortas, segundo Borges. Uma piada, para funcionar e gerar o riso, não pode ser uma mera repetição, mas também não pode ser tão estranha que não tem significado perceptível.
De novo esta curiosa tendência do quase ser repelente. Estar próximo de algo bom não é ser quase bom necessariamente. Se eu gosto muito de algo, isso não significa que também gosto muito (apenas um pouco menos) de algo muito semelhante. Por exemplo: gosto muito de Lungfish e nada, mesmo nada, de Fugazi.
França que nos dá um pouco de esperança, não muita. Mas a quem se afoga, todos os fôlegos são bem-vindos.
O mundo à volta que se desagrega. E eu ainda ocupado com objectivos pessoais, com coisas tão mesquinhas como sonhos. Este ano faço a maior viagem de bicicleta, de Rio Tinto até Lisboa, pela costa.
A ameaça da extrema-direita em França, o genocídio a decorrer em Gaza. Ser espectador da barbárie é horrível. As notícias informam-me da minha impotência. Procuro causas comuns a outras pessoas que rejeitem o ódio e a guerra, antídotos urgentes à apatia e ao cinismo.