#001611 – 02 de Fevereiro de 2024
E no meio de tanta incerteza, de eleições que se aproximam, o Sora da Open AI mostra que a IA generativa já consegue criar vídeo com uma qualidade impressionante. Em todos os sentidos, bons e maus.
E no meio de tanta incerteza, de eleições que se aproximam, o Sora da Open AI mostra que a IA generativa já consegue criar vídeo com uma qualidade impressionante. Em todos os sentidos, bons e maus.
As eleições são demasiado parecidas com o consumo. Dá a ideia que escolhemos de um menu, como o de um restaurante. E que depois as escolhas mais populares nos serão dadas a comer. Mas a política é também a luta de definir que escolhas temos, se é que temos de facto escolha alguma. E cada vez são mais os que pretendem restringir a capacidade de determinarmos o nosso próprio futuro. O perigo chegou a Portugal, depois de vermos os estragos que fez pela Europa e pelas Américas. Daqui a muito pouco tempo, poderá haver mais poder para quem só dele quer abusar.
Tenho quase a idade do 25 de Abril. Envelheço com o horror de ver que a fragilidade da nossa democracia tem numerosos inimigos. Não da fragilidade, mas da democracia.
Um genocídio aqui tão perto. A Palestina é nossa vizinha. Vão-se as palavras, quando penso neste horror. A crueldade dos poderosos não tem desculpa. Tudo é feito às claras, com a consciência do sofrimento humano, com as indesculpáveis mortes dos inocentes. Aqui tão perto de nós, a vida não continua. É a morte o quotidiano.
Eis um dos clichés mais habituais da ficção estado-unidense: o pai, sendo o breadwinner da família, não tem tempo nenhum para a família. Passa o tempo a trabalhar para ganhar o pão que colocará na mesa. Isso cria tensões e ameaça mesmo a estabilidade da família. O casamento fica afectado ao ponto de poder gerar divórcio, os filhos sofrem com a ausência do pai. Nada é tão frequente nas histórias americanas como o pai que sucessivamente falha eventos escolares ou desportivos dos filhos, até aniversários, porque está a trabalhar.
Há séries inteiras construídas sob esta premissa, enredos de filmes, histórias premiadas com óscares e outras de menor qualidade. É uma premissa usada em todos os géneros, não só dramas familiares, mas thrillers, ficção científica, comédias, animação. Este cliché causa-me uma profunda aversão, não por ser cliché, mas pela ideologia que o sustenta.
Tal como a ideia do soldado relutante ajuda a promover a ideia da guerra, a ideia do pai que se sacrifica pela família ao ponto de a perder ajuda a promover a precariedade no trabalho. O que falta a todas estas histórias é a mais ínfima reflexão sobre a realidade americana, em que é normal acumular dois ou três empregos, só para poder pagar as contas da família. Pior, todos os problemas causados por esta fragilidade económica são vistos à luz do dilema do pai, passar mais tempo com a família mas ficar sem dinheiro suficiente para a sustentar ou ganhar dinheiro suficiente mas ficar sem tempo para a família?
É um falso dilema, ou melhor, há que o desmascarar em vez de o promover. Sendo um problema político, há que rejeitar tentativas de branquear responsabilidades políticas. A ficção é tão importante como a realidade, conta verdades que os factos só por si não atingem.