#001596 – 18 de Janeiro de 2024
Terapia, surfskate, ondas gigantes na Nazaré, planear biketrips.
Terapia, surfskate, ondas gigantes na Nazaré, planear biketrips.
Aprendi a andar de halfbike e surfskate, com 7 anos de diferença, nos mesmo 80 metros de asfalto.
No fundo, a história da minha relação com o meu próprio corpo é um inverso da história do patinho feio, que afinal se revelou um belo cisne.
Continuo a emagrecer devagar. Compenso o estrago que os medicamentos fazem. Quando era novo, por mais que comesse não deixava de ser magro. Agora que como de forma saudável, que não fumo e quase não bebo, que faço desporto diariamente, tenho as costas curvas, a barriga proeminente, o corpanzil de alguém que passa o dia no sofá.
Gosto de envelhecer. Sobretudo de desacelerar esta degradação do corpo. Estar ativo, ao me aproximar dos 50 anos de idade, é reinventar a lentidão, vesti-la de desporto, de ar livre, de mim.
Volto a ter os dentes todos. Ainda me estou a habituar a conseguir morder de novo sem complicações. Tão habituado estava às lacunas que me atrapalho com a recuperada competência da minha dentição.
Hiberno sempre que vem a chuva. Saio estremunhado para o sol, quando reaparece. Vou vivendo assim, ganhando e perdendo velocidade e motivação nos solavancos da luz.
Vem o sol e saio de skate à hora de almoço. Não chove, pedalo vinte quilómetros já de noite, barba e luvas a proteger-me um pouco do frio.
Hav, de Jan Morris, ou New Crobuzon, de China Miéville podem não existir. Mas são tão verdadeiras como a Lisboa de Saramago ou a Nova Iorque de Paul Auster. Dizem muito sobre os humanos e a forma como os séculos transformam um local habitado por pessoas. Disse Picasso: “Art is a lie which makes us realize the truth”. E escreveu Ursula K. Le Guin, sobre o ofício dos escritores, no seu maravilhoso prefácio a The Left Hand of Darkness:
I talk about the gods, I am an atheist. But I am an artist too, and therefore a liar. Distrust everything I say. I am telling the truth. The only truth I can understand or express is, logically defined, a lie. Psychologically defined, a symbol. Aesthetically defined, a metaphor.
Chuva e frio. E durante a tarde, trovoada perto a fazer tudo tremer, com estrondo bíblico, francamente assustador. As clarabóias a deixar ver apenas o cinzento opaco das nuvens.