#002005 – 23 de Novembro de 2024
Livros como The New Dinosaurs, que são descritos como obras de zoologia especulativa, mostram como a ficção influencia a ciência.
Livros como The New Dinosaurs, que são descritos como obras de zoologia especulativa, mostram como a ficção influencia a ciência.
Envelhecer tem sido andar a remendar o corpo. Dentes, varizes, espondilite, visão, joelhos, ombro, cervical, rins. Começo a compreender a atracção pelo imaginário cyborg. Dava mesmo muito jeito poder substituir peças deste corpo desengonçado e ferrugento.
Cantam os Lungfish: “O, the devil is a flower / Plucked from a cloud”.
“We will need writers who remember freedom”, Ursula K. Le Guin.
Content creator é uma expressão triste mas reveladora. Faz-me lembrar a crítica de Franco Berardi à promoção da ideia de nos conectarmos. Diz Berardi que só componentes se podem conectar, que uma conexão implica que os dois lados sejam compatíveis, análogos, que sejam semelhantes. E sugere, na tradução em inglês, conjunction em vez de connexion. Explica que uma conjunção (tradução trapalhona minha) não exige que as duas pessoas (instituições, comunidades, ideias, etc) sejam iguais e abre espaço a que se influenciem e transformem uma à outra.
Da mesma forma, nenhum conteúdo, por mais radical, humanitário, bem intencionado e genial, pode só por si mudar o meio em que é difundido. Conteúdo é, por definição, algo que não só não ameaça a estrutura que o difunde, mas a alimenta e sustenta. Não tendo a lucidez e sabedoria de Berardi, não sei que alternativa temos.
As selfies mudaram a perspectiva das fotos. Por defeito, uma foto é agora um instantâneo do eu. Uma selfie é o acto de alguém que aponta a câmara a si mesmo. Quando, antes, uma foto tinha a mesma direção do olhar: de dentro para fora.
O TikTok impulsionou uma outra mudança de perspectiva. Agora, em todas as plataformas digitais, a dança é algo que se faz virado para a câmara, em vez de ser um movimento com referência no quotidiano do nosso movimento, em que o corpo observa o que está em redor. Agora o olhar de quem dança está fixo na câmara.
Estas duas transformações significam que, por defeito, a representação é acto egocêntrico e tautológico (é a nós que representamos, nas fotos) e a performance é um acto libidinoso, focado no olhar do outro (por detrás da câmara). Por outras palavras, não nos interessa representar o mundo e não escapamos ao olhar do grande outro.
Do Soajo até Lindoso. Etapa em pleno Verão de São Martinho. Joelhos refrescados pela água gelada de um riacho, depois de muitos quilómetros.
Amanhã, o Gerês. A grande rota, garranos e cachenas, água, tudo verde.
A cobertura jornalística dos desacatos provocados por fãs do Maccabi Tel Aviv foi vergonhosa. Fica em causa o papel da imprensa nas nossas democracias. Tem sido desolador ver a força diplomática de país agressor que executa um genocídio de forma impune. Mas ainda assim foi surpreendente ver o spin fez de hooligans vítimas inocentes. E chocante ver como imagens dessas agressões foram usadas para ilustrar mentiras, para contar a história inversa do que aconteceu na realidade.