#001892 – 01 de Agosto de 2024
Quarenta quilómetros de Guimarães a Fafe e volta, com paragem a meio para mergulho na piscina. O Verão sabe bem. Torna-me felino, com dias de alternância entre atividade física intensa e ócio desmesurado.
Quarenta quilómetros de Guimarães a Fafe e volta, com paragem a meio para mergulho na piscina. O Verão sabe bem. Torna-me felino, com dias de alternância entre atividade física intensa e ócio desmesurado.
Vou mostrar a halfbike a uma pessoa. É bastante comum pensarem que é mais fácil, até mais estável que uma bicicleta, o que me intriga mas já não me surpreende.
Começo com o personal trainer em breve, para emagrecer até um ponto mais saudável. Ao fazer as contas, o dinheiro que poupo por já não fumar aliviou o peso na consciência por gastar tanto dinheiro com o meu corpo.
Desde que deixei de fumar, há 11 anos, poupei mais de 16.000 euros. O suficiente para pagar a bicicleta e todo o material associado, a tenda e todo o material associado, a halfbike, os patins, o skate, a máquina de remar e todas as férias que fiz. Este dinheiro foi usado no lazer, nas férias, no desporto e no meu bem estar. Parece-me que saí a ganhar.
Nono dia. Pedalei 85 km, de manhã até ao fim da tarde, num total de seis horas. Parei dezenas de vezes e umas duas horas ao almoço. Desci de Venda Nova até Livração, por Salto e Cabeceiras. O caminho que passa por Magusteiro é deslumbrante. Mais à frente, entre Leiradas e Boadela, a descida é alucinante, mais cansativa que muitas subidas, exige muita força nas mãos, para tanta travagem. Chegar a Arco de Baúlhe deu-me ânimo e quis pedalar mais um pouco. Comi em Celorico. Depois de chegar a Amarante, atirei-me à antiga linha de comboio. Depois de contornar a antiga ponte ferroviária, segui pelo singletrack que agora ocupa o espaço por onde passava o comboio. Levava já umas cinco horas de viagem e cerca de 70 quilómetros nas pernas. A esperança de ir assim até Livração de novo me animou. Foi um pouco surreal passar ao lado do Parque Aquático de Amarante, com centenas de pessoas de fatos de banho à espera para descer nos escorregas, e pouco depois uma desilusão. A Ponte Ferroviária de Baia está no mesmo estado da de Amarante, tem o chão levantado. Não seria impossível atravessá-la com uma bicicleta, mas o risco de cair e morrer era muito grande. Desviei-me, contrariado, mas a seguir a algumas curvas e um par de subidas na estrada, na antiga estação de Vila Caiz, foi possível retomar o caminho. Cheguei feliz, menos cansado ao chegar do que a meio da viagem. Entrei na estação de Livração vindo dos carris (em desuso). Fui recebido por dois amigos de quatro patas, simpáticos, pequeninos e rafeiros, que se comportavam como os donos da estação, espantando outros animais e buscavam festas, de vez em quando. Apanhei um urbano até Rio Tinto, onde agora escrevo, um pouco espantado com a naturalidade da viagem, uma vez completada.
Oitavo dia. Em Pitões de Júnias, os cães são grandes, são muitos e andam soltos. São também cães tranquilos, habituados a pessoas. Esta manhã, antes de pedalar, comi um croissant na única e excelente padaria da aldeia e uma senhora explicava que os cães são tranquilos precisamente porque andam soltos. Posso comprovar que à noite não ladram e que sempre passei por eles à vontade. A minha chegada à aldeia foi mesmo escoltada por cães. Um pastor regressava de moto 4 e era seguido por cinco cães, um border collie a liderar. Hoje pedalei até Venda Nova e fiquei num hotel. Estou gordo e cansado, feliz mas fora de forma. Não é isto exatamente bikepacking, mas são férias, pedalei e visito sítios bonitos. Faz-me bem.
Sétimo dia. Ontem algo que comi fez-me mal. Passei a noite a vomitar. Fiquei mais um dia em Pitões das Júnias, de cama. Ainda não comi, porque pensar nisso me dá a volta ao estômago. Sair do alojamento também não me atraiu, por outro motivo, mais estranho, que nem sei bem explicar. Acho que gosto muito mais do mar, de horizonte, do que de montanha e aldeia. A ideia de sair para a rua, assim tão vulnerável, numa aldeia, mexeu comigo a fez-me, ainda mais, ficar fechado entre paredes. Vou agora tentar comer e esticar as pernas. E amanhã terei de ir embora.
Sexto dia. A minha maior subida a pedalar desde que aprendi a andar de bicicleta. Um calor tórrido de que fugi acordando às quatro da manhã. Descubro um local perfeito para o campismo selvagem, com uma ribeira, muita sombra e verde. Mas é de acesso muito difícil com bicicleta. Acabo por reservar uma noite num alojamento em Pitões das Júnias. Continuo a escutar galego, o restaurante Dom Pedro é popular junto dos galegos. Tenho medo de vacas, fragilidade que me ficou impressa em criança e que afinal não superei como pensava. As cachenas são pequenas mas têm cornos gigantescos e afiados e um olhar de desafio, quando escutam o som da bicicleta. Algumas dão mesmo uns passos atrás, para me encarar, bloqueiam o caminho, enfrentam-me. Tudo isto o vejo de longe, não arrisco. Vou dormir uma soneca numa cama. Amanhã sigo para Arco de Baúlhe.
Quinto dia. O mais quente e mais preguiçoso. Depois de uma noite mal dormida, com o barulho dos vizinhos do parque do campismo a deixar-me menos irritado do que seria de esperar mas, ainda assim a impedir-me o sono. Desvio-me para o Moinho dos Moços e descubro um Ribeiro com água fresca, pedras com musgos, libélulas azuis e borboletas. Dispo-me e tomo um banho que me arrefece a inquietação. O coração desacelera e refresco a impaciência. Amanhã levantei-me às 5h00. Vai ser um dia muito quente e vou subir muito. Preciso de descansar. Mas tenho um pouquinho, não muito, mas um pouquinho mais de paciência. Comi uns pimientos e vou para o gelado agora com uma boa disposição. Leio muito, respiro melhor.