Não é o mundo que é pequeno. É a luz interior das pessoas que é vasta.
Conhecer alguém, um rosto de um novo infinito. Voltar a acreditar no mundo, pausar a descrença no próprio acto de acreditar.
Apercebo-me agora que, novo, era muito mais paciente. Era capaz de uma quietude, um encarar de frente o momento, que já não tenho, quase nunca. Fui mais forte, por resistir menos à realidade.
Na véspera de pedalar 75 kms até São Jacinto, conheço o João Magueta. Este atleta de 60 anos já correu e pedalou até à Figueira da Foz, desde a Gafanha da Nazaré, muitas vezes. Falamos de estar na floresta, de movimento, do investimento na ciclovia, enquanto no parque infantil os meus sobrinhos brincam. Ele tinha-se aproximado para avisar que havia um bocado de cimento por debaixo da areia. Tem um ar lúcido e sereno. Inspira-me a emagrecer, a continuar activo. Em alguns trails, Magueta subiu acima dos 3000 metros. Numa prova, talvez na Sierra Nevada, teve uma subida quase a escalar, em que foi preciso usar as mãos. Envelhece bem este homem, menos e melhor do que eu tenho envelhecido.
Há mais de 20 anos, mais ou menos por esta altura, o meu avô apontou o céu: centenas de meteoros caíam, eram provavelmente as Perseidas. Hoje, saí com a minha mãe em busca da superlua azul, tirámos fotos juntos, caminhámos debaixo de um céu mais luminoso que o habitual.
Assisto a “Lunana”. Ugyen, o jovem professor, depois da desilusão inicial com a modesta aldeia nos himalaias, decide ficar. Bebe um chá com o chefe da aldeia, Asha, que lhe diz que parece haver uma ligação cármica. Ugyen concorda, chega a dizer que deve ter sido um pastor de iaques numa vida passada. A resposta do chefe é um rasgado elogio, diz-lhe que não, que foi mais que um pastor de iaques, talvez tenha sido um iaque.