Kroeber

#002015 – 03 de Dezembro de 2024

O teorema do macaco infinito sugere que um macaco a martelar de forma aleatória uma máquina de escrever para sempre acabaria por escrever todas as as combinações de letras possíveis, incluindo, por exemplo, as obras completas de Shakespeare. N' A Biblioteca de Babel, do Jorge Luis Borges, o narrador vive num universo em que cada pessoa vive numa sala com quatro paredes cobertas de prateleiras de livros. Os livros, vamos descobrindo, contêm todas as combinações possíveis das letras do alfabeto. Este conto de Borges é um exemplo de como funciona a construção de uma narrativa de ficção científica.

Se o ponto de partida for o teorema do macaco infinito, a ficção centrada no enredo cria uma crise para o macaco, fá-lo passar por peripécias e depois tem um desfecho. Já a ficção científica constrói um universo com a premissa, onde as personagens viverão. Em alguns casos, basta a construção, nem é necessária narrativa, como n' As Cidades Inviséis de Calvino. Noutras, existe a construção e também o enredo, como em Changing Planes, da Ursula K. Le Guin.

#002014 – 02 de Dezembro de 2024

Estou em mais uma fase de leitura de muito ensaio e pouca ficção. Continuo a surpreender-me com este tipo de cansaço, em que a imaginação está menos disponível. Aprender, curiosamente, é descansar a cabeça, quando estou assim. Imaginar é o que custa, que exige o solo às vezes árido das minhas ideias, infestado das ervas daninhas que, nesta metáfora, imagino serem os preconceitos.

#002013 – 01 de Dezembro de 2024

Somos, nós humanos, os que fazem perguntas. A Inteligência Artificial vai melhorando a qualidade e a rapidez das suas respostas, baseando-se no conhecimento acumulado da civilização humana. Mas o que é humano ultrapassa o conhecimento, está muito além do que a informação transmite. Somos os que vão atrás do desconhecido, os que complicam, interrogam, recusam, desconstroem, reinventam. Somos seres muito pouco algorítmicos.

#002012 – 30 de Novembro de 2024

Sumac e Moor Mother. Mais um bom exemplo da colaboração entre músicos do rock e do hip-hop. Em Portugal, gostaria muito de escutar uma colaboração entre os Névoa e o Nerve.

#002011 – 29 de Novembro de 2024

Sobre tanta gente acreditar em mirabolantes teorias da conspiração, transformando em crença política empedernida o rocambolesco e delirante, vale a pena lembrar a observação de Mark Twain: “it's easier to fool people than to convince them they have been fooled”.

#002010 – 28 de Novembro de 2024

Poucos locais reais me transmitem (através das descrições a que tive acesso) uma sensação de distopia como Kowloon. Enoclofobia, palavra que aprendi, seria um dos muitos medos que estes espaços densamente povoados me instigariam. Mas poderia, ao menos, escutar Kowloon Walled City, som que parece mesmo um grito de quem quer respirar, uma súplica de liberdade. Conheci a banda primeiro. E depois de saber a que se referia o nome, o tom da sua música fez ainda mais sentido.

#002009 – 27 de Novembro de 2024

Emagrecer deveria ser objetivo fácil para um autista. É quantificável e simples de medir, sem ambiguidades. Mas sou também bipolar, e avanço e recuo segundo a intensidade do meu entusiasmo. Ainda assim, vou emagrecendo. Ao fazer 50 anos quero estar mais saudável do que agora.

#002008 – 26 de Novembro de 2024

Escuto “Blood of a Pomegranate”. Danço por dentro, muito, e até por fora.

#002007 – 25 de Novembro de 2024

Em “In The Eye of The Storm” Varoufakis avisa que os fascistas, para ganhar poder, não têm de ganhar eleições. Basta-lhes forçar a narrativa, o centro político, mais e mais para a extrema direita. É já isto aquilo a que temos assistido, até em Portugal.

#002006 – 24 de Novembro de 2024

A caminho do oftalmologista. Passados 40 anos, volto a usar óculos.