É sempre em retrospectiva que aprendo o que quero fazer, que me apercebo do que estou a fazer, que entendo o que não quero fazer. É sempre tarde demais que cresço, já torto, e olho para o torto que estou. Tarde demais acaba por se tornar chão e tudo o resto daí deriva: o inevitável, o irredutível e o impossível perdem, pela repetição, a força toda dos seus prefixos. Nunca passa a ser “um dia”. Tarde apenas refere “agora”.
Miéville, generoso, fala dos seus escritores favoritos. Assim conheci Mervyn Peake, Michael Cisco, Jenny Hval e M. John Harrison.
Aproxima-se Maio e a viagem a São Miguel. Estranho escrever num diário sobre o que ainda não aconteceu. Quer dizer, tirando a frase anterior.
Mickey 17 é deliciosamente relevante. Sátira tão fecunda é geralmente sinal de trampa abundante. O CEO da história parece precisamente uma fusão entre Trump e Musk. E o contexto político americano, com bizarrias como o neo-monarquismo e figuras pegajosas e desonestas como Curtis Yarvin, é um estrume particularmente potente.
Foi há 21 anos que comecei o meu blogue. Fiz as contas várias vezes até escrever finalmente a frase. É difícil de acreditar que o tempo passou tão rápido. Esta aceleração, dizem, só vai ganhar vertigem. Daqui a 126 dias faço, espero, 50 anos. Outra frase simples mas difícil de conceber.
Diz a professora de viola, ao começar a ensinar teoria musical, que um teclado é como uma calculadora musical. Pela primeira vez na vida, penso em comprar um piano eléctrico. Até me decidir, vou usando teclados virtuais, para me familiarizar com os intervalos, bem mais evidentes nas teclas brancas e pretas que no braço de uma guitarra.
A liberdade de Lea Ypi, os monstros de China Miéville, a minha bicicleta.