Futuro é, e a ficção científica sabe-o bem, a melhor palavra que temos para resumir as ansiedades, medos, desejos e expectativas actuais.
Dia nublado. O Instagram impede os utilizadores de publicar vídeos diretamente nas stories. Uma pequena irritação num mundo com problemas mais sérios. Mas mostra que as aplicações, sobretudo estas plataformas que denominamos de “sociais”, não nos abrem portas e possibilidades, antes regulam e restringem a forma de interagirmos uns com os outros, com o mundo e com a própria tecnologia. À Meta dá jeito que os vídeos dos utilizadores dos Instagram vão para os reels, então basta obrigar a que isso aconteça, removendo uma funcionalidade. A irritação, sendo grande é mesmo desmedida. Cedo me apercebi que a limitação é nova e existe, mas é parcial. Espanto-me com a impressionante falta de paciência que tenho para o software.
Dia de verão. Os sentidos lembram uma vida inteira de gozo solar. Sonolento, o autocarro embala-me numa activação dérmica da memória.
Amanhã acordo às 6h45. E estou entusiasmado. Vou de novo de bicicleta para o trabalho. Sou criança outra vez, sempre que entro em modo de preparação do pedalanço. Acho que nunca serei um ciclista utilitário. Divirto-me demasiado com a bicicleta para que usá-la seja apenas ou sobretudo uma decisão racional.
Hoje é dia de Alcindo Monteiro. Não o esqueceremos nunca, nem às outras vítimas do racismo em Portugal. A sua memória, dolorosa, não nos deixa baixar os braços. O ódio não passará, o país não será fechado de novo ao mundo, num orgulho feito de solidão e miséria. Vão-se os racistas e fiquem os imigrantes. Cresça Portugal, com pessoas de todos os géneros e nacionalidades, crenças e etnias. Aprendamos finalmente a respeitar o outro, enfrentemos quem somos com coragem e verdade.
Na estação de Livração apanhamos o comboio de volta. O revisor mete conversa connosco ao ver as três bicicletas. Diz-nos que criou dois clubes de cicloturismo nos anos 90: um em Campanhã e outro em Fânzeres.
Na antiga estação de Codeçoso há uma feira do mel. Chegamos de bicicleta, à procura de hidromel e acabamos a beber um licor de mel que repetiremos à vinda. Bebemos à sombra de tílias em flor, que cheiram muito bem. Há abelhas por perto. E nem a chuva afastou as pessoas. Há crianças a aprender a andar de bicicleta. A ciclovia está viva.
Posta Maronesa, vinho de Vila Real. Sandálias e apetite, depois de alguns quilómetros de chuva a pedalarmos até Mondim de Basto.