Kroeber

#002195 – 02 de Junho de 2025

Foram necessários 4 mil milhões de anos de evolução para nós, humanos existirmos. Segundo Sara Imari Walker é por isso que não somos redutíveis aos átomos que nos constituem. Ao fazê-lo estamos a eliminar as linhagens que nos trouxeram até aqui e a evolução necessária.

#002194 – 01 de Junho de 2025

Plutão e Caronte. Só hoje descobri que faz pouco sentido falar de Plutão sem falar de Caronte. A tamanho da minha ignorância continua a crescer, esse litoral da ínfima ilha das coisas que sei.

#002193 – 31 de Maio de 2025

Josh Johnson a curar feridas, o riso a fazer ruir as crostas do medo.

#002192 – 30 de Maio de 2025

Owen Jones a apontar o dedo à cumplicidade dos meios de comunicação com o genocídio em Gaza. A verdade morde-nos os olhos, diariamente.

#002191 – 29 de Maio de 2025

Ler é tão estranho. A linguagem é o humano em construção. Ler é ganhar abstração mas também tocar nas partes muito concretas que existem no íntimo graças à linguagem. Escrever é ler meditando. É, como a meditação, esse processo frustrante e edificante em que se pára sempre, depois de meros segundos de conexão com o íntimo, se corrige caminho, se emenda, se repara nos sulcos em que se derrapa repetidamente. A linguagem só por si parece dar origem à consciência. Edgar Morin parecia convencido de que as crianças desprovidas de linguagem não eram inteiramente humanas. E frequentemente escutamos que a desconhecida história do surgimento da linguagem humana coincide com o aparecimento dos humanos. Talvez isto ajude a explicar a superstição dos que acreditam que um programa de computador um dia se tornará consciente. Sobretudo os large language models têm inspirado esta crença de algumas pessoas que a inteligência artificial irá emergir. Começámos por usar a expressão, colocando a carroça à frente dos bois. Mas os bois também empurram e os senhores tecno-feudais são muito proficientes na arte de empurrar problemas com a barriga. E mais ainda em criar problemas para depois nos venderem soluções.

#002190 – 28 de Maio de 2025

O ombro que não melhora, o humor a acelerar colina abaixo. Sísifo que olha a pedra a rolar, sento-me a olhar a paisagem, cabeça demasiado caída para ver o céu.

#002189 – 27 de Maio de 2025

Still House Plants a acordar o meu sistema nervoso central.

#002188 – 26 de Maio de 2025

Gosto do jazz de elevador da sala de espera do nutricionista. Esqueço-me sempre que vai haver este background sonoro, discreto e funcional. Mas agrada-me sempre. É uma brisa acústica, sem flutuações de intensidade ou direção, um fluxo de decibéis constante e que funciona, sendo muito menos irritante do que a sua descrição sugere. O elevador do prédio em que vivi em Atenas tinha música de elevador. Vivia no primeiro andar, mas cheguei a andar de elevador só para escutar uns segundos aquele som. Agora pergunto-me se seriam faixas adquiridas à Muzak. Já quanto ao som na sala de espera, estou convencido de que é uma playlist do Spotify. Antes de ler Mood Machine nunca tinha pensado na proveniência desta música funcional.

#002187 – 25 de Maio de 2025

Os instrumentos de Hans Tschiritsch, o sol da primavera.

#002186 – 24 de Maio de 2025

A ideia de white fragility é uma “Kafkatrap”, uma vez que qualquer crítica à ideia de white fragility é recebida como prova de que a pessoa que resiste a essa ideia está precisamente a demonstrar white fragility. A geração que acolheu esta forma de activismo e sensibilidade (que defende a interseccionalidade das identidades como agregador político em vez da luta de classes) é a que mais sofisticação demonstra no que toca a falar das emoções. Isso enche-me de esperança. É que a geração que popularizou a expressão gaslighting está especialmente preparada para reparar que o discurso de personagens como Robin DiAngelo é indecoroso gaslighting. Seja com a terminologia da lógica e a sua taxonomia das falácias, com um posicionamento de sensibilidade e empowerment ou até com a filosofia de Harry Frankfurt no seu “On Bulshit”, há que identificar quem nos tenta manipular com discursos carregados emocionalmente e intelectualmente desonestos. Sim, o racismo existe e infelizmente parece até estar em crescimento. Mas Robin DiAngelo não tem nada a ensinar-nos. Leiamos antes as irmãs Fields e o seu “Racecraft: The Soul of Inequality in American Life”, ou James Baldwin, Walter Benn Michaels, Jennifer Pan.